Há 2 Mendanhas. O que conversa com emedebistas diz que pode apoiar Daniel e Caiado. O outro que fala com Marconi e Mabel postula que vai disputar o governo

O prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, do MDB, adotou, nos últimos dias, dois discursos para duas plateias. Estaria falando a verdade para qual delas?

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Daniel Vilela e Gustavo Mendanha | Foto: Divulgação

Para os emedebistas que são aliados do presidente do MDB, Daniel Vilela — apesar das divergências, que, de pontuais, estão se tornando de fundo, eles se consideram hermanos (tipo argentinos e brasileiros) —, o discurso de Mendanha é contemporizador. Ele afirma que Daniel fechou “cedo demais” com o governador Ronaldo Caiado (DEM), mas admite que, se o emedebista figurar na vice, poderá apoiar uma chapa com o líder do Democratas. Às vezes sustenta que pessoas ligadas ao governo estão “batendo” demais nele — um prefeito teria sido escalado para criar uma estrutura para “atacá-lo” — e sugere que, para o fortalecimento do MDB e de Daniel, é importante que ele se mantenha como pré-candidato.

A pelo menos dois emedebistas, Mendanha disse que poderia figurar na chapa de Ronaldo Caiado como vice.

Este Mendanha está articulando, em tese, não apenas para si, mas também para Daniel. Ao se fortalecer, é sua ideia, acaba por fortalecer Daniel. Porque há resistência na base governista ao nome do emedebista para compor a chapa de Ronaldo Caiado como vice. Mas, se o MDB estiver forte, com um nome consistente, Daniel será “necessário” na aliança governista.

Entretanto, há evidências de que Mendanha estaria tentando dividir o MDB no interior, afastando alguns líderes do grupo do presidente do partido. Mas, ao fazer isto, estaria encontrando resistência em municípios chaves das regiões de Goiás – como Rio Verde (o presidente do MDB, Manuel Cearense, se diz vilelista em tempo integral), Anápolis (o presidente do MDB, Márcio Corrêa, é um dos mais leais aliados de Daniel), Jataí (o prefeito Humberto Machado disse que só recebe Mendanha se chegar acompanhado de Daniel; espantosamente, neste próspero município do Sudoeste goiano, o aliado de Mendanha é o deputado Zé Carapô, da DC, e adversário figadal de Machado), Mineiros (o prefeito Aleomar Rezende está fechado 100% com Daniel), Porangatu (Márcio Luis da Silva é danielista em tempo integral) e, entre outros, Valparaíso (o prefeito Pablo Mossoró, liderança mais expressiva do MDB no entorno de Brasília, não apenas banca Daniel; ele trabalha para que o presidente do partido seja o vice de Ronaldo Caiado em 2022. “Eu e a torcida do Flamengo”, brinca).

Um emedebista que trafega bem com Daniel e Mendanha diz que, depois de uma “fase acelerada”, o prefeito “está mais tranquilo e ouvindo mais do que falando”. “A impressão que se tem é que não quer romper com o MDB. Parece que quer ser ouvido e que o projeto do partido não seja apenas o de Daniel”, assinala. “Quer ser incluído no jogo.”

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Gustavo Mendanha e Marconi Perillo: amigos | Foto: Reprodução

Há outro Mendanha, o que circula com o empresário Sandro Mendez (conhecido como Sandro Mabel), da Pimentas Mendez, e com aliados do ex-governador Marconi Perillo. Ao visitar o município de Uruaçu, no Norte de Goiás, em busca de apoio para uma candidatura a governador e, sobretudo, com o objetivo de conquistar mais visibilidade para seu nome – pesquisas registram que, a um ano e dois meses, é desconhecido da maioria dos eleitores –, Mendanha circulou não com o pessoal do MDB, que considera vilelista, e sim com o prefeito Valmir Pedro, filiado ao PSDB e um dos políticos mais identificados com Marconi Perillo. “Se Marconi mandar, Valmir pula do precipício”, afirma uma tucana.

Quando está ao lado de Sandro Mendez, de Perillo, dos deputados federais Professor Alcides Ribeiro e Delegado Waldir Soares, do ex-ministro Alexandre Baldy e de outros políticos — que não sejam aliados de Daniel —, Mendanha afirma que será candidato a governador “de qualquer maneira”.

A um interlocutor, que lhe perguntou por que está tão decidido a disputar o governo, Mendanha teria dito que percebeu que há uma “oportunidade” e que pode não ter outra chance de disputar o governo. Mas e se perder?, teria perguntado o interlocutor. O prefeito teria afirmado que, mesmo perdendo, tornará seu nome conhecido para outros pleitos. Quais? Ele teria acrescentado que planeja disputar a Prefeitura de Goiânia em 2024.

Na visão de Mendanha, segundo a interpretação de seu interlocutor, se não há um vazio político em termos de Estado – porque o governador Ronaldo Caiado “está muito bem avaliado” –, há a possibilidade de, quando chegar 2024, daqui a três anos e dois meses, se ter um vazio político em Goiânia, sem líderes referenciais na disputa, como Maguito Vilela, já falecido, e Iris Rezende, que terá 91 anos. O prefeito de Aparecida quer ocupar o espaço. Mas, antes, avalia que precisa fixar seu nome como um político consistente e que tem coragem de enfrentar qualquer disputa e contra qualquer candidato. Mas fica a pergunta de uma emedebista: “Se não apoiar o projeto de Daniel em 2022, optando tentar atropelá-lo, numa evidente traição política — inclusiva à memória de Maguito Vilela; se fosse vivo, Gustavo não estaria se comportando como está —, quem caminhará com ele em 2024?”