O que aconteceu com Rogério Oliveira da Cruz na Prefeitura de Goiânia? Isto: não aconteceu.

A impressão que se tem é que o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, ainda não assumiu. O membro do Republicanos se comporta como se ainda fosse vice-prefeito — de Maguito Vilela, falecido em 2021 — e, por isso, como se não tivesse responsabilidade com a cidade.

Políticos, empresários e populares se comportam como se Goiânia não tivesse piloto, quer dizer, prefeito. Parece que a cidade está no piloto automático e, sobretudo, à deriva.

Quando efetivamente Rogério Cruz começou a errar, caminhando para se tornar o Marcelo Crivella do Cerrado (curiosa ou sintomaticamente, os dois são do Rio de Janeiro)?

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O primeiro equívoco ocorreu quando Rogério Cruz forçou a barra para o pessoal do MDB deixar a prefeitura. Ficou-se com a impressão de que Daniel Vilela tirou seus aliados da prefeitura de maneira precipitada. Não foi assim. Na verdade, o grupo de Rogério Cruz começou a esvaziar o pessoal ligado ao hoje vice-governador, criando aquilo que se convencionou chamar de “rainha da Inglaterra”. Ou seja, ocupava-se o cargo, mas não se tinha poder de fato.

Ao retirar os profissionais, que tinham experiência administrativa e política (o grupo de Maguito Vilela está há anos em governos e prefeituras), Rogerio Cruz ficou com “amadores”.

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Com a saída do pessoal do MDB, Rogério Cruz foi absorvido pela chamada “turma de Brasília” (um deles, dizem, interessadíssimo em loteamentos). Conta-se que, de uma hora para outra, constituíram-se dois Paços Municipais — um o oficial, nas proximidades do Ministério Público Federal e da Assembleia Legislativa de Goiás. Neste despachava e despacha Rogério Cruz. O outro, para-oficial, localizava-se, de acordo com vereadores, no Jardim Goiás, num sobrado. Lá despachava o “chefão” de Brasília.

O chefão chegou como salvador da Pátria, supostamente recomendado pelo Republicanos nacional, mas acabou provando que tinha “doutorado” não em administração e eficiência, e sim em produzir intrigas em série. Mas era, digamos, um poder, um símbolo de poder. Porque Rogério Cruz parece que não quer e não assume o poder. Por isso há vereadores que, quando estão bravos com o “alcaide”, dizem que ele precisa “tomar posse”.

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Um dia, e não se sabe exatamente como, a turma de Brasília foi embora — parcialmente, talvez — e Rogério Cruz juntou-se a um grupo de vereadores e, por assim dizer, “reorganizou” o grupo administrativo.

Entretanto, como falta comando — chefe —, o caos permanece instalado na prefeitura. Rogério Cruz está lá, mas, de acordo com vereadores, é como se não estivesse. O gerúndio, “estou fazendo”, porém nunca “terminei as obras”, continua dando o tom.

O vereador Clécio Alves (Republicanos), com aliados “ancorados” na Comurg e na Amma, conseguiu se eleger deputado estadual. Rogério Cruz, com a máquina nas mãos, não conseguiu eleger sua mulher. Há duas questões aí. Primeiro, o prefeito mostrou debilidade política. Segundo, ao derrotar sua mulher, os eleitores deram-lhe um recado: não estão satisfeitos com sua gestão. É uma mensagem clara — claríssima — para 2024.

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De repente, como se as mudanças chegassem com as chuvas e os ventos, Rogério Cruz processou novas modificações. Agora, um grupo de Anápolis — os “estranjas”, como são chamados no Paço Municipal, ou “cachoeiristas”, de acordo com vereadores — chegou para “salvar” a gestão e o próprio prefeito. Há salvação? Não se sabe.

Os “chegantes” são profissionais da administração ou dos negócios? Se for da administração, será positivo. Se for dos negócios, e ainda não dá saber, o Erário será sangrado.

Goiânia é uma cidade suja, encardida. E a sujeira não está apenas nas ruas abandonadas pelo poder público. A Comurg, que teria de ser investigada não por uma CPI, e sim por vários CPIs, sempre foi um poço de irregularidades. Mas agora, tudo indica, o descontrole é total.

Não há indícios de que, pessoalmente, o prefeito esteja envolvido em falcatruas — o que é um ponto a seu favor. Mas é preciso investigar a gestão como um todo, mapeando os pagamentos que têm sido feitos, há dois anos e dois meses.

Já há justificativa para impeachment? Parece que ainda não. Mas é preciso admitir: a gestão de Rogério Cruz paralisou Goiânia. É o que todos dizem, em todos os lugares. Há tempo para melhorar? Até há. Mas falta vontade e, sobretudo, uma equipe com experiência em administração pública. O fantasma de Marcelo Crivella ronda Goiânia.

O prefeito Rogério Cruz tem visto pesquisas? Será que sabe que está atrás de Silvye Alves (União Brasil), Vanderlan Cardoso (PSD), Gustavo Gayer (PL), Adriana Accorsi (PT) e Ana Paula Rezende (MDB)? A máquina, afinal, está nas mãos do prefeito? (E.F.B.)