O prefeito de Aparecida de Goiânia, uma cidade poderosa, tem dito que não vai “trair” seu principal aliado na política de Goiás, Daniel Vilela

O prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, conversou longamente com o presidente do MDB, ex-deputado federal Daniel Vilela, na quinta-feira, 8. Falaram longamente sugerido duas coisas. Primeiro, moderação. Segundo, que os líderes do partido não se subordinem a políticos de outros partidos — como o ex-governador Marconi Perillo (um tucano estaria espalhando: “Gustavo está nas mãos de Marconi”).

Gustavo Mendanha e Daniel Vilela são “irmãos” por escolha, não por conveniência. Um não trai o outro. Devem caminhar juntos em 2022 — qualquer que seja o projeto de ambos. É provável que, daqui pra frente, ele ouça menos os secretários André Luis Rosa e Fábio Passaglia, que, segundo um secretário da Prefeitura de Aparecida de Goiânia, são os principais defensores de uma candidatura de Mendanha a governador e estariam propugnando pelo afastamento de Daniel Vilela. “Eles são ligados a Sandro Mabel”, sustenta o secretário.

O projeto de Daniel Vilela, atendendo aos companheiros de Goiás e à cúpula nacional, é mais partidário do que pessoal. Como líder, está trabalhando, no momento, para fortalecer o partido. E torná-lo mais substantivo significa eleger bancadas de deputado estadual e federal. O líder de 37 anos comprometeu-se com o presidente nacional do MDB, deputado federal Baleia Rossi, que vai trabalhar, de maneira intensa, para mandar aos menos dois parlamentares para a Câmara dos Deputados em Brasília. Frise-se: quanto maior a bancada de deputados federais mais os partidos têm recursos do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário e tempo de televisão. Além, é claro, de poder de pressão sobre o governo federal. Hoje, o MDB não tem nenhum deputado federal.

Maguito Vilela, Gustavo Mendanha e Daniel Vilela: o segundo promete não trair a memória do primeiro e nem a liderança do terceiro na disputa de 2022 | Foto: Reprodução

O MDB pode lançar candidato a governador, é claro. Mas, se for um candidato pra fazer figuração — “usado” para interesses talvez inconfessos de líderes astutos e manipuladores, que agem nas sombras —, vai prejudicar toda a chapa de candidatos a deputado federal e estadual. O MDB corre o risco de repetir 2018 — quando não elegeu nenhum deputado federal, nenhum senador e apenas quatro deputados estaduais (Humberto Aidar, Paulo Cezar Martins, Bruno Peixoto e Henrique Arantes). Em 2022, sem uma coligação forte — e tendo de aceitar aliados como Marconi Perillo e Sandro Mabel, que terá de justificar —, o MDB corre o risco de sair menor do que o que saiu da disputa de 2018.

“O menino sem Aparecida”

Digamos que Mendanha decida ser candidato a governador de Goiás, em 2022. Com quem contará para a disputa? É provável que não tenha nem mesmo o apoio do prefeito de Aparecida de Goiânia, Vilmarzinho Mariano, que se sente subestimado por Mendanha. Terá de contar com o apoio e a estrutura de Marconi Perillo. Não deixa de ser curioso que, quando se chama de “menino de Aparecida”, Mendanha mostra que é mesmo inspirado pelo tucano, que, em 1998, se apresentava como “o moço [ou menino] da camisa azul”. A tendência é que se torne, se partir para uma aventura, o “menino sem Aparecida”.

Agora, uma campanha encorpada, ao lado do governador Ronaldo Caiado, pode fortalecer os candidatos a deputado federal e estadual do MDB. Sem contar que o partido também poderá indicar o vice ou então o candidato a senador da chapa do líder do partido Democratas. Ronaldo Caiado, como político pragmático, sabe que o único partido que tem estrutura no interior para enfrentá-lo é o MDB. O PSDB não “morreu”, mas permanece na UTI — quase à esper da extrema unção. Vale dizer que dois de seus principais prefeitos, Hermano de Carvalho, de Aruanã, e Noçoitan Leite, de Iporá, deixaram o partido. Já o MDB está enraizado em todo o Estado. Mas, para se tornar mais forte, criando estruturas no Congresso Nacional — que rende emendas parlamentares para os prefeitos —, terá de se aliar a outras forças políticas, como o Democratas.

Mendanha não trairá Daniel Vilela. É o que tem dito nas conversas internas com aliados. Tem sugerido também que não “trairá” a memória de Maguito Vilela, que, junto com Daniel Vilela, acreditou nele em 2016, quando era vereador e nunca havia disputado sequer mandato de deputado estadual.

Como não trairá Daniel Vilela, a tendência — repita-se: tendência — é que, se o presidente regional do MDB figurar na chapa majoritária de Ronaldo Caiado, como vice ou postulante ao Senado, Mendanha o apoiará. Não só. Tende a ser um dos coordenadores de sua campanha. O MDB já deu muito a Mendanha — como a prefeitura que tem o segundo maior PIB e o segundo maior eleitorado de Goiás. Como ele já tem poder, está no poder, será a hora de contribuir para abrir espaço no poder para Daniel Vilela. Seja numa vice ou para o Senado.

Fala-se que Mendanha pode sair do MDB — rumo ao partido Progressistas de Alexandre Baldy, ao Republicanos do deputado federal João Campos, ao PSL do deputado federal Delegado Waldir Soares ou ao PSD de Vilmar Rocha (na sexta-feira, 9, o presidente regional do PSD disse ao Jornal Opção: “Não converso com Mendanha há pelo menos um ano”. Ele também não demonstra ter qualquer interesse por aliança com o prefeito). A questão seminal é: Mendanha é um pelo MDB, relativamente forte, e outro sem o MDB, quer dizer, ficará fragilizado e à mercê de aliados não históricos, e sim de ocasião. Em 2023, se não tiver mandato, ficará só — solamente só —, na chapada.

Mendanha tem força política, é claro — derivada de ser prefeito de Aparecida de Goiânia. Mas perderá parte de sua energia se deixar o MDB, partido com o qual tem identificação histórica, desde seu pai, o respeitável, posicionado e leal Léo Mendanha.