Vilmar Rocha: “Há espaço para o centro em 2026 e Daniel Vilela é mais forte do que Wilder Morais”
03 novembro 2024 às 00h48
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O ex-deputado federal Vilmar Rocha, do PSD, raciocina como político e, ao mesmo tempo, como cientista político. É um intérprete agudo dos fatos. Entrevistado pelo Jornal Opção na sexta-feira, 1º, analisou as eleições em termos de Goiás e do país.
“Deus, afinal, está nos detalhes, já disseram. Então, vale atentar-se para um aspecto: os eleitores estão começando a se desencantar com os extremismos políticos. Por isso, estão pensando com mais racionalidade sobre o que é melhor para o Brasil”, postula o ex-presidente do PSD em Goiás.
“A radicalização perdeu impulso. A polarização em si não é ruim. O problema é o extremismo. Ruim para a democracia é quando um polo, no lugar de buscar a convivência com os adversários, planeja destruí-los, ou seja, os trata como ‘inimigos’. Na democracia, é um truísmo, não se tem inimigos, e sim adversários”, assinala.
Vilmar Rocha postula que “a violência, que leva à desqualificação destruidora da imagem do adversário, não é do espírito do brasileiro, que concilia e agrega. O brasileiro não é radical. A eleição de 2024 sugere que o rio está voltando a leito natural, o da moderação”.
De acordo com Vilmar Rocha, o bolsonarismo, mais do que um “movimento” consistente, “foi e é mais uma reação ao PT do presidente Lula da Silva. Para rejeitar o petismo, os eleitores caminharam para a direita extremista e, até, golpista”.
“A força de Jair Bolsonaro pode ser, então, menos consistente do que se imagina. Fez um verão, mas fará outro? Talvez não”, especula Vilmar Rocha.
Como será 2026 em nível nacional
“O bolsonarismo pode ruir por falta de consistência, mas a esquerda enfrenta outro problema: a decadência de Lula da Silva. Falo da decadência física, que atinge qualquer um, não apenas o petista, mas também do declínio político. Ele tem 79 anos e, em 2026, terá 81 anos. Se for reeleito, terminará o governo com 85 anos. Já é o presidente mais velho da história do Brasil”, assinala o líder do PSD.
“Acrescente-se que o PT também envelheceu, talvez esteja mais velho, em termos de mentalidade, do que o próprio Lula. O PT não tem mais projetos para o Brasil. Perdeu o link com a sociedade real, notadamente com os mais jovens. As políticas de transferência de renda esgotaram-se. Os programas sociais não foram reinventados, não são efetivamente inclusivos — permaneceram meramente assistenciais. Não criam mais expectativa de mudança, de um novo rumo para as pessoas. A sociedade quer algo novo, principalmente os jovens, que querem empreender, e não ficarem na dependência do Estado. Esquerda, direita e centro têm de ficar de olho nisto: a sociedade está se movendo para um lado, avançando, e os políticos estão na contramão da história”, anota o ex-parlamentar.
“O que era Guilherme Boulos em São Paulo? Lula da Silva quis inventar, na base da proveta, digamos assim, um novo Lula da Silva e, claro, não deu certo. Boulos, até fisicamente, se parece com o presidente quando mais jovem.”
“Na direita, o bolsonarismo está se esgotando. Então, insistindo, vai surgir, está surgindo, algo na linha da moderação, da abertura ao diálogo. Vai aparecer algo novo. Tipo o perfil do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que é o bolsonarista menos bolsonarista que conheço. Digamos que ele está bolsonarista, por uma questão eleitoral, mas, a rigor, tem pouco a ver com a tropa de choque de Jair Bolsonaro.”
Vilmar Rocha tem examinado a fala do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil. “O político goiano percebeu que Bolsonaro não vai apoiá-lo para presidente, o que pode ser positivo para ele, e não negativo. Por isso, está buscando abrir espaço na direita moderada e no centro. O próximo presidente certamente terá um perfil mais moderado, na linha da centro-direita. Os radicais podem até fazer muito muito barulho, mas os eleitores estão percebendo que não são gestores e conturbam o país.”
Gilberto Kassab como articulador político
Se Lula da Silva e Jair Bolsonaro “fracassaram” como líderes nacionais, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, saiu com imagem positiva da disputa eleitoral de 2024.
Vilmar Rocha diz que, “de fato, Gilberto Kassab demonstrou habilidade e competência na condução do PSD. O partido se tornou, por assim dizer, mais nacional. Ele trabalha bem o pragmatismo da política atual”.
Porém, enfatiza Vilmar Rocha, “falta ao PSD um eixo programático. A fidelidade a um eixo-programático, ou seja, identificar o partido com ideias importantes para o Brasil”.
