Está em jogo muito mais do que a disputa pelo Fundo Partidário. Políticos experimentados etão pondo blocos nas ruas tendo em vista a disputa de 2022

Na política é preciso admitir que conversas esparsas podem, eventualmente, levar a grandes mudanças. De fato, por vezes, não dão em nada. Acrescente-se que, na política, não há amadores — os amadores sobrevivem a, no máximo, duas eleições; depois, sucumbem. Há duas questões em jogo, que podem ser desdobradas em outras questões.

1 — O DEM pode se fundir com o PSDB? Questões locais podem atrapalhar a fusão?

As perguntas merecem respostas especulativas, pois conversas e articulações, se são prenúncios, não são fatos. Quando um político fala sobre um assunto, e se ele não se concretizar, não significa que estava “mentindo” ou “blefando”. Trata-se de outra coisa: de articulação — que pode dar certo ou não.

Como tem os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, o DEM passa a imagem de que é um partido muito forte nacionalmente. Com mais de 30 deputados federais e seis senadores, não se pode sugerir que é fraco. Mas, se Maia e Alcolumbre perderem o poder — e frise-se que, no momento, estão reinando —, o partido perderá substância, em termos nacionais. Por isso, para ampliar sua força, alguns líderes, como Maia, articulam para fundir o DEM com o PSDB. De fato, há resistências em Goiás — no Estado o PSDB e o DEM não se misturam —, mas um projeto nacional sobrepõe-se aos projetos locais. DEM e PSDB estão fora do poder federal desde 2003, isto é, há 16 anos. Para 2022, líderes dos dois partidos — Rodrigo Maia, ACM Neto e João Doria (PSDB) — começam a articular uma frente, ou um partidão, com o objetivo de arrancar a segunda via, o PT, do páreo e instalar-se como segunda via. Acredita-se que a disputa será entre um candidato de centro — já que a esquerda persiste desgastada — e um candidato de direita, Jair Bolsonaro, com Sergio Moro na vice. Mas o centro só tem força se estiver aglutinado, sobretudo porque há um outsider de centro na praça, o apresentador de televisão Luciano Huck. O defeito deste, do ponto de vista do pessoal do centro político, é que, sendo outsider, assemelha-se a Bolsonaro, ou seja, não é controlável.

João Doria, governador de São Paulo, e Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, apostam que 2022 “já” começou | Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Em suma: se caminharem separadamente, em 2022, o PSDB e o DEM tendem a morrer na praia e a ficar mais quatro anos fora do poder. A fusão poderá garantir sobrevivência e, o que é mais importante, (mais) poder.

2 — O PSL pode se fundir com o DEM, ou com o PP ou com os dois?

Quem olha só a árvore, deixando de observar a floresta, fica com a impressão de que o PSL está sendo disputado unicamente pelo presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Luciano Bivar, presidente da legenda. A disputa mais renhida e pública é, mesmo, esta. Mas há outra, ou até outras.

Luciano Bivar está sob ataque da estrutura de Bolsonaro e todo político experimentado sabe que guerra política contra presidente da República é muito complicada, porque dificilmente o chefe do Executivo, com uma caneta poderosa, perde batalha contra “descanetados”. Luciano Bivar parece amador, por não ser conhecido do público — há quem o confunda com o “Var” do futebol —, mas é um profissional. Por isso, articula no PSL e fora do PSL. Primeiro, mesmo dizendo o contrário, conversou a respeito de uma fusão com o DEM de Rodrigo Maia. Por certo, não levaria todos os parlamentares federais consigo, mas, se conquistar 20, somados aos 33 do DEM, estaria colaborando para criar uma potência na Câmara dos Deputados. Se Rodrigo Maia já é forte, imagine com uma bancada superior a 50 deputados… Luciano Bivar, por seu turno, receberia proteção de uma estrutura com peso para o confronto com Bolsonaro. Aliado a Rodrigo Maia, pode mudar o nome para Luciano “Trivar”.

O Progressistas do senador Ciro Nogueira também entrou na parada pra fundir-se ao PSL. O argumento é o mesmo. Com seus 39 deputados federais — Goiás tem dois: Adriano do Baldy e Professor Alcides Ribeiro —, se conquistar de 20 a 25 deputados do PSL, se tornará uma potência no Congresso. Alguns parlamentares do PSL chegaram a contestar — sem desmentir — a informação de que há conversas sobre a fusão.

Jair Bolsonaro, presidente da República, e Luciano Bivar, chefão do PSL: a guerra tem a ver com a sucessão do primeiro | Foto: Reprodução

Há quem aposte que a fusão pode ser muito maior e incluir o PSL, o DEM e o PP — com o objetivo de construir um superpartido, que, além de confrontar o governo de Bolsonaro — uma bancada com 70 deputados federais seria tão forte que, na prática, constituiria uma espécie de Parlamentarismo —, seria decisivo na sucessão em 2022.

Por enquanto, só há conversas. Mas Bolsonaro sabe o que está acontecendo, por isso o confronto com sua base política. Vale sublinhar que a guerra não é, como se está comentando, tão-somente pelo Fundo Partidário e pelo Fundo Eleitoral. Tem mais a ver com o jogo de 2022. Tanto que o presidente se reaproximou de Sergio Moro, porque o quer na vice na próxima disputa. Bolsonaro está jogando para impedir o fortalecimento das oposições. Ele é esperto e está tentando escapar do jogo adversário.