Jogo de 2026 define por qual motivo Paulo do Vale não vai apoiar Lissauer pra prefeito de Rio Verde

25 junho 2023 às 00h08

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Se Goiânia é a capital de Goiás, Rio Verde, no Sudoeste, é uma espécie de segunda capital do Estado. É a capital do agronegócio. É a quarta cidade mais populosa de Goiás, com 247.259 habitantes e só tem menos eleitores do que Goiânia, Aparecida e Anápolis. É a segunda maior produtora de grãos do Brasil. Seu PIB é de 12 bilhões de reais (figura entre os 100 maiores do país). O IDH, alto, é de 0,754. O município conta com cinco instituições com cursos superiores — inclusive uma faculdade de Medicina.
O PIB agrícola de Rio Verde é o maior de Goiás. A cidade conta com aeroporto com pista de 1.500 metros de extensão e 30 metros de largura. Dirigida de maneira competente, a Comigo é uma das mais importantes cooperativas de produtores rurais do Brasil. A feira Tecnoshow é uma referência tanto estadual quanto nacional. O parque industrial está em fase de expansão e conta com empresas do porte da BRF (instalada como Perdigão, há alguns anos), Cargill, Brasilata Embalagens Metálicas, Caramuru Alimentos, LDC Alimentos e Videplast.
Os produtores rurais de Rio Verde (como Jhoanes van Vliet, Paulo Aernoudts, Vanderlei Cassol, Maurício Scholten e Marcelo Swart) são modernos e, por isso, atentos às mais atualizadas tecnologia para produzir soja (a prioridade), milho, arroz, sorgo, algodão e feijão.

Política não envergonha a economia
A história política de Rio Verde conta com algumas figuras emblemáticas, até icônicas — como Paulo Campos (um mito que transcende o município), Mauro Borges (foi governador e senador), Eurico Veloso do Carmo (Nenzinho) e Paulo Roberto Cunha (chegou a disputar o governo de Goiás, em 1990, contra Iris Rezende).
Há municípios em que a economia avançou, mas a política não. Os políticos ficaram para trás — caso de Caldas Novas, para citar apenas um exemplo (discute-se na cidade a possibilidade de Evandro Magal ser candidato a prefeito, o que é um sintoma de recuo histórico, ou seja, ao populismo mais rastaquera). Rio Verde, porém, é bem diferente. Há políticos avançados, com visão de Estado (uns mais, outros menos, mas a média é alta).
Lista-se a seguir, em ordem alfabética, alguns políticos de Rio Verde: Chico KGL (ex-deputado estadual), Dannillo Pereira (vice-prefeito e primeiro suplente de deputado federal pelo PSD), Flávia Cunha (filha de Paulo Roberto Cunha), Flávio Faedo (produtor rural filiado ao PT), Heuler Cruvinel (ex-deputado federal), Juraci Martins (ex-prefeito), Karlos Cabral (deputado estadual pelo PSB), Lissauer Vieira (ex-presidente da Assembleia Legislativa de Goiás e produtor rural), Lucas do Vale (deputado estadual) Lúcia Batista (vereadora), Manuel Cearense (vice-presidente estadual do MDB), Marussa Boldrin (deputada federal pelo MDB), Náudia Faedo (ex-vereadora pelo PT), Osvaldo Fonseca Jr. (médico, foi candidato a prefeito em 2020), Paulo do Vale (médico e prefeito no segundo mandato), Professor Vavá (líder do PT), Wellington Carrijo (médico e provável candidado do MDB a prefeito). Há outros nomes, por certo, mas listas são sempre excludentes. Sobretudo, a divulgada é representativa.

O prefeito Paulo do Vale (União Brasil) foi eleito em 2016 e reeleito em 2020. Algumas vezes, gestores rigorosos com as contas públicas e pouco afeitos a dar tapinhas nas costas não são bem avaliados em termos políticos. Porque não são, em regra, populares. O líder do União Brasil, pelo contrário, consegue a façanha de ser bem avaliado como gestor e, ao mesmo tempo, como político.
Em 2016, Paulo do Vale foi eleito com 47.963 votos (49,33%), derrotando pesos-pesados como Heuler Cruvinel (26.988 votos — 27,76%), então no PSD, e Lissauer Vieira (19.953 votos — 20,52%), então no PSB. Em 2020, o prefeito conquistou 51,07% dos votos válidos. O segundo colocado, Osvaldo Fonseca Júnior, então no MDB, obteve 41,91%. Percentualmente, o gestor municipal cresceu, ou seja, os eleitores avaliaram que não tinha desgaste suficiente e por isso decidiram mantê-lo na prefeitura. Mas é preciso considerar que a oposição conseguiu uma votação expressiva.
Laboratório municipal e estadual
Depois de dois mandatos, que geram desgastes, Paulo do Vale terá capital político suficiente para fazer o sucessor? É possível. Porque, mesmo depois de seis anos e seis meses de mandato, continua bem avaliado como gestor. Como político, dado o sucesso administrativo e eleitoral (contribuiu, de maneira decisiva, para a vitória de seu filho Lucas do Vale para deputado estadual; o jovem médico foi o segundo mais votado, perdendo apenas para Bruno Peixoto — um político experimentado), é cotado para ser candidato a senador ou a vice-governador, em 2026. Portanto, na disputa de 2024, daqui a um ano e três meses, será não um cabo, e sim um (na verdade, “o”) general eleitoral.

