Há dois riscos em política. Primeiro, subestimar os adversários. Segundo, superestimar os adversários.

O político que subestima o rival pode acabar sendo surpreendido. Porque, confiando na fragilidade alheia, deixa de aumentar a própria musculatura.

O político que superestima os oponentes queda-se paralisado. Portanto, é preciso entender que, em política, ninguém é invencível.

O Partido dos Trabalhadores às vezes surpreende, sobretudo quando subestimado. Em Goiânia, elegeu três prefeitos — Darci Accorsi, Pedro Wilson e Paulo Garcia. Todos, por sinal, professores universitários. Então, o PT tem força em Goiânia.

Para a disputa de 2024, o partido vai operar em várias cidades, com o objetivo de recompor suas bases políticas, mas tende a concentrar energia em pelo menos três municípios — Goiânia, com mais de 1 milhão de eleitores, Anápolis, com mais de 286 mil eleitores, e Cidade de Goiás, um município menor mas com relevância histórica, pois foi a primeira capital do Estado.

Goiânia — 3 nomes para a disputa

Adriana Accorsi: força própria e apoio de Lula da Silva | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Em Goiânia, o PT tem três pré-candidatos, Adriana Accorsi, de 50 anos, Edward Madureira, de 60 anos, e Mauro Rubens, de 63 anos. A primeira é deputada federal. O segundo foi reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), é primeiro suplente de deputado federal e ocupa um alto cargo no segundo escalão do governo federal. O terceiro é deputado estadual. Trata-se de um trio qualificado.

Dos três, o mais experiente em termos de gestão é Edward Madureira, porque, tendo sido reitor três vezes, é apontado como um administrador competente. A UFG é praticamente uma cidade universitária, com orçamento amplo e uma “população” gigantesca. Em suma, a estrutura da universidade chega a ser maior do que a de alguns municípios. Se quiser inovar na capital, deixando de apostar em quem já perdeu duas eleições consecutivas, o PT tende a apostar suas fichas no professor universitário, que tem doutorado na área de Agronomia.

Lula da Silva e Edward Madureira: presidente pode ser o diferencial em Goiânia | Foto: Divulgação

Entretanto, em termos de experiência política, Adriana Accorsi está bem na frente de Edward Madureira e razoavelmente na frente de Mauro Rubem. O diferencial da campanha de 2024 pode ser a presença de Lula da Silva em algumas capitais. Se aparecer em Goiânia, hipotecando apoio a Adriana Accorsi — ou a outro candidato —, a petista entra, de chofre, na lista dos favoritos. Comenta-se que, se disputar, poderá ter Elias Vaz, do PSB, na vice.

Frise-se que, como deputada federal, Adriana Accorsi está indo muito bem. É o que se ouve tanto na Câmara dos Deputados quanto no Palácio do Planalto.

Mauro Rubem, deputado estadual pelo PT: Boulos do Cerrado | Foto: Divulgação

Mauro Rubem é visto como o Guilherme Boulos de Goiás, ou seja, é percebido como radical. Porém, na Assembleia Legislativa de Goiás, vem se comportando de maneira mais moderada, o que não quer dizer que não seja proativo. Ele é posicionado e, assim como Adriana Accorsi e Edward Madureira, é um político de rara decência.

Anápolis: direita contra a esquerda

Em Anápolis, cidade com o terceiro maior eleitorado de Goiás — e com o segundo maior PIB do Estado, perdendo apenas para Goiânia e superando Aparecida —, o candidato que lidera as pesquisas de intenção de voto é o deputado estadual Antônio Gomide. Foi prefeito duas vezes, vereador e está no segundo mandato de deputado. É fortíssimo.

Diz-se que o PT tem uma imagem negativa em Anápolis, cidade onde a direita é forte. Pode-se sugerir que o município é um tanto quanto bolsonarista. Porém, a imagem de Antônio Gomide, sobretudo como gestor, supera a imagem do PT. Ele é mais forte do que o PT no município. O que pode ser o seu diferencial. O segundo diferencial é o apoio do presidente Lula da Silva.

Se a direita for dividida para o pleito, Antônio Gomide tende a ser eleito, ou pelo menos pode terminar o primeiro turno na frente de seu principal oponente. A direita, se se dividir na primeira etapa, se unirá no segundo turno? É possível, até por uma questão ideológica.

Antônio Gomide: favorito para a disputa da Prefeitura de Anápolis | Foto: Divulgação

Entretanto, se for muito dura no primeiro turno, a campanha poderá deixar arestas instransponíveis para a disputa do segundo turno. Antônio Gomide deve ter como principal adversário Márcio Corrêa, do MDB. O candidato-surpresa — e não tão surpresa assim — pode ser o Major Vitor Hugo, do PL.

Há uma pergunta a se fazer: o PL pode trocar Goiânia por Anápolis? Não se sabe. Mas há a possibilidade de o PL apoiar o candidato governista a prefeito de Goiânia — unindo a direita tanto contra o PT de Adriana Accorsi quanto o PSD de Vanderlan Cardoso — e obter o apoio do governismo em Anápolis? Sim, é possível.

Mesmo com arestas, difíceis de aparar, é possível que a direita, sob a liderança do governador Ronaldo Caiado, do União Brasil, lance apenas um candidato — que pode ser Márcio Corrêa, Major Vitor Hugo ou Amilton Filho (MDB) — para disputar com Antônio Gomide. O objetivo de uma união geral é tentar liquidar a fatura já no primeiro turno. O que se comenta-se, nas hostes governistas, é que o “teto” do postulante petista aproxima-se de 35% a 40%. “Não passa daí”, na interpretação dos articuladores da direita. Se o dado procede, há mesmo a possibilidade de, unida, a direita começar atrás, virar o jogo e derrotar o deputado estadual.

De qualquer maneira, é cedo para avaliações peremptórias. O jogo está apenas começando. O favorito de hoje poderá ser atropelado pelas urnas. Assim como aquele que se acredita que pode crescer, como um postulante à direita, pode permanecer atrás, tanto no primeiro quanto no segundo turno.

Cidade de Goiás: disputa acirrada

Aderson Gouvea: prefeito da Cidade de Goiás | Foto: Facebook

Na Cidade de Goiás, em 2020, a disputa eleitoral foi acirrada. Aderson Liberato Gouvea, do PT, foi eleito com 29,96%. O segundo colocado, Cosmo César dos Santos, o Cesinha, obteve uma votação expressiva: 28,13%. Ou seja, o petista derrotou o então candidato do PSC por uma diferença de 256 votos — que, no município, chamam de vitória por um “beicinho de pulga”. O terceiro colocado, Elber Carlos Silva, do Avante, conquistou 22,21% dos votos.

Juntos, Cesinha e Elber Carlos obtiveram 7.015 votos — ou sejam, 2.839 votos a mais do que Aderson Gouvea, o prefeito eleito.

Com o controle da máquina, e com o apoio do PT em nível estadual e nacional, Aderson Gouvea será mais forte em 2024 do que em foi em 2020? É possível. A pedra no meio do caminho das oposições é que, estando fora do poder há mais de uma década, estão relativamente desarticuladas. Unidas, ficariam mais fortes. Porém, se forem para o pleito divididas, poderão dar mais um mandato para Aderson Gouvea.

O PT elegeu e reelegeu Selma Bastos em 2012 e 2016. E, em 2020, elegeu Aderson Gouvea. O partido tem chance de ficar 16 anos no poder. Resta saber se Professora Selma Bastos vai apoiar a reeleição do prefeito ou se vai, ela própria, disputar a prefeitura. (E.F.B.)