O ex-prefeito Gustavo Mendanha (MDB) tem um sonho: dirigir duas cidades que tem Goiânia no nome. Numa delas, Aparecida de Goiânia, já foi prefeito, e saiu muito bem avaliado. Eleito duas vezes, renunciou, em 2022, para disputar o governo do Estado de Goiás.

No momento, ele aparece bem colocado para a disputa da Prefeitura de Goiânia. Legalmente, não pode disputar. Por dois motivos. Como foi eleito duas vezes consecutivas, estaria buscando não apenas “um” mandato, e sim o terceiro mandato consecutivo — o que a lei veda. Há também o fato de que Goiânia e Aparecida são cidades conurbadas.

De qualquer maneira, os advogados de Mendanha fizeram uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral. Se o TSE aprovar, ele poderá ser candidato. Entretanto, o Jornal Opção consultou cinco advogados especialistas em legislação eleitoral. Todos disseram o mesmo: Mendanha não poderá disputar mandato de prefeito em Goiânia em 2024. Poderá disputar, se quiser, em 2028.

Um dos advogados ponderou: “Lembra-se da Lei Fleury, que foi criada para beneficiar unicamente o delegado torturador Sérgio Fleury? Pois é: se autorizar a candidatura de Gustavo, o TSE estará criando a Lei Mendanha. É possível? Tudo é possível. Porque tribunais superiores, operando para além do Legislativo, estão ‘criando’ leis ou dando interpretações bem pessoais delas. Mas, de acordo com consultas a alguns ministros, dificilmente o político de Aparecida poderá ser candidato a prefeito”.

Trata-se de um fato que Mendanha é forte em Goiânia. As pesquisas mostram que, em alguns levantamentos, supera tanto Vanderlan Cardoso quanto Gustavo Gayer. Se não disputar, a tendência é que apoie o presidente a Assembleia Legislativa, Bruno Peixoto (União Brasil), para prefeito.

Bruno Peixoto: o deputado tem conversando com Mendanha | Foto: Sérgio Rocha

O MDB tem um projeto para Mendanha: transformá-lo, ao lado de Daniel Vilela, numa espécie de garoto-propaganda do MDB na Grande Goiânia (e abarcando Anápolis). Ele será levado para fazer campanha para os candidatos apoiados pelo governo em Goiânia, Aparecida (onde mora e tende a apoiar o prefeito Vilmar Mariano), Trindade, Senador Canedo e Anápolis (que fica fora da Grande Goiânia, mas é um município decisivo para o governismo).

Há políticos, tanto no MDB quando no União Brasil, que afirmam que, se não puder ser candidato a prefeito na capital, Mendanha deveria postular uma vaga na Câmara Municipal. Além de ser um general eleitoral para o candidato a prefeito — Ana Paula do Iris ou Bruno Peixoto —, poderá, como candidato à Câmara, contribuir para eleger uma grande bancada de vereadores. Acredita-se que, se disputar, poderá ser o mais votado, com cerca de 20 mil votos ou até mais.

O fato é que, até o momento, Mendanha nunca discutiu a possibilidade de disputar mandato de vereador. Ele sempre diz que planeja, se o TSE autorizar, disputar a Prefeitura de Goiânia. Mas é possível que seja convencido a ser candidato a vereador. Porque um vereador de Goiânia é tão forte — às vezes, até mais forte — do que um deputado estadual. Porque a capital, inclusive em termos de arrecadação e, sobretudo, de visibilidade política, é uma espécie de micro-Estado.

Com mandato de vereador, Mendanha ficará no jogo e estará mais forte para as articulações de 2026. Se não disputar nada, continuará como um político de Aparecida de Goiânia. Se for candidato a vereador, sobretudo se for eleito com uma votação expressiva, ficará mais fácil, estando no jogo, se credenciar para disputar mandato de deputado federal, senador ou vice-governador no pleito em que seu amigo e aliado Daniel Vilela disputará o governo de Goiás. (E.F.B.)