MDB de Daniel Vilela não deveria ter se irritado com a suspensão, pois contrato não é da gestão atual, e sim da de Iris Rezende

Prefeito Rogério Cruz: mostrando que decide | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Vereadores estranham que um empreiteiro do Maranhão, apresentando preços bem abaixo dos de mercado, tenha conseguido um contrato de 600 milhões de reais para recapear ruas de Goiânia.

Um engenheiro, especializado em fazer asfalto, afirma que não é fácil pavimentar ruas com o preço oferecido — e aceito — pelo empreiteiro. “Não estou sugerindo que houve irregularidades e, portanto, vou falar em tese. É evidente que um asfalto com 2 centímetros de espessura tende a ficar mais barato do que um asfalto de 4 centímetros. A qualidade do asfalto, da ‘matéria-prima’, também pode reduzir o preço. Na Bahia, quando estava na oposição, o senador Antônio Carlos Magalhães contratou técnicos para pesquisar a pavimentação asfáltica nas rodovias do Estado. Uma das descobertas é que o km, ao menos na terra de Jorge Amado e Ivete Sangalo, tinha não mil metros, e sim, em algumas estradas, 700 metros. Não estou postulando que está acontecendo o mesmo em Goiânia, mas os vereadores têm o direito de checar”, afirma o especialista.

Romário Policarpo, presidente da Câmara Municipal de Goiânia, e Rogério Cruz, prefeito da capital: respeito do Executivo ao Legislativo | Foto: Arquivo pessoal

O engenheiro, técnico de 56 anos, insiste que os vereadores têm o direito de fiscalizar como está sendo feito o recapeamento das ruas de Goiânia. “Devem investigar não apenas não os valores, mas também a qualidade do asfalto. Poderiam encomendar um estudo técnico às entidades de representação dos engenheiros ou então ao curso de Engenharia da Universidade Federal de Goiás. A USP, que desenvolveu um asfalto que dura mais do que qualquer outro, também poderia ser consultada. Há notícia de que ruas recapeadas a partir de agosto de 2020, a menos de um ano, já estão esburacadas, o que, se for verdade, é muito grave.”

Ante o anúncio de que a Câmara Municipal preparava uma CPI do Asfalto, ou do Recapeamento, o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, suspendeu o contrato. A rigor, fez o certo. Primeiro, se há suspeita a respeito do contrato, apontada pela Câmara, que é um órgão fiscalizador, o prefeito, ao suspendê-lo, mostrou que respeita os vereadores (ao Legislativo) e, sobretudo, os goianienses. Segundo, a suspensão do contrato não significa que as obras não serão feitas. Significa, isto sim, que poderão ser feitas, a partir de agora, com mais qualidade e, talvez, respeito ao Erário. Terceiro, não há motivo para irritação de nenhum secretário, nem com a Câmara nem com o prefeito, porque o contrato é da gestão do ex-prefeito Iris Rezende. Todos, da equipe do prefeito, deveriam ter dito a mesma coisa: “Vamos investigar os contratos”. Era e é o lógico.

Ante a suspensão, o secretário de Infraestrutura, o engenheiro Luiz Bittencourt, que vinha fazendo um bom trabalho e era elogiado pelo prefeito Rogério Cruz, pediu para deixar o cargo. O que acabou por precipitar uma crise de grande dimensão, que estava desabrochando. O prefeito e Daniel Vilela, quer dizer, o MDB, entraram em choque. Mas a caneta que tem tinta por mais três anos e oito meses, está nas mãos de Rogério Cruz, do Republicanos. Por isso, se o MDB não se acomodar, aceitando que só uma caneta manda na Prefeitura de Goiânia, evidentemente não há mais espaço para seus integrantes e indicados. Fala-se que na segunda-feira, 5, o emedebismo deixa, integralmente, a gestão municipal. Do ponto de vista do realismo político talvez não seja o melhor caminho. O MDB vai entregar uma prefeitura a um político que ajudou, de maneira decisiva, a colocar no poder.