Governador de Goiás adota medidas modernas, no incentivo ao cidadão, mas não discorda do basicão, para atender o indivíduo

José Eliton | Foto: Arquivo

Numa eleição em Brasília, o professor universitário Cristo­vam Buarque fazia discursos no­tá­veis, enquanto Joaquim Roriz con­fundia kafta, a comida, com Ka­fka, o escritor. Num debate te­levisual, o mestre humilhou o goi­ano de Luziânia. Pegou mal e a maioria dos eleitores não aprovou. Tempos depois, instado a ex­plicar sua derrota, Cristovam ad­mitiu que o debate, no qual exi­biu arrogância, o prejudicou. Mas frisou que o principal problema era outro. Enquanto apresentava um programa para o cidadão, Roriz dialogava com o indivíduo.

O cidadão é o indivíduo que tem suas demandas atendidas: em geral tem imóvel próprio, pa­ga seu plano de saúde, banca es­cola particular para os filhos e se locomove em automóvel particular. Cristovam falava para eles, que talvez não quisessem (ou não precisassem) ouvi-lo, ao me­nos não com atenção. Roriz, pe­lo contrário, falava para o in­di­víduo, aquele que precisa do pos­to de saúde, da escola pública e, em alguns casos, paga aluguel e usa transporte coletivo. Tra­ta-se daquele que necessita, de maneira mais acentuada, do Es­tado. Aquele político que se pre­ocupa mais com o cidadão em regra não é populista, porque, na prática, quer transformar os indivíduos em cidadãos — seres autônomos, não controláveis. É, portanto, mais mo­der­no. O político que se interessa mais pelo indivíduo quase sem­pre é favorável ao clientelismo e apóstolo do populismo.

Em Brasília, no embate entre os dois discursos e visões de mun­do, ganhou o menos contemporâneo e, ao mesmo tem­po, mais próximo do povão. Ro­riz, nada escolástico mas um rea­lista em tempo integral, ga­n­hou do escolástico Cristovam, que se comportou como, digamos assim, um fantasista, quiçá ir­realista.

O governador de Goiás, José Eli­ton (PSDB), talvez por examinar a realidade com atenção, adota um discurso duplo — com um pé na realidade imediata e o outro no futuro, quer di­zer, na construção (e defesa) dos cidadãos.

José Eliton é um liberal da es­tirpe do sociólogo-filósofo Jo­sé Guilherme Merquior. Nou­tras palavras, é um liberal com pre­ocupações sociais. Ao mes­mo tempo em que opera pelos cidadãos, ampliando demandas já atendidas — em áreas como saúde (o setor público estadual é apontado como de primeira linha) e educação (a Bolsa Uni­ver­sitária, para ficar num exemplo, é um programa social mo­der­no, com porta de entrada e saí­da, o que é, em tese, um propósito liberal) —, não descuida dos indivíduos.

Ao cidadão, o que precisa me­nos do Estado, importa qua­se nada que o governo coloque po­liciais nos terminais de ônibus. Mas ao indivíduo que usa o trans­porte coletivo para ir ao tra­balho ou à escola a medida de contenção da marginalidade — os assaltos, se não acabaram, diminuíram — agradou sobremaneira. No caso, o indivíduo começa a se sentir como estivesse sendo tratado como cidadão, isto é, há uma espécie de inclusão. O atendimento primário na área de saúde — o não referencial — é de responsabilidade das prefeituras. Em Goiânia, como impera o caos, o indivíduo se sente abandonado. José Eliton planeja qualificar, por exemplo, o atendimento noturno, colaborando com a prefeitura. É um diferencial.

José Eliton, portanto, atende o cidadão e o indivíduo, com o objetivo de forjar o indivíduo-cidadão ou o cidadão-indivíduo. É um avanço, até um grande avanço.