Norte de Goiás foi expressivo para a reeleição do governador Ronaldo Caiado no 1º turno

Murilo José de Souza Pires

Especial para o Jornal Opção

No primeiro momento, o título deste artigo, possivelmente, pode ecoar como um fato estranho para a leitura do processo eleitoral de governador, de outubro de 2022, do Estado de Goiás. Que importância uma região goiana que apresenta um dinamismo econômico inferior a região Centro-Sul pode ter na definição do pleito eleitoral em um primeiro turno? Sei que várias interpretações do pleito para governador estão em curso e, provavelmente, não haja um consenso estabelecido entre os analistas. Mas gostaria de colocar outro ponto para a reflexão de todos nós.

Não há uma teoria política sustentando a minha hipótese, pois o argumento é construído a partir dos dados do processo eleitoral ofertado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, os quais foram sistematizados por métodos quantitativos com o objetivo de trazer a luz outros elementos para a leitura de um fenômeno que, além de complexo, é multideterminado, ou seja, não tem uma única relação causal que explique seu comportamento em completude.

Neste sentido, coloco uma tese que o sucesso eleitoral do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) neste primeiro turno teve uma contribuição expressiva da região Norte do Estado de Goiás. Para tanto, teço o argumento destacando, primeiramente, que, entre todos os candidatos a governador, Caiado foi aquele que apresentou a menor concentração espacial de seus votos.

Quer dizer, foi aquele que a mensagem eleitoral conseguiu penetrar de forma expressiva em grande parte dos municípios goianos. Em seguida vieram os candidatos do PL e do PT expressando, por conseguinte, a dinâmica da eleição presidencial. Os demais candidatos apresentaram concentração moderada e alta em termos de distribuição de suas votações pelos municípios goianos. 

Cartograma 1

Caiado: Espacialização dos votos absolutos do Caiado em Goiás

No caso específico do Caiado, o cartograma 1 destaca que parte substancial dos votos que recebeu, na faixa dos 75%-100%, se distribuiu de forma expressiva em um arco contínuo que se projeta no espaço goiano entre o Entorno de Brasília e Sudoeste Goiano, com alguns pontos ao Norte do Estado. No entanto, a faixa que contempla os votos que se concentraram entre 50% e 75% se espalham mais pelo Norte do Estado, como também pela região Centro-Oeste estadual. Este ponto deixa claro que a votação de Caiado teve uma forte penetração do espaço goiano e, não é por outro motivo, que os indicadores de concentração destacam uma baixa concentração em sua votação em nível municipal.

Cartograma 2

Caiado: Espacialização dos votos relativos do Caiado em Goiás

No entanto, quando se analisa os dados a partir da variável participação dos votos de Caiado no somatório de todos os candidatos em nível municipal, observa-se uma nova natureza na distribuição dos votos. Há uma expressiva concentração da votação da faixa entre 75% e 100% naqueles municípios que se encontram ao Norte do Estado de Goiás. Este fato deixa claro que, em nível municipal, grande parte dos votos do Caiado, que se aglutinaram nas duas faixas de 50%-75% e 75%-100%, teve sua origem de votação no Norte de Goiás.

Cartograma 3

Caiado: espacialização dos votos relativos do Caiado em Goiás

Para robustecer um pouco mais o argumento, então, adota-se a variável participação da votação do candidato Caiado em nível municipal, porém no contexto da votação do somatório de todos os candidatos a governador em todos os municípios do estado de Goiás. Como pode ser observado no cartograma 3, há uma expressiva participação dos municípios ao Norte do Estado de Goiás no cenário eleitoral goiano, uma vez que o indicador se manifestou que Caiado teve uma forte votação neste espaço regional.

Por fim, pode-se levantar a hipótese, a partir da base empírica, que a região Norte do Estado de Goiás teve uma contribuição expressiva na totalização da votação de Caiado, fato este que não foi percebido para os outros candidatos ao governo do Estado de Goiás. No entanto, as causas para a compreensão deste fenômeno demandam investigações adicionais, as quais não serão discutidas nestas linhas iniciais.

Murilo José de Souza Pires é doutor em economia pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).