Réquiem para Ademir Araújo, o mago que criou a Arprom e reinventou os eventos corporativos

16 junho 2016 às 22h30

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Apesar de sua importância como pioneiro dos eventos corporativos, do apoio aos negócios da iniciativa privada, ele morre praticamente esquecido
Iúri Rincon Godinho
Ademir Araújo morreu na quinta-feira, 16. Foi pioneiro dos eventos corporativos em Goiás com sua Arprom. Nos anos 1980 me ofereceu quatro vezes o que eu ganhava para ser seu assessor de imprensa quando ninguém contratava assessor de imprensa. Pensei: esse cara é doido e não vai me pagar. Ele era doido e me pagou. Aprendi muito com suas loucuras.
Sem educação técnica, mandava que eu — jornalista formado pela UFG — refizesse os releases, implicava com palavras difíceis. Sempre melhorava os textos. Pedia para ousar nos títulos e me obrigava a pensar jeitos diferentes de escrever a mesma coisa.
Ademir Araújo veio ao mundo despido de vergonha. Entrava em reunião fechada, ligava para qualquer pessoa, abordava autoridades na rua e à noite sempre de maneira educada e cativante. Sorrindo, sabia fazer negócios em qualquer lugar e situação. Na abertura de seus eventos fazia questão de estar à frente para literalmente cortar a fita. Tinha luz própria e coragem para fazer coisas que ninguém tinha feito.
Foi a primeira pessoa que vi trabalhar harmonicamente, todos os dias, ao lado da mulher, Odacy. Pode-se dizer que de sua empresa saíram a Contato Comunicação, a Tecniprom e a Portal de Eventos, três das maiores grandes promotoras de eventos no século XXI.
Ademir Araújo foi o nome por trás de grandes feiras comerciais que hoje ninguém lembra mas que abriram o mercado goiano, como a Femocest (de moda) e a Fenabela (de beleza). Como todo pioneiro, nasceu antes de seu tempo e vendia estandes (ele escrevia stands) quando por aqui não se sabia direito o significado da palavra.
Seu ápice profissional veio porque ele pensava diferente. Achava um absurdo que o parque agropecuário vivesse no ócio o ano todo, ocupado apenas algumas semanas no ano com a Pecuária. Em uma época sem centro de convenções, transformou as baias de gado do parque em estandes da FIC, a Feira da Indústria e Comércio. Dela participavam todos os players importantes do empresariado, como as federações da indústria e do comércio.
Ademir Araújo veio do nada e, negro e pobre, fez o que quis nessa cidade nos anos 80 e 90. Onde o povo via espaços vazios, enxergava oportunidade. Como tantos pioneiros e empreendedores, morreu sem o reconhecimento merecido. Não há foto sua no Google. A página da empresa que ele construiu (http://www.arprom.com.br/) não faz menção a seu nome. Nessas horas é que se justifica a crença de tantos na reencarnação: alguma coisa de muito ruim a gente deve ter feito na vida passada para ter nascido no Brasil e em Goiás.
Iúri Rincon Godinho é publisher da Contato Comunicação.