José Eliton começa a colocar o governo a serviço do indivíduo-cidadão
22 abril 2018 às 00h00
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Governador de Goiás adota medidas modernas, no incentivo ao cidadão, mas não discorda do basicão, para atender o indivíduo
Numa eleição em Brasília, o professor universitário Cristovam Buarque fazia discursos notáveis, enquanto Joaquim Roriz confundia kafta, a comida, com Kafka, o escritor. Num debate televisual, o mestre humilhou o goiano de Luziânia. Pegou mal e a maioria dos eleitores não aprovou. Tempos depois, instado a explicar sua derrota, Cristovam admitiu que o debate, no qual exibiu arrogância, o prejudicou. Mas frisou que o principal problema era outro. Enquanto apresentava um programa para o cidadão, Roriz dialogava com o indivíduo.
O cidadão é o indivíduo que tem suas demandas atendidas: em geral tem imóvel próprio, paga seu plano de saúde, banca escola particular para os filhos e se locomove em automóvel particular. Cristovam falava para eles, que talvez não quisessem (ou não precisassem) ouvi-lo, ao menos não com atenção. Roriz, pelo contrário, falava para o indivíduo, aquele que precisa do posto de saúde, da escola pública e, em alguns casos, paga aluguel e usa transporte coletivo. Trata-se daquele que necessita, de maneira mais acentuada, do Estado. Aquele político que se preocupa mais com o cidadão em regra não é populista, porque, na prática, quer transformar os indivíduos em cidadãos — seres autônomos, não controláveis. É, portanto, mais moderno. O político que se interessa mais pelo indivíduo quase sempre é favorável ao clientelismo e apóstolo do populismo.
Em Brasília, no embate entre os dois discursos e visões de mundo, ganhou o menos contemporâneo e, ao mesmo tempo, mais próximo do povão. Roriz, nada escolástico mas um realista em tempo integral, ganhou do escolástico Cristovam, que se comportou como, digamos assim, um fantasista, quiçá irrealista.
O governador de Goiás, José Eliton (PSDB), talvez por examinar a realidade com atenção, adota um discurso duplo — com um pé na realidade imediata e o outro no futuro, quer dizer, na construção (e defesa) dos cidadãos.
José Eliton é um liberal da estirpe do sociólogo-filósofo José Guilherme Merquior. Noutras palavras, é um liberal com preocupações sociais. Ao mesmo tempo em que opera pelos cidadãos, ampliando demandas já atendidas — em áreas como saúde (o setor público estadual é apontado como de primeira linha) e educação (a Bolsa Universitária, para ficar num exemplo, é um programa social moderno, com porta de entrada e saída, o que é, em tese, um propósito liberal) —, não descuida dos indivíduos.
Ao cidadão, o que precisa menos do Estado, importa quase nada que o governo coloque policiais nos terminais de ônibus. Mas ao indivíduo que usa o transporte coletivo para ir ao trabalho ou à escola a medida de contenção da marginalidade — os assaltos, se não acabaram, diminuíram — agradou sobremaneira. No caso, o indivíduo começa a se sentir como estivesse sendo tratado como cidadão, isto é, há uma espécie de inclusão. O atendimento primário na área de saúde — o não referencial — é de responsabilidade das prefeituras. Em Goiânia, como impera o caos, o indivíduo se sente abandonado. José Eliton planeja qualificar, por exemplo, o atendimento noturno, colaborando com a prefeitura. É um diferencial.
José Eliton, portanto, atende o cidadão e o indivíduo, com o objetivo de forjar o indivíduo-cidadão ou o cidadão-indivíduo. É um avanço, até um grande avanço.