É preciso sublinhar uma questão: Rio Verde, no momento, é uma espécie de laboratório para as disputas políticas de 2024 e 2026. Por três motivos: o PIB eleitoral (é a quarta cidade com mais eleitores de Goiás, ficando atrás apenas de Goiânia, Aparecida e Anápolis), o PIB político (há figuras expressivas na cidade, como Paulo do Vale, Lissauer Vieira, Lucas do Vale e Marussa Boldrin) e o PIB econômico (figura entre os 100 maiores do país). Então, 2024 joga 2024 e, também, 2026. E, paradoxalmente, 2026 influencia 2024.
Em outubro de 2024 estará em disputa o controle do poder local. Quem “manda” em Rio Verde abre as portas para mandar, ao menos em parte, no Sudoeste — dada a influência da capital da soja. Mas há outro aspecto a destacar (e que será enfocado adiante): políticos estaduais, como os senador Vanderlan Cardoso, presidente do PSD, e Wilder Morais, presidente do PL, têm conversado com políticos do município. Naturalmente, ambos querem eleger o prefeito e vereadores. Planejam criar bases eleitorais mais amplas na cidade para a disputa de 2026.
Vanderlan Cardoso vai disputar a Prefeitura de Goiânia em 2024 e, por certo, será um candidato competitivo, sobretudo porque é visto como administrador eficiente. Se for derrotado, possivelmente irá disputar um segundo mandato de senador, em 2026. Wilder Morais planeja disputar o governo do Estado em 2026 e, por isso, precisa de bases sólidas no Sudoeste goiano. Ele sabe que aquilo que acontece em Rio Verde reverbera em toda a região, isto é, vira notícia. Isto explica por que Rio Verde está sendo “assediado” por todos os políticos que têm projeto majoritário para 2026.

Por enquanto, vale se concentrar na disputa local, ressalvando que é impossível desconectá-la da disputa estadual de 2026.
O prefeito Paulo do Vale tem dois nomes consolidados para a disputa da Prefeitura — Wellington Carrijo, do MDB, e Dannillo Pereira, do PSD.
Wellington Carrijo saiu na frente, por assim dizer. Ele pertence ao MDB do vice-governador Daniel Vilela, que será candidato a governador em 2026. Ou seja, representa o presente e, desde já, o futuro. Ligado a Paulo do Vale e ao deputado Lucas o Vale, o nome do médico está praticamente consolidado. Trata-se de uma figura respeitada no município, ainda que sem experiência político-partidária. Acrescente-se que é a aposta de Daniel Vilela (MDB), que vai precisar dele na disputa de 2026.
Dannillo Pereira é um bom nome e tem ligação com o agronegócio (aliás, todos têm em Rio Verde, inclusive o PT de Flávio Faedo). Entretanto, o fato de ser filiado ao PSD de Vanderlan Cardoso é uma pedra no seu caminho. Porque o senador posta-se como oposição ao governador Ronaldo Caiado, que tem em Paulo do Vale um de seus principais aliados.

No caso de ser eleito prefeito de Rio Verde, em 2024, em qual palanque Dannillo Pereira estará em 2026? Não se sabe e, do ponto de vista de hoje, talvez nem ele saiba. Porém, no momento, o vice-prefeito joga no time de Vanderlan Cardoso e está próximo de Lissauer Vieira, ainda que não tenha rompido com Paulo do Vale.
Por ter sido deputado estadual e, sobretudo, presidente da Assembleia Legislativa de Goiás, Lissauer Vieira é um candidato consistente e conta com o aval de Vanderlan Cardoso (insistindo que o senador é adversário renhido de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela). Ele será candidato a prefeito? Tudo indica que sim. Poderá ser apoiado por Paulo do Vale? É improvável. Por que o prefeito fortaleceria aquele que, no fundo, quer substitui-lo como principal líder da política de Rio Verde e do Sudoeste? De fato, falta lógica na fala dos que acreditam numa aliança entre Paulo do Vale e Lissauer Vieira para 2024.
Lissauer Vieira quer o apoio de Paulo do Vale. Porém, se apoiá-lo, o prefeito estará praticando haraquiri. Porque o ex-deputado, insistindo, se eleito, fará tudo para minar sua força política no município.
Então, a lógica sugere que Lissauer Vieira — provavelmente numa aliança com Osvaldo Fonseca Jr. (juntos formarão uma chapa forte; separadamente, se tornarão cabos eleitorais do candidato de Paulo do Vale) — será candidato a prefeito de Rio Verde contra o candidato bancado pelo prefeito (há também a hipótese de Osvaldo Jr. ser o candidato das oposições). Pode até ser que haja alguma mudança, mas, no momento, o nome praticamente definido é o de Wellington Carrijo. Com ele, o paulodovalismo se mantém no poder.
Retomando a questão estadual. Em 2026, Daniel Vilela e Wilder Morais certamente disputarão o governo do Estado. O primeiro terá como principal general eleitoral Ronaldo Caiado. O segundo levará para seu palanque, como padrinho político-eleitoral, Vanderlan Cardoso, que, se tiver sido eleito prefeito de Goiânia, também será um general eleitoral.
Pode-se dizer, portanto, que, em Rio Verde, a eleição de 2026 já está jogando a de 2024 e vice-versa. Quem estiver com Paulo do Vale, Ronaldo Caiado e Daniel Vilela certamente apoiará Wellington Carrijo. Quem estiver com Lissauer Vieira e Osvaldo Fonseca Jr. fatalmente estará com Vanderlan Cardoso e Wilder Morais. De alguma maneira, a política do Estado vai contribuir para definir o candidato a prefeito tanto da oposição quanto da situação. E, também, os candidatos a prefeito contribuirão para fortalecer os candidatos a governador em 2026. (E.F.B.)