Marcos Ermírio de Moraes quer ser o 3º senador de Goiás ou o 4º senador de São Paulo?
21 agosto 2022 às 00h00
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Quando foi cassado pela ditadura civil-militar, em meados da década de 1960, o mineiro Juscelino Kubitschek era senador por Goiás.
Os líderes políticos locais apoiaram JK para senador porque Goiás devia muito a ele. A construção de Brasília, a nova capital do país, em meados da década de 1950, mudou, de maneira extraordinária, a configuração econômica do Estado. Pode-se, até, falar em Goiás antes e depois de Brasília.
Portanto, é um equívoco, possivelmente de pessoas mal-intencionadas e mal-informadas, comparar o segundo suplente de senador de Marconi Perillo, do PSDB, com o presidente bossa nova.
O divorciado (está no site do TSE) Marcos Ermírio de Moraes, dono de um patrimônio declarado de 1,2 bilhão de reais, é paulista e completa 60 anos em 2023. A empresa de sua família mantém negócios em Goiás, há alguns anos, e chegou a fechar um empreendimento em Niquelândia — o que teria gerado desemprego e abalado a economia do município.
Não dá, porém, para desconsiderar os méritos da Votorantim em Goiás e no Brasil. A questão a se discutir sobre Marcos Ermírio de Moraes é, portanto, outra.
Espécie de neo-bandeirante, Marcos Ermírio de Moraes ficou conhecido por organizar o Raly do Sertão — um divertimento de e para ricos. Mas isto também não é nenhum problema. O dinheiro, afinal, deve ser privado — e não público.
A questão, a rigor, é outra.
De fato, segundo suplente dificilmente assume. As hostes marconistas têm espalhado, de maneira subliminar, que, se Marconi Perillo for eleito senador, pode assumir um ministério, possivelmente o de Infraestrutura. Isto, claro, no caso de vitória de Lula da Silva, do PT.
Se Marconi realmente vencer, como acredita — frise-se que quem canta vitória por antecipação pode acabar sendo derrotado pelos eleitores —, e assumir um ministério, quem vai assumir o mandato de senador é o empresário e engenheiro Jalles Fontoura de Siqueira, de 72 anos. Trata-se do primeiro suplente. Seu patrimônio declarado à Justiça Eleitoral é de 146 milhões de reais (os negócios da família passam dos bilhões de reais).
Jalles Fontoura, filho de Otávio Lage — que foi governador de Goiás, na década de 1960, pela reacionária UDN —, foi prefeito de Goianésia e é, hoje, o político da família. Ele gostaria de ser senador? É provável. Frise-se que já foi deputado federal.
Porém, na impossibilidade de Jalles Fontoura assumir, por qualquer motivo, Goiás passaria a contar com um senador que tem pouco a ver com os interesses dos goianos. Marcos Ermírio de Moraes, um neo-bandeirante — que se filiou ao PSDB em cima da hora, na marca do pênalti —, se assumir uma vaga no Senado, vai ser senador por Goiás ou por São Paulo, onde de fato reside e tem seus principais negócios? Pode até ser que defenda Goiás, mas a tendência — repita-se: tendência — é que se torne defensor de São Paulo, como “quarto” (ainda que informal) senador do Estado.
Os interesses de Goiás colidem, eventualmente, com os de São Paulo (por exemplo, na questão dos incentivos fiscais). No caso de uma crise entre os Estados do Centro-Oeste e do Sudeste como se posicionará Marcos Ermírio de Moraes? Com certeza, ficará com seu Estado natal, onde mora e, repetindo, ficam os principais negócios de sua família (por sinal, uma família que tem méritos). O empresário afirma que mora em Goiás e é dono de um apartamento no Jardim Goiás. Um repórter esteve lá e o empresário não estava. Ele mora mesmo em Goiás ou apenas tem negócios no Estado?
Alexandre Baldy, do pP, Delegado Waldir Soares (não nasceu em Goiás, mas mora no Estado há vários anos), do União Brasil, Denise Carvalho, do PC do B, Jalles Fontoura, do PSDB, João Campos, do Republicanos, Marconi Perillo (cada vez mais ligado a São Paulo, tanto que importou um suplente de lá), do PSDB, Vilmar Rocha, do PSD, e Wilder Morais, do PL, têm a ver com Goiás. Marcos Ermírio de Moraes descende da aristocracia rural de Pernambuco e da burguesia industrial de São Paulo. Quase nada tem a ver com Goiás.