Virtudes e problemas dos 4 “candidatos” a presidente da Assembleia Legislativa de GO

23 outubro 2022 às 00h00

COMPARTILHAR
A batalha pela presidência da Assembleia Legislativa está nas ruas e não apenas nos bastidores. O presidente da Alego, Lissauer Vieira (PSD), está convocando deputados para “conversas animadas”, de acordo com um deputado estadual recém-eleito. “Ele está dizendo que seu candidato é Virmondes Cruvinel, do União Brasil, e que Bruno Peixoto, do União Brasil, não tem nenhuma chance — assim como Lincoln Tejota e Renato de Castro”, afirma o parlamentar.
Recentemente, Lissauer Vieira demitiu auxiliares que são, politicamente, ligados ao presidente do PSD, Vilmar Rocha. Teria apresentado a seguinte explicação: os vilmaristas não teriam trabalhado na campanha de “seu” candidato a deputado federal, Dannillo Pereira, do PSD. De fato, o vice-prefeito foi derrotado, mas obteve boa votação, mas muito mais graças ao empenho do prefeito de Rio Verde, Paulo do Vale (União Brasil), e não a Lissauer Vieira, que parecia ter apenas um candidato no pleito de 2022 — exatamente Virmondes Cruvinel. “Na verdade”, postula um deputado, “as demissões visam arranjar espaço para aliados de Virmondes Cruvinel. Não têm nada a ver com Dannillo Pereira, por quem Lissauer — que não gosta do prefeito de Rio Verde, Paulo do Vale (União Brasil) — não nutre grande estima”.

Durante bom tempo, Lissauer Vieira tratou o presidente do MDB, Daniel Vilela, como adversário, e até “inimigo”. Pois agora o vice-governador eleito, a pedido do governador Ronaldo Caiado (União Brasil), é o operador, da parte do governo, da disputa na Assembleia. Daniel Vilela não considera Virmondes Cruvinel como “adversário” ou “inimigo”. Porém, como bancar para presidente da AL um aliado de Lissauer Vieira? Não há lógica. Todos consideram o deputado como um “bom moço”, mas acrescentam que escolheu o padrinho errado, que, aos poucos, está se tornando um “morto político”. Ainda é forte, mas está perdendo substância.
Bruno Peixoto, que nem é muito confiável para os deputados — e talvez para ninguém —, pode acabar se tornando presidente da Alego. Porque tem menos arestas, por exemplo, com Daniel Vilela. Lincoln Tejota e Renato de Castro, ambos do União Brasil, também estão no páreo.

Comenta-se que o presidente da Alego será do União Brasil e o vice será do MDB, possivelmente Issy Quinan.
O que todo mundo diz é o seguinte: na disputa deste ano, a mão do governador Ronaldo Caiado será realmente sentida. “Só vai ganhar aquele que tiver a aprovação total do governador”, afirma um influente deputado.
A lista a seguir está disposta em ordem alfabética, e não de favoritismo.
1
Bruno Peixoto/União Brasil
Virtudes — O deputado é filiado ao União Brasil e foi o deputado mais votado do pleito deste ano.
Trata-se de um político articulado — tanto que obteve uma votação gigante. É político em tempo integral, não tem preguiça. E seus aliados fazem uma pergunta pertinente: se serviu para ser líder do governo, por que não servirá para ser presidente da Assembleia Legislativa?
No momento, é o que mais articula e já conversou com vários deputados, pedindo voto abertamente. Ele, pode-se dizer, saiu na frente.
Bruno Peixoto não tem arestas a aparar com Daniel Vilela (os demais “candidatos” têm). Tanto que pode acabar sendo apoiado e até bancado pelo presidente do MDB. De alguma maneira, no momento, é o favorito. Em suma, está na frente, com os adversários na cola.
Problemas — Um dos entraves à articulação de Bruno Peixoto é a até hoje mal explicada CPI da Saúde, que foi “criada” para tentar atrapalhar a reeleição de Ronaldo Caiado. Há quem postule que um diretor da Assembleia, Rubens Sardinha, teria participado da articulação, com anuência de Lissauer Vieira, para “aprová-la”. Porém, não há evidência robusta de “dolo”. Mas fica a pergunta: por que, como líder do governo — que tem maioria na Assembleia —, Bruno Peixoto não operou para, de cara, barrá-la? Por que agiu tardiamente? Há quem diga que a operação, associada a Lissauer Vieira, visava exatamente prejudicar sua campanha e sua imagem junto ao governador. Naquele período, de acordo com uma tese, o presidente da Assembleia já articulava a candidatura de seu pupilo, Virmondes Cruvinel. Porém, até que se prove o contrário, pode ser mera teoria conspiratória, tão em voga.
Entre os deputados fala-se que Bruno Peixoto não é confiável e não cumpre acordos. Repete-se muito que tem o hábito de blefar.
Outro problema é que sua “campanha” para presidente da Assembleia estaria sendo articulada, nos bastidores, por um vereador que não é bem avaliado no Palácio das Esmeraldas.
2
Lincoln Tejota/União Brasil

