De estilo bem diferente do saudoso cronista esportivo, advogado também vai subir em trio elétrico para levar seu discurso à população

Valério Luiz Filho e o avô, Mané de Oliveira, vestindo camisetas com a imagem de Valério Luiz, executado em 5 de julho de 2012 | Foto: Reprodução

O assassinato à luz do dia do radialista Valério Luiz completa exatos dez anos na terça-feira, 5. Os condenados, dos quais o mais conhecido é o empresário e conselheiro do Atlético Goianiense Maurício Sampaio, devem ir a um júri popular que já foi adiado quatro vezes. A nova data marcada é 7 de novembro.

O pai de Valério, Manoel José de Oliveira, o Mané, foi uma das maiores figuras da história da imprensa esportiva goiana. Seu estilo histriônico, verborrágico ao microfone, era também bastante popular. E foi assim, também com bastante “gogó”, que o radialista chegou a dois mandatos na Assembleia Legislativa.

Mané foi deputado estadual pela primeira vez na legislatura de 1987-1991, no governo de Henrique Santillo, de quem era um admirador. Seu segundo mandato veio na sequência da tragédia familiar que atingiu sua família e chocou a cidade. O mote da campanha que tinha encarado era estar novamente na política para ganhar força e contrapor ao poderio econômico do outro lado do processo. Assim, pensava, poderia ajudar a fazer a justiça acontecer para a morte do filho.

E em 2014, na campanha em busca da vaga na Assembleia, Mané tinha usado o que tinha de melhor, sua voz, para percorrer a cidade pedindo votos em cima de um trio elétrico. O resultado que o colocara na Casa de novo foi surpreendente: teve 62.655 votos, um recorde para o Legislativo estadual que continua de pé e será difícil de ser batido.

Nessa mesma “pegada”, dois anos depois, Mané encampou a campanha do neto Valério Luiz Filho por uma vaga na Câmara de Goiânia. Ficou na segunda suplência da forte chapa do PSD, com expressivos 3.787 votos, mais do que muitos vereadores eleitos.

Agora, pré-candidato pelo PT, o advogado pretende repetir a estratégia em busca da cadeira que, em legislaturas passadas, foi do avô. “O estilo de meu avô tinha um sentido. É a forma de quem não tem nada conseguir fazer seu nome chegar nas pessoas”, diz. Com poucos recursos, como ele próprio admite, a aposta maior será no velho trio elétrico.

Ao contrário de Mané, no entanto, Valério Luiz é bem menos impulsivo e muito mais reflexivo. A disposição para o combate, porém, só muda de aparência – basta acompanhar a luta incessante que trava para “fazer andar” o processo e, agora, o júri popular dos réus acusados da morte de seu pai. Dessa forma, o candidato Valério deve “encarnar” uma persona bem mais enérgica ao discursar.

Será interessante também observar como a população receberá seu nome, já que, nas redes sociais, alguns “haters” usem a caixa de comentários de suas postagens para dizer que ele estaria usando a morte do pai como palanque.

“É uma provocação que me incomoda quando vem dos acusados do crime, o que fazem frequentemente. Da população, não. Ao contrário, preciso contar com a confiança dela de que o mandato será para o avanço das pautas que propusermos”, diz ele. “E é claro, vou responder às pessoas que me questionarem, porque é delas que estou pedindo a confiança e o apoio. Mas, quanto aos acusados, não cabe a assassinos dizer como suas vítimas devem reagir.”

Mané morreu em fevereiro de 2021, sem ver a justiça sendo feita para a execução de seu filho.