Tendência no Tocantins é Ronaldo Dimas para o governo e Kátia Abreu para o Senado

23 maio 2021 às 00h02

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Políticos e eleitores do Estado começam discutir o fim do carlessismo, que tende a desaparecer como o siqueirismo e o mirandismo

Siqueira Campos, por ter sido decisivo na criação do Estado, se comportava praticamente como dono do Tocantins. Autoritário, governava com mão de ferro, pressionando fortemente a oposição, tentando subordiná-la. Quem não estava com o político da direita não era tratado como adversário, e sim como inimigo. Mas o siqueirismo se tornou coisa do passado.
Em seguida, tornou-se hegemônico Marcelo Miranda, que se elegia com facilidade para governador. Mas, ante denúncias de improbidade administrativa, o emedebista acabou afastado e cassado. Depois de parecer que seria eterno, o mirandismo esfumaçou-se.
Agora o carlessismo tenta se firmar como novo “sistema” dominante na política do Tocantins. Por mais que seja poderoso, por ser governador, Mauro Carlesse, do PSL, não tem a história nem de Siqueira Campos nem de Marcelo Miranda. É uma figura mignon comparada aos dois. Será preciso verificar se, uma vez fora do poder, o carlessismo resistirá.

Até os meninos de 6 anos, os postes e o Rio Tocantins sabem que Mauro Carlesse deve renunciar ao mandato de governador, daqui a 10 meses, para disputar mandato de deputado federal (mais provável) ou senador (menos provável) em 2022. Assumirá o vice-governador, Wanderlei Barbosa (sem partido).
Wanderlei Barbosa será, então, candidato do carlessismo. Porque precisará do apoio de Mauro Carlesse. No entanto, se for eleito, trabalhará, pela lógica da política, para desmontar o carlessimo, inaugurando outra “era” na política do Estado, a do barbosismo.
Mas há uma drummond no meio do caminho de Wanderlei Barbosa: políticos estão formatando uma chapa forte para enfrentá-lo. Comenta-se que, nos bastidores, até Mauro Carlesse duvida de sua viabilidade eleitoral. Mas, como como não há descartá-lo, dado o fato de que estará no governo, vai apoiá-lo. Soube-se, da parte de um deputado governista, que uma pesquisa de intenção de voto circulou, recentemente, no Palácio Araguaia. Os números não eram positivos nem para o governador nem para seu vice. Portanto, segundo o parlamentar, sua divulgação teria sido vetada.

Mauro Carlesse informa aos aliados que irá disputar mandato de senador, mas, entre os mais íntimos, já admite que deverá ser candidato a deputado federal — por receio de perder para a senadora Kátia Abreu, do partido Progressistas. No momento, a líder do PP brilha no Senado, chamando a atenção do país e, claro, dos eleitores do Tocantins. É vista como uma política de fibra e o governador dificilmente terá coragem de enfrentá-la. Porque, se perder, enterrará tanto a si próprio quanto o carlessismo.
O que se diz no Tocantins é que se está prestes a inaugurar uma nova era, a do ronaldismo. O ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas, do Podemos, é, no momento, apontado como favorito para a disputa. Mas o deputado consultado pela redação sugere que não se subestime a força e o poder do governo. “Se Ronaldo Dimas não montar uma estrutura sólida, tanto do ponto de vista político quanto financeiro, poderá começar na frente e, no decorrer da disputa, ser atropelado pelo poder econômico e pela máquina do Estado”, frisa.

Ronaldo Dimas conta com o apoio do senador Eduardo Gomes. Mas o líder do MDB também é ligado a Mauro Carlesse, tanto que deve apoiá-lo para senador ou deputado federal. O ex-senador Ataídes de Oliveira, o ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha e o ex-deputado federal Laurez Moreira também articulam com Ronaldo Dimas. Trata-se de um apoio consistente. Mas, segundo o deputado, é preciso solidificar apoio nos municípios. “Percebe-se que os eleitores querem mudança e que, no meio político, há um certo cansaço com o carlessismo e suas promessas vãs. Entretanto, sem uma aliança forte, além de coesa, não se ganha fácil do candidato do governo.”
Há quem aposte que, no segundo turno, os senadores Kátia Abreu e Irajá Abreu tendem a apoiar o candidato que se opuser ao governador Mauro Carlesse. Sobretudo porque o governador estaria dizendo, nos bastidores, que fará tudo para derrotar a senadora em 2022. “Ele quer ser o político que vai acabar com a ‘monarquia’ de Kátia Abreu no Senado”, diz o deputado.

“Se disputar o Senado, derrotando Kátia Abreu, o governador Carlesse realmente ficará muito forte. É provável, até, que dispute o governo do Tocantins em 2026. Mas, como se sabe, o governador não gosta muito de correr risco. Portanto, ante uma eleição relativamente tranquila para deputado federal e uma eleição dificílima para o Senado, contra uma senadora que sabe tudo de política, é muito provável que fique com a primeira”, ressalta o deputado.
Fala-se na possibilidade de Irajá Abreu ser candidato a governador com o objetivo de alavancar a candidatura da mãe para o Senado. Aliados dizem que não é o seu projeto, mas sugerem que tudo é possível. “A aliança de Ronaldo Dimas, com Carlos Amastha, Laurez Moreira e Ataídes de Oliveira, está por demais congestionada. Mas, se ‘surgir’ uma vaga para Kátia Abreu, sua chapa majoritária ficaria ainda mais forte”, assinala o deputado.
O fato é que se começa a sugerir que o carlessismo, assim como siqueirismo e o mirandismo, começará a passar, a partir de 4 de abril de 2022, quando Mauro Carlesse renunciar ao governo para disputar mandato eletivo em outubro do mesmo ano. O que está em jogo, portanto, é o pós-Mauro Carlesse.