Legislativos homenageiam muito, mas não homenageiam “bem”
03 setembro 2023 às 00h03
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Em dois meses, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já veio a Goiás pelo menos duas vezes para ser condecorado com títulos de cidadania. Ainda com um imenso séquito, ao seu estilo ele mobiliza atenções e polêmicas por onde passa.
Por sua importância política, ganhar ou não essa forma de “reconhecimento de goianidade” altera muito pouco seu prestígio. Serve, porém, para dar mais visibilidade aos parlamentares que o homenageiam.
Outra forma de reverenciar personalidades é post-mortem. Nesse sentido, o campeão dos últimos tempos foi Iris Rezende, várias vezes prefeito de Goiânia e governador de Goiás, além de ministro da República por duas vezes, entre outros cargos de sua extensa e exitosa carreira política. Desde sua morte, o emedebista tem seu nome batizando praças, ruas, viadutos e outras instalações públicas
Deixando à parte a discussão sobre gastos com cerimonial, medalhas, passagens etc., fica o básico: o que os homenageados representaram de fato para a cidade ou o Estado? Claro, não é o caso de Iris e talvez não seja o de Bolsonaro – que, como presidente, interferiu diretamente na história de todo o País, para o bem ou para o mal.
Em relação a Goiânia, há ruas, praças, colégios e hospitais, entre outros logradouros, que ganharam nomes de pessoas que, importantes ou não, nada têm a ver com a memória do bairro ou da região. Basta perguntar para os moradores de determinado setor quem é a pessoa que dá nome à escola ou ao centro municipal de educação infantil do local. Poucos saberão.
Uma das raras exceções – e que deveria servir como exemplo de critério para homenagens – é o complexo da pista de skate da Vila Itatiaia, na região norte de Goiânia. O espaço de lazer e esporte ganhou o nome de José Ribeiro Filho, o “Seu Zico”, morador bastante querido no bairro, por participar de ações filantrópicas.
Homenagear algo com o nome de uma pessoa importante ou alguém ligado a uma pessoa pública sem que haja um contexto para isso é uma medida vazia em termos de referenciais para a comunidade. Não obstante, a maioria das denominações seguem ainda nesse rumo. Está aí um tema muito mais proveitoso, em termos de memória da cidade, do que digladiar com CEIs ou CPIs que terminam, invariavelmente, em pizza.