Virtudes — O vice-governador se elegeu deputado estadual, com boa votação, e pelo União Brasil. Como vice-governador, nunca criou problemas para o governador Ronaldo Caiado. Foi e é leal ao chefe do Executivo. É um político discreto e eficiente.
Lincoln tem experiência, pois já foi vereador, deputado estadual e é vice-governador. Articula com habilidade, quase sempre nos bastidores.
Problemas — Consta que seu principal problema é o fato de que o pai, o conselheiro Sebastião Tejota, mesmo não sendo o presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), é um dos principais operadores do órgão. O que se diz é: por que o governador “daria” dois “poderes”, a Alego e o TCE, para a família Tejota?
Há quem postule que, magoado por não ter continuado na vice de Ronaldo Caiado, Lincoln Tejota, se assumir a Alego, e tendo a força do pai no TCE, tente pressionar e jogar contra o governo. Há sempre o risco. Por que o gestor estadual irá corrê-lo se pode escolher um caminho menos arriscado?
3
Renato de Castro/União Brasil

Virtudes — A primeira virtude é a mesma de Bruno Peixoto, de Lincoln Tejota e de Virmondes Cruvinel: é filiado ao União Brasil.
Na dura campanha de 2018, Renato de Castro e seu pai, Fião de Castro (Manoel Castro de Arantes), ficaram ao lado de Ronaldo Caiado. Em 2022, o ex-prefeito de Goianésia resistiu, porque não queria apoiar uma aliança com Daniel Vilela, mas acabou convencido pelo genitor e pelo governador a permanecer na aliança — mostrando lealdade.
Ronaldo Caiado aprecia tanto Fião de Castro quanto Renato de Castro. Há quem acredite que pode ser o “presidente-surpresa”.
Problemas — Se Daniel Vilela é o coordenador da disputa na Assembleia, por que vai apoiar aquele que fez tudo para impedir que fosse vice de Ronaldo Caiado? É complicado. Portanto, para obter o apoio do governador, Renato de Castro tem de aparar, antes, as arestas com o vice-governador eleito (por sinal, os dois já foram amigos).
Renato de Castro, de todos os candidatos (ou pré-candidatos), é o que menos articula, optando pelas franjas do Palácio das Esmeraldas, o que pode não ser positivo. O fato de não estar na Assembleia, embora já tenha sido deputado, também não o ajuda. Até o momento, não tem um padrinho dentro da Alego. Se quiser ser presidente, precisa ter.
Se sua candidatura estiver mesmo sendo articulada por um grupo que opera para “afrontar” Daniel Vilela, sua situação fica ainda mais complicada. Ele teria sido advertido a respeito por um aliado bem próximo de Ronaldo Caiado. “Tal caminho é o mesmo que caixão e vela preta”, alertou.
4
Virmondes Cruvinel/União Brasil

Virtudes — Pesa a seu favor o fato de que gente graúda do governo o avalia como um político qualitativo, capaz de gerir a Assembleia Legislativa sem tropeços e escândalos. É articulado, tem discurso e é respeitado.
Se não tem alta aprovação dos colegas deputados, o parlamentar, até por sua discrição e respeito aos pares, não tem grandes arestas. Suas arestas, se há, derivam muito mais de aliança com Lissauer Vieira. Há quem postule que sua posição supostamente “subserviente” ante o presidente da Assembleia Legislativa não é vista como positiva.
O deputado mantém fortes ligações com segmentos organizados da sociedade goiana e mantém uma aliança sólida com vários prefeitos.
O fato de ser filiado ao União Brasil, partido do governador, é outro trunfo.
Problemas — Avalia-se que um mandato para Virmondes Cruvinel é o mesmo que conceder um terceiro mandato para o presidente da Assembleia Legislativa, Lissauer Vieira. Sua ligação será sempre mais forte com seu articulador do que com o governador Ronaldo Caiado.
Circula, no meio governista, que Virmondes Cruvinel, nas votações mais difíceis de projetos do governo — sobretudo quando diziam respeito ao funcionalismo público —, se omitia ou até se posicionava contrário.
A proximidade com Lissauer Vieira, seu padrinho político — estaria até nomeando “aliados” do deputado reeleito para cargos na Assembleia —, deixa Virmondes Cruvinel fragilizado junto ao MDB. Como se sabe, o governador Ronaldo Caiado escalou o vice-governador eleito Daniel Vilela para articular a disputa da Assembleia. O político de Rio Verde trabalhou, durante bom tempo, para tentar impedir que o filho de Maguito Vilela se tornasse candidato a vice do líder do União do Brasil. Na política não é hábito retribuir dando a outra face.
Portanto, a força de Virmondes Cruvinel advém de sua aliança com Lissauer Vieira, mas também, quiçá sobretudo, sua fraqueza. Arranjar um articulador cuja “tinta” da caneta está “acabando” é sinal de falta de percuciência e não ter uma visão clara do jogo político real.