“Para um partido ter longevidade, enraizar-se no país e na sociedade, como o MDB, não basta eleger centenas de prefeitos pelo país afora. Não é isto que fortalece, a longo prazo, um partido. O centro político precisa de uma proposta clara e objetiva para o povo. É preciso dizer: ‘Nós queremos fazer isto e mais isto’. O PSD precisa ser um partido de causas, não de casos esporádicos e pessoais que, brilhando aqui e ali, se apagam adiante, às vezes por falta de um ideário consistente. Os ‘vagalumes políticos’ não duram muito tempo — é o caso de Bolsonaro.”
Então, sublinha Vilmar Rocha, “uma vitória tem de ser não apenas eleitoral. Precisa ser política. A vitória eleitoral precisa ser sedimentada pela política, por um ideário sólido”.
O espaço para o centro político
Para Vilmar Rocha, é evidente que há um espaço aberto para o centro político, para a moderação democrática e consistente em termo de ideário. Por que todo mundo, da direita para a esquerda, quer o apoio do centro? Porque o centro, por representar a moderação da maioria dos brasileiros, tem força política. Por isso, no lugar de apenas apoiar, o centro precisa forjar um candidato para disputar a Presidência da República”.
“Entretanto, não basta ser moderado e democrático. O centro precisa de um discurso atualizado, um ideário definido, e um nome para liderar o projeto político-eleitoral. Tarcísio de Freitas é filiado ao Republicanos, mas, se marchar para o centro e sem perder o apoio da direita civilizada, pode se tornar o líder, que, a rigor, ainda não é. Ronaldo Caiado tem mais experiência e é bem articulado. O país está de olho no político goiano. O anti-Lula e anti-Bolsonaro pode cair no gosto dos eleitores.”
Se não tiver Lula da Silva em 2026, o que fará o PT? “O partido terá de ir com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele já foi ministro da Educação, agora é ministro da Fazenda e já foi prefeito de São Paulo. Portanto, é maduro. Trata-se de um quadro intelectualmente sofisticado do partido. Portanto, sem Lula da Silva, é o primeiro da fila. Não há outro. Os ex-governadores do PT, os do Nordeste, não têm experiência nacional. São quadros importantes do PT, mas não são líderes nacionais. Muitos deles estão ‘batendo-cabeça’ no governo federal, tendo de ser moderados por Lula da Silva e pela realidade.”
Vilmar Rocha diz que nunca deu importância a Pablo Marçal. “É fogo de palha. Na hora agá, mostrando racionalidade, o eleitorado de São Paulo deu um chega-pra-lá no direitista imoderado. Está passando a fase deste tipo de político, que é, no fundo, um Jair Bolsonaro mais midiático e irrequieto. Pablo Marçal e Bolsonaro produzem muito calor, mas pouca luz.”
2026 em Goiás: a vez de Daniel Vilela?
“O quadro de 2026 ainda não está definido, é claro. Mas, no momento, pode-se falar em possíveis quatro candidaturas ao governo de Goiás. Primeiro, o candidato do governo. Segundo, um candidato do PL. Terceiro, um candidato do PT. Quarto, um candidato a ser definido. Há eleitores que não querem o PL, o PT e o governismo. Portanto, há espaço para um uma pessoa nova, de centro-direita, com perfil de independência políticos.”
Vilmar Rocha sustenta que “Daniel Vilela é o que tem o melhor figurino para ser governador. Porque, embora jovem, já tem experiência política. Ele foi vereador, deputado estadual, deputado federal, é vice-governador e é presidente do MDB. Ele está indo bem como vice-governador e vai assumir o governo por nove meses. Seu pai, Maguito Vilela, foi e é uma referência positivo para o emedebista. No quadro atual, é o melhor nome”.
“Não vejo Wilder Morais, do PL, como governador de Goiás. As eleições do senador foram circunstanciais, não se originaram de sua força política. Não ganhou por mérito próprio. Primeiro, foi suplente de Demóstene.s Torres. Em seguida, foi eleito pela onda bolsonarista. Em 2026 é bem provável que, sem a onda, ele acabe se tornando um mero figurante, e não um protagonista. Candidato a governador não pode ser apadrinhado o tempo todo. Precisa ser visto como um personagem político independente pelos eleitores.”
Vilmar Rocha sugere que o PT “só tem Adriana Accorsi. É deputada federal, bem votada em Goiânia e tem a referência de ser filha de Darci Accorsi, que foi prefeito de Goiânia. Edward Madureira e Kátia Maria são políticos qualitativos. Podem não ganhar, mas ajudarão o PT a eleger uma bancada de deputado estadual e deputado federal. Um deles pode ser candidato a governador. Tenho conversado com Kátia Maria e a percebo como uma política consistente e séria.”
“Há três nomes do empresariado que, não sendo nem adeptos de Ronaldo Caiado nem de Bolsonaro, podem ser candidatos a governador? No momento, não vejo nenhum. Mas a realidade muda, às vezes rapidamente”, diz, de maneira enigmática, Vilmar Rocha. (Euler de França Belém)