É bem verdade que Marconi Perillo sempre manteve seu quinhão de importância no PSDB. Afinal, ninguém comanda um Estado vencendo quatro eleições sem passar a ser respeitado no próprio partido. Mesmo após duas derrotas seguidas ao Senado, o prestígio dentro da sigla continua.

Mas é algo além disso, porém: o ex-governador de Goiás está cotado para assumir a presidência nacional da agremiação. Os tucanos fazem sua convenção no fim deste mês, mais precisamente no dia 30. Em outros tempos, as escolhas do partido em suas reuniões teriam até cobertura ao vivo de emissoras – como em 2010, quando surgiu a expressão “partido da massa cheirosa”, em uma entrada da jornalista Eliane Cantanhêde enquanto cobria a escolha de José Serra como candidato a presidente à eleição daquele ano.

Se é um sinal positivo para o próprio Marconi ter seu nome aclamado – como tende a ocorrer após a saída do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, atual presidente nacional do PSDB –, o cargo não tem o mesmo status de outrora. O partido foi uma das estrelas do período da redemocratização e protagonizou o debate político com o PT desde 1994 até 2014, quando, com Aécio Neves, por pouco não retomou a principal cadeira do Planalto, na eleição presidencial mais concorrida até então.

A partir de então, uma sucessão de erros estratégicos, denúncias de corrupção e opções ideológicas equivocadas fez com que os tucanos definhassem. Seu lugar na polarização foi tomado pela extrema direita e culminou com a ascensão de Jair Bolsonaro ao poder em 2018.

Para ter ideia, em 1998, quando detinha a máquina federal e Fernando Henrique Cardoso conquistava a reeleição, o PSDB elegeu 99 deputados federais – o mesmo número que alcançou o PL de Jair Bolsonaro no ano passado. Em 2022, só 13 tucanos foram eleitos para a Câmara dos Deputados.

Em resumo: se em outros tempos seria necessário um Fokker 100 para transportar a bancada, hoje os tucanos podem alugar uma van que vai caber todo mundo. O partido encolheu. É nesse contexto que Marconi está cotado para assumir o partido: de jato comercial da política brasileira virou um simpático utilitário.

Se fossem outros tempos, de mais bonança e poder, haveria disputa pelo comando do partido e não uma alta probabilidade de aclamação. E é preciso dizer, sempre que se pensa em protagonismo do Estado nas entranhas do poder: Goiás ocupa posição periférica na geopolítica nacional e os nomes que aqui surgem estão, no máximo, num segundo escalão de prioridades.

Se o poder interno entre os tucanos era uma espécie de reprodução da antiga política “café com leite”, em uma batalha fratricida entre paulistas e mineiros, o comando da sigla passou para fora desse eixo desde 2019, com o ex-deputado federal pernambucano Bruno Araújo e, depois, com o gaúcho Eduardo Leite.

Caso confirmado à frente da sigla, Marconi terá a tarefa nada fácil de tentar retomar os anos de glória do hoje “ex-gigante”. Por ora, o que se tem é falta de perspectiva e uma sensação de “apague a luz quem sair por último”.

Nas rodas de engravatados, o sarcasmo da política não perdoa, ultimamente já chamam o partido de “PSDBota”: um partido que já teve seu brilho em décadas passadas, que até tem algum nome pela tradição, mas que ninguém todo mundo sempre tem um pé atrás sobre as chances de sucesso. Assim como o Botafogo. (E.D.)