Para segurar o Centrão, Bolsonaro talvez tenha de se filiar ao PP
18 julho 2021 às 00h01
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O presidente quer um partido político para chamar de seu, mas até os nanicos começam a rejeitá-lo. O realismo do PP pode ser a sua “salvação”
O Centrão é o Maquiavel da política brasileira. No sentido de ser realista, aquele realismo mais cruel — o chocante. Porque não há amores e paixões. Só interesses — e os imediatos. Porque seus representantes jogam e vivem no presente — não têm nenhum interesse pelo passado e escasso interesse pelo futuro.
Os políticos do Centrão querem poder e dinheiro — não necessariamente nesta ordem. Raposas felpudas e bolsudas, seus representares pertencem a vários partidos — e não apenas ao Progressistas de Ciro Nogueira, senador, e Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados. A rigor, para os centristas, só há um partido — o PG. Quer dizer, o Partido do Governo. Mas eles não aceitam papéis secundários no palco da política e da gestão patropi. São e sempre serão protagonistas.
Recentemente, uma revista disse que os “personagens” do Centrão exigiram que Bolsonaro modere seu discurso e se torne mais palatável aos eleitores. Não que se preocupam tanto assim com o presidente, mas, como pretendem ficar no governo até o fim — um ano e cinco meses —, temem que o desgaste do gestor federal acabe por contaminá-los nas eleições estaduais de 2022.
Os homens do Centrão, enquanto Bolsonaro discute ideologias — como soldado invernal da Guerra Fria, um ser quase fora do próprio tempo —, estão preocupados com negócios e com as eleições de seus Estados. Eles sabem que, ganhando Bolsonaro, Lula da Silva ou um postulante de centro, sempre serão chamados, por causa de sua força no Congresso, para garantir a governabilidade. São operadores e não discutidores de ideologias. Se precisarem abandonar Bolsonaro na chapada, no caso de ele derreter e cair para o terceiro lugar, sinalizando que não irá para o segundo turno, o farão — e sem nenhum remorso.
O Centrão é uma mistura de Winston Churchill e Franklin R. Roosevelt — realistas absolutos que, para ganhar a Segunda Guerra Mundial, se aliaram a Stálin, sem pestanejar.
O Centrão é tão hábil que, até agora, não convidou Bolsonaro para se filiar aos seus partidos, como PP e PL. O PTB de Roberto Jefferson — que já foi lulista — o convidou. Mas o Centrão sempre desconfia do fisiologismo histriônico das figuras anacrônicas do petebismo.
Os chefes do Centrão assistem, silentes, a procura de Bolsonaro por um partido para disputar a reeleição em 2022. Se estivesse bem — se não precisasse gritar “não me deixem só”, repetindo o Fernando Collor de 1992 —, vários partidos, inclusive os do Centrão, estariam aos seus pés clamando por sua filiação. Como está mal, até o pequeno Patriota está dispensando seu passe político. O PSL, que poderia aceitar o filho rebelde, que a casa entornou, também o rejeita.
Bolsonaro quer um partido para chamar de seu, para ter o controle do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral. Agora mesmo, depois de menosprezado pelo Patriota, negocia com o Partido da Mulher Brasileira (PMDB), entre outros nanicos.
Mas, se quiser segurar o Centrão — o “insegurável” Centrão —, Bolsonaro acabará tendo de se filiar ao partido Progressistas dos realistas incontornáveis Ciro Nogueira e Arthur Lira. Terá de se aliar aos realmente profissionais da política brasileira.
Este é o caminho realista. Porque, se brincar, Bolsonaro ficará na chapada — só, solamente só. Ou melhor, com os filhos que, sem o pai na Presidência da República, não serão mais Zero Um, Zero Dois, Zero Três e Zero Quatro — e sim Zero à Esquerda. Ah, quanto as denúncias de corrupção, o Centrão, se tiver de abandonar Bolsonaro, atribuirá a culpa de tudo ao, digamos, governo do presidente, que “seria” errático, caótico. Lula da Silva e Dilma Rousseff já foram “esquecidos” pelo Centrão — que, como se disse acima, não tem remorso. Só interesses. Lula da Silva, por sinal, pode voltar a ser “lembrado” pelos centristas. Depende da oportunidade.