Por conta das características políticas de Goiás, o desafio de criar uma base de apoio no Estado para um governo federal de centro-esquerda, como é (ou quer ser) o de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é considerável. Não é tarefa fácil.

Nesse sentido, a votação da medida provisória nº 1.154/23 – a MP dos Ministérios, como ficou conhecida – serviu para começar a “traduzir” como deverá ser o comportamento dos 17 deputados federais do Estado nas votações fundamentais para o governo. No caso, uma derrota significaria a implosão da Esplanada, com seu encolhimento de ministérios para a estrutura que havia na gestão de Jair Bolsonaro (PL).

Mas o governo venceu. O placar dilatado, de 337 votos a 125, não significa nada de fidelidade ao lado lulista. É apenas mais uma demonstração de que o Centrão continua controlando a coisa toda.

A adesão de deputados dos partidos aliados – ou seja, aqueles que têm ministérios na Esplanada – é, no Estado, bem menor do que a média nacional. Por questão de compatibilidade programática de partidos, noves fora as negociações de coalizão, o Planalto deveria poder contar naturalmente com três votos goianos: obviamente, de Adriana Accorsi e de Rubens Otoni; e também o de Flávia Morais, do PDT, mas, no “fio do bigode” ideológico, só sobram mesmo os dois petistas, já que Flávia é muito mais pragmática do que ideológica.

Os demais do grupo de partidos que estão contemplados no primeiro escalão que têm representação na bancada de Goiás na Câmara dos Deputados são União Brasil (com Silvye Alves e Zacharias Calil), MDB (com Célio Silveira e Marussa Boldrin) e PSD (com Ismael Alexandrino).

Na ponta contrária da polarização, estão os votos com que a trupe de Lula não deve contar de forma alguma. Deveriam ser os do PL, PSC, pP, PSDB e Republicanos. Em Goiás, são nove deputados federais dessas siglas: quatro do PL (Gustavo Gayer, Professor Alcides, Magda Mofatto e Daniel Agrobom), dois do pP (Adriano do Baldy e José Nelto) e um dos três restantes – a saber Glaustin da Fokus (PSC), Lêda Borges (PSDB) e Jeferson Rodrigues (Republicanos).

Em tese, se houvesse estreito compromisso dos parlamentares com o partido estar na situação ou fora dela, o placar em Goiás teria de ter sido, então, de 9 a 8 desfavorável ao governo. Na apuração, porém, foram 11 votos pró-Lula e 6 contrários. Um parlamentar “traiu” a base governista: Zacharias Calil (UB), que na verdade já se colocou claramente como oposição ao PT. Na verdade, por tudo o que separa União Brasil e PT em Goiás, surpreende mais o voto “positivo” de Silvye, o nome do partido e de Ronaldo Caiado para a disputa em Goiânia.

Do outro lado – das adesões de deputados de partidos, em tese, da oposição – vieram quatro votos: os dos pepistas Adriano do Baldy e José Nelto, o da tucana Lêda Borges e o do republicano Jeferson Rodrigues.

Até pela pauta que estava sendo votada, pode-se depreender que esse placar é o “máximo” que Goiás pode dar no momento para Lula. Não é pouco, por vir de um Estado com uma estrutura de poder tão avessa ao PT.