“Figura senil e ultrapassada”. É assim que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) descreveu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em entrevista concedida à revista Veja. Bolsonaro criticou o governo petista e se defendeu das acusações que tem sido atribuídas a ele, em meio a inquérito que apura atos antidemocráticos no país, no Supremo Tribunal Federal, e depoimentos prestados à Polícia Federal.

Bolsonaro afirmou que vive uma fase em que não quer problemas, “apenas o bem do país”, e confia que a gestão de Lula vai mostrar aos eleitores que a escolha pelo PT nas urnas foi errada. “É só a gente ficar quieto que ele faz a nossa campanha para o futuro”, projetou.

Na entrevista, o ex-presidente comentou as polêmicas envolvendo o seu nome, especialmente desde que deixou o Palácio do Planalto. Bolsonaro confirmou que esperava algum tipo de perseguição, mas não como está ocorrendo, e classificou a intensidade da pressão como “um esculacho”.

Perseguição

Ao longo da entrevista, Jair Bolsonaro adotou tom menos polemizador em algumas questões, como quando fala sobre suposta perseguição promovida pelo STF. Ele afirmou não querer polemizar na área, mas destacou que está ocorrendo uma “conscientização no Brasil” que traz críticas à atuação do Judiciário e que não é preciso “ser muito inteligente para saber de onde vem o problema”, sem apontar responsáveis.

Nesse sentido, ele garante que não tem medo de ser preso, mas chama atenção para a prisão da ex-presidente boliviana Jeanine Áñez, acusada de atos democráticos. Ainda assim, ele diz que para ser preciso precisaria ter feito ao menos 10% do que ele fez, em referência ao presidente Lula. “Eu fiz 0%”, garante.

Fraudes em vacinação

O ex-presidente voltou a dizer que não tem envolvimento nenhum com fraudes em cartão de vacina em 2022 e que nunca precisou do imunizante para entrar nos Estados Unidos. Em sua defesa, Bolsonaro tenta inverter o jogo e provocar desconfiança de Lula e do governo atual, ao mencionar uma outra falsificação, ocorrida ainda no ano anterior. “Ninguém está investigando aquela outra que aconteceu em 2021. Alguém entrou no sistema usando o endereço “lula@gmail” para falsificar meu cartão de vacina. O cara pode ser ligado ao PT”, considerou.

Bolsonaro também comentou a relação com o tenente-coronoel Mauro Cesar Cid, preso responsabilizado pela fraude nos cartões de vacina, e protegeu o ex-ajudante de ordens, garantindo que nunca teve motivos para desconfiança. “Não quero acusá-lo de nada. Eu tenho um carinho muito especial por ele. É filho de um general da minha turma, considero um filho”, pontuou.

Segundo o ex-presidente, Cid atuava em mediações com parlamentares, organização de missões encaminhdas e movimentação de contas. Apesar disso, garante Bolsonaro, o militar não interferia ou participava de decisões do governo e nunca se envolveu em transações financeiras ilícitas. “Isso não vai ter”, garantiu Bolsonaro.

Para Bolsonaro, as pessoas podem descartar qualquer expectativa das autoridades encontrarem traços de corrupção e ilicitude, pois a possibilidade é nula. “Quando se fala em comprometedor, as pessoas pensam logo em dinheiro, em alguma coisa ilícita. Zero, zero. Isso não vai ter. Há certamente conversas que envolvem segredos de estado. Vazar isso, como tem sido feito, é muito grave”, condenou.

Golpe

Em relação a suposto envolvimento com articulações golpistas no país, Bolsonaro descartou qualquer envolvimento. Mesmo reconhecendo que diálogos nesse sentido ocorreram nos seus arredores, o ex-presidente minimizou as intenções, classificando as propostas como “desabafo de alguns”.

Bolsonaro afirma que ninguém realmente defendia golpes, apenas “estavam revoltados com essa situação de interferências no Executivo”. De acordo com o ex-presidente, ele sempre reiterou que o governo deveria “jogador dentro das quatro linhas” a fim de manter a imagem do Brasil perante o mundo e evitar que o país pudesse “virar uma Venezuela mais rápido do que o PT conseguiria com a desgraça econômica que se está pintando no horizonte”.

O ex-presidente ainda criticou as menções à relação de amizade com o major reformado do Exército Ailton Barros, investigado por articular ações golpistas. Bolsonaro classificou a questão como “ridícula” e chamou o ex-militar de “coitado”. “Duas vezes por ano tinha encontro de paraquedistas e ele estava lá. Se você conversar com ele, em trinta segundos já não quer mais conversa. Ele mandou um áudio para alguém dizendo que mobilizaria 1.500 homens para um golpe, coisa assim. O Ailton não mobiliza meia dúzia de jogadores de dominó. É um coitado”, criticou.