Missão de Daniel Vilela será levar o partido para o caminho do realismo político, não para a estrada dos que oferecem Romanée-Conti para Gustavo Mendanha

Gustavo Mendanha e Daniel Vilela: os dois jovens políticos vão jogar fora a experiência e a história política de Iris Rezende? | Foto: Jackson Rodrigues/Prefeitura de Goiânia.

Na eleição de 2018, um mandato de governador, dois mandatos de senador, 17 mandatos de deputado federal e 41 mandatos de deputado estadual foram disputados em Goiás.

O MDB foi para a disputa dividido. Parte de seus filiados mais expressivos, como Renato de Castro (de Goianésia), Paulo do Vale (Rio Verde) e Adib Elias (Catalão), todos prefeitos em 2018, apoiou a candidatura de Ronaldo Caiado para governador.

Ronaldo Caiado foi eleito no primeiro turno — com 59,73% votos válidos (no total 1.773.185 votos). Uma vitória maiúscula. O candidato do MDB a governador, Daniel Vilela, obteve apenas 16,14% dos votos (no total 479.180 votos). Uma diferença abissal.

O MDB não elegeu o candidato a governador, nenhum candidato a senador (fez um suplente, que não assumirá), nenhum deputado federal e apenas três dos 41 deputados (Paulo Cezar Martins, Bruno Peixoto e Humberto Aidar — os dois últimos ligados a Ronaldo Caiado). Um resultado, do ponto de vista eleitoral, catastrófico.

Gustavo Mendanha e Marconi Perillo: as ilusões do luxo do vinho Romanée-Conti | Foto: Divulgação da Prefeitura de Aparecida de Goiânia

Em 2022, há duas questões a considerar. Primeiro, Ronaldo Caiado tende a estar ainda mais forte, por ser governador e, sobretudo, por ser hábil na articulação política. Sua frente política tende a ser ampliada. Segundo, Iris Rezende, ainda o maior nome do MDB em Goiás — foi governador, senador, prefeito —, já anunciou que apoiará sua reeleição. Ao seu lado, estarão emedebistas históricos, que até podem não ter poder de comando no partido, mas ainda têm alguma força política e conexão com a sociedade civil. Iris Rezende, por exemplo, deixou a Prefeitura de Goiânia, no final de 2020, com uma avaliação altamente positiva. Ele é uma referência política na capital — a cidade que tem o maior eleitorado de todas as cidades, quase 1 milhão de eleitores (muito maior do que os eleitorados de Aparecida de Goiânia e Anápolis juntos) — e, ao subir no palanque de Ronaldo Caiado, o fortalecerá. Fará a diferença, inclusive simbólica.

Portanto, o MDB que tem história na política de Goiás já está com Ronaldo Caiado. Se o partido lançar candidato, o MDB mais uma vez ficará dividido. E, de novo, poderá não eleger nenhum deputado federal e ainda menos deputados estaduais, além de nenhum senador. O partido, dependendo do resultado da eleição, poderá virar pó. O que aumenta a responsabilidade de Daniel Vilela ante o discurso dos profetas do apocalipse (que, às vezes, estão preocupados com suas questiúnculas locais, mas não com o partido como um todo).

Embora jovem, Daniel Vilela é um político amadurecido, racional, firme e, quando necessário, frio ao tomar as decisões. Por isso, certamente não apoiará uma aventura de Gustavo Mendanha — que não tem musculatura política em nível estadual — tão-somente para consolidar seu nome na política de Goiás, mas que sacrificará toda a estrutura do partido no Estado. A possibilidade de eleger um vice ou um senador é forte ao lado de Ronaldo Caiado — assim como uma bancada consistente para deputado federal.

Cabe ao líder tomar a decisão, e o líder, no caso, é Daniel Vilela, não Gustavo Mendanha, um jovem qualificado, mas ainda imaturo (se não o fosse não estaria sendo seduzido pelo Romanée-Conti do ex-governador Marconi Perillo, do PSDB). Caminhar pela estrada firme do realismo é mais saudável que tentar se firmar no tobogã das ilusões políticas. O prefeito de Aparecida não sabe ainda, mas a solidão dos derrotados é deles. Os que o incentivam a disputar a disputar o governo, no caso de uma derrota, não o enxergarão na planície. Vão ignorá-lo olimpicamente. Aí terá de tomar Mioranza sozinho. Sandro Mabel vai curtir as delícias de Paris e Marconi Perillo voltará para São Paulo, sua nova Ítaca. Mendanha voltará, solitário, para “Paris-cida”.