A astúcia do candidato a senador pelo PSDB, Marconi Perillo, é louvada em verso e prosa por seus correligionários. Trata-se, de fato, de um jogador de rara habilidade.

Perillo, vale sublinhar, joga para si, e para mais ninguém, nem mesmo para seus aliados. Se realmente jogasse para os seus, como os deputados estaduais Helio de Sousa e Lêda Borges, ambos do PSDB, teria sido candidato a deputado federal. Porque possivelmente teria uma grande votação e poderia contribuir para a eleição de três parlamentares — ele, Perillo, e mais dois: Sousa e Borges. Ou talvez Matheus Ribeiro, o jornalista que foi apresentador da TV Anhanguera, em Goiânia, e da TV Record, em Brasília.

Iris Rezende: tucanato passou dezesseis anos operando para desconstruir sua imagem política e o emedebista nunca mais conseguiu ser governador de Goiás | Foto: Divulgação

Porém, como joga para si, para o Marconi Futebol Clube, Perillo optou por disputar o Senado. Mas, a rigor, qual é o jogo real do ex-governador?

O jogo é simples, porém, mesmo assim, não tem sido percebido com a devida precisão por intrigantes da base do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil.

Perillo planeja se eleger senador, no dia 2 de outubro deste ano, e, em seguida, trabalhar para eleger um aliado para presidente da Assembleia Legislativa de Goiás. No final de 2018, e início de 2019, operou, a partir de seu apartamento de São Paulo, para eleger um presidente (Lissauer Vieira) que, na sua opinião, seria “menos governista”. O objetivo é, claro, pôr na Alego um parlamentar que, embora pró-governo, guarde reserva ou independência em relação ao governo. Noutras palavras, a intenção é dar trabalho para Ronaldo Caiado. É colocar pedras no seu sapato.

Bem, esta é uma parte do jogo. Mas há outras, e mais cruciais.

O projeto mais amplo de Perillo, dada sua vocação para o Executivo — nunca apreciou o Legislativo (vale frisar que foi um senador anódino, quase do baixo clero) —, é a disputa do governo. Porém, perspicaz que é, sabe que, para disputar o governo, em 2026, tem de ser um participante ativo da vida política do Estado. Portanto, se for eleito senador, será candidato — candidatíssimo — a governador daqui a quatro anos.

Daniel Vilela e Ronaldo Caiado: o governador sabe qual é o projeto real do marconismo | Foto: Reprodução

Perillo evitou disputar o governo em 2022 porque temia perder, de maneira vexatória, para Ronaldo Caiado, que avalia, com correção, como um político realmente profissional. A montagem de uma aliança política ampla e maneira com que o governador ajustou sua gestão — articulando a recuperação fiscal, de maneira precisa, em Brasília — impressionaram o tucano.

Então, em 2026, Perillo, como sugerem aliados mais próximos, vai disputar o governo, sobretudo se tiver sido eleito senador. A tese é a seguinte: daqui a quatro anos, apenas um político efetivamente profissional estará na disputa, ou seja, Perillo. O marconismo avalia que Daniel Vilela, mesmo se estiver no governo, Vanderlan Cardoso (PSD; deve sair do partido, em 2023, e se filiar ao PL), Adriana Accorsi (PT) e Alexandre Baldy (pP) não são páreos para o tucano-chefe. Na prática, o tucanato está subestimando as forças políticas emergentes — o que pode ser um grande erro.

Mas qual é o verdadeiro jogo por trás de tudo? Perillo quer ser governador pela quinta vez não apenas por vaidade, e sim por cálculo político. Primeiro, se eleito, vai tentar “restaurar” sua história — assim como “restaurou” a de Henrique Santillo e trabalhou para “enterrar” a de Iris Rezende. Segundo, e mais relevante, para ele, vai operar para destruir o legado de Ronaldo Caiado como governador.

Se eleito governador em 2026, Perillo passará quatro anos tentando desconstruir aquilo que Ronaldo Caiado fez oito anos (claro, se for reeleito em 2022). Não só. Vai tentar desconstruir inclusive a imagem política e pessoal do governador. Não à toa um auxiliar de Perillo disse a um jornalista: “Marconi, entre 2026 e 2030, será o mesmo que foi Pedro Ludovico para os Caiado entre 1930 e 1945”.

Como se sabe, como interventor em Goiás, Pedro Ludovico, passou 15 longos anos descontruindo o legado da família Caiado em Goiás. Perillo, de acordo com os marconistas, quer fazer o mesmo. Quer “riscar” o governador da história de Goiás.

Portanto, aqueles que acreditam que o movimento “Roma” (Ronaldo e Marconi) é importante para Ronaldo Caiado ser reeleito no primeiro turno precisam refletir sobre seu próprio comportamento. Porque, se apoiarem Perillo em 2022, estarão contribuindo, de maneira irracional, para fortalecer o adversário — que considera o governador como inimigo — em 2026.

Tancredo Neves e Carlos Lacerda, dois políticos de rara habilidade, certamente diriam: apoiar Perillo, para a base governista, é uma tática camicase. Ou, em termos mais dramáticos, uma espécie de haraquiri político.

Felizmente, para a base governista, o governador Ronaldo Caiado é tão ou mais astuto do que Perillo. Ele está preocupado com sua reeleição, articulando com perícia, mas não embarca na canoa furada do “Roma”. Do ponto de vista do governador, o “Roma” é “ma” (de Marconi e de “má”), sem o “Ro”.

Perillo pode até iludir “bobinhos” de gabinete, “meninos” que só pensam numa eleição e em cargos comissionados. Mas não engana um doutor em política, como Ronaldo Caiado.