As pedras no caminho do prefeito de Aparecida de Goiânia são a falta de bases sólidas, Daniel Vilela e o favoritismo do governador Ronaldo Caiado

O MDB tem dois pré-candidatos a governador para 2022 (a disputa se dará daqui a um ano, oito meses e 15 dias): o ex-deputado federal Daniel Vilela, presidente do partido, e Gustavo Mendanha, prefeito de Aparecida de Goiânia.

A morte de Maguito Vilela, com a consequente perda da Prefeitura de Goiânia — que é um Estado dentro do Estado —, mudou a correlação de forças. O MDB, que ficaria mais forte tendo o controle da capital, cidade cujas notícias reverberam em todo o Estado, ficou fragilizado, assim como seus postulantes, Daniel Vilela e Gustavo Mendanha.

Daniel Vilela: se há fila em política, o jovem é o primeiro da fila emedebista | Foto: Reprodução/Facebook

Mas quem será o candidato do MDB a governador? Há quem diga, inclusive no emedebismo, que há uma tendência de Daniel Vilela compor com o governador Ronaldo Caiado, aceitando a vice ou, sobretudo, a vaga para disputar o Senado. Frise-se: os dois políticos se reaproximaram (Daniel Vilela fala, em particular, do senso de humanidade do gestor estadual). Por enquanto, é o principal pré-candidato do partido para governador. Já disputou uma eleição, foi deputado federal atuante em Brasília, foi deputado estadual e vereador por Goiânia. É experiente e contribuiu, de maneira decisiva, a partir das eleições de 2020, para remontar as bases do partido no interior. Hoje, as bases municipais, renovadas, são, por assim dizer, “danielistas”. Veja-se três casos: Pedro Gonçalves, de Goianésia, e Márcio Luis Silva, de Porangatu, e Márcio Corrêa, de Anápolis. Os três perderam, mas foram bem votados, constituindo-se em revelações políticas no presente e, possivelmente, ainda mais para o futuro.

Quando a Gustavo Mendanha, há pedras maciças — problemas — no seu caminho, talvez incontornáveis.

Gustavo Mendanha: se deixar a Prefeitura de Aparecida, em 2022, pode perder tudo | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

O primeiro problema é que, desde já, ao se colocar, mesmo aparentemente sugerindo que não está se colocando, cria uma aresta com Daniel Vilela (estaria desrespeitando a fila). Não adianta sugerir que são “irmãos” por escolha, porque, em política, isto não existe — o rival (e, às vezes, até o inimigo) mora ao lado. E políticos não gostam de perder o que chamam de “oportunidades”.

Segundo, se sair para a disputa do governo, e se perder — sublinhe-se que o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do Democratas, está muito bem avaliado —, ficará sem nada. Corre, inclusive, o risco de ver seu vice, assumindo a prefeitura, apoiando o governador, não necessariamente por oportunismo, e sim para viabilizar a gestão.

Gustavo Mendanha só teria chance de deixar a Prefeitura de Aparecida, para alguma disputa em 2022, se Maguito Vilela não tivesse falecido. Porque, perdendo, poderia se tornar secretário na capital, o que o levaria a manter alguma força política. Mas, sem Maguito Vilela, perdeu substância. A morte de Maguito pode enterrar várias “esperanças” políticas. A palavra a reter é… “pode”. Porque, como se sabe, o futuro nem a Deus pertence. O futuro é filho legítimo do imponderável.

Terceiro, se compor com Marconi Perillo e o PSDB, na tentativa de robustecer a aliança, pode não ganhar votos, mas pode herdar o desgaste do tucanato. Leia o recado das urnas de 2018 e 2020 — os eleitores “massacraram”, com uma arma letal, o voto, os tucanos. O emedebismo vai carregar o fardo do marconismo-tucanismo? Só se não entender que política exige o mínimo de racionalidade e, portanto, lógica.

Quarto, como ir para uma disputa sem o apoio de prefeituras consistentes, como a de Goiânia (dificilmente Rogério Cruz se tornará base emedebista, em 2022, porque o Republicanos tende a compor com o governador Ronaldo Caiado. Num primeiro momento, prevalecerão as “juras de amor”, mas, com o tempo, o realismo vai se tornar hegemônico) e a de Aparecida de Goiânia (o vice-prefeito é aliado, claro, mas será aliado sempre? Dirá que sim, no momento. Mas e depois?). Com uma estrutura fragilizada, o emedebismo poderá se tornar inhambu na capanga do governador Ronaldo Caiado. Quer dizer, se tornará presa fácil. As pesquisas mostram que o gestor estadual está muito bem avaliado. Não porque faz grandes obras — e, claro, há obras para mostrar (e há dinheiro para outras) —, e sim porque é visto como “humanista” e “decente”. Os eleitores reconhecem que o governador está ajustando o Estado e acatando que probidade é essencial. Quem estiver falando em “falta de obras”, como certos deputados, pode dar com os burros n’água. A “vibe” dos eleitores é outra. Tanto que, se a eleição fosse realizada hoje, Ronaldo Caiado possivelmente seria eleito no primeiro turno, como em 2018.

O canto da sereia dos aliados é sempre um risco para políticos jovens. Quando caírem em si, triturados pela crueza da realidade, estarão sozinhos.