O partido não o quer candidato a presidente, daí a cristianização. Mas Doria trafega pelo país como um dom Quixote

Em 1950, há 72 anos, o PSD apresentou Cristiano Machado (1893-1953) como candidato a presidente da República.

Na verdade, Cristiano Machado era candidato de si mesmo e de um grupo minúsculo. A corrente dominante não o apoiava.

O PSD tinha, na prática, outro candidato a presidente — Getúlio Vargas, do PTB, que foi eleito derrotando tanto o brigadeiro Eduardo Gomes quanto Cristiano Machado.

Cristiano Machado: o Joao Doria da década de 1950 | Foto: Reprodução

Cunhou-se a palavra “cristianização”, a partir do nome de Cristiano Machado, para se referir àquele político que é abandonado na chapada por seu partido.

Cristiano Machado recebeu 21,49% dos votos, ficando em terceiro lugar, atrás de Eduardo Gomes, o segundo colocado.

Tantos anos depois, outro partido, o PSDB — a diferença no nome é um “B” a mais — decidiu “cristianizar” seu pré-candidato a presidente da República.

Há uma “ligeira” diferença. Mesmo rifando Cristiano Machado, o PSD permitiu que fosse candidato, deixando tão-somente de apoiá-lo.

João Doria: o Cristiano Machado de 2022 | Foto: Reprodução

Agora, a cúpula do PSDB nem mesmo quer permitir que João Doria seja candidato a presidente. Há uma certa lógica na barreira: o tucano não passa de 5% das intenções de voto. Ele pode se tornar, do ponto de vista eleitoral, o maior vexame eleitoral da história do tucanato.

Por que investir esforços e recursos financeiros numa candidatura que, aparentemente, nasceu “morta”? O mais provável é que o MDB vá investir suas energias e o dinheiro do Fundo Eleitoral na eleição de uma forte bancada de deputados federais e senadores.

Noutras palavras, a situação de João Doria — ou João Emboria — é bem pior do que a de Cristiano Machado. Ele está se tornando um dom Quixote vexatório para os tucanos na sua peregrinação pelo país. Para piorar, nem Sancho Pancha ele tem para aplaudi-lo.

Em Goiás, por exemplo, o PSDB quer apoiar Lula da Silva para presidente no primeiro turno. João Doria é recebido por cortesia e pela liturgia partidária, afinal é filiado ao PSDB. Seus encontros lembram não “velório” e “enterro”, e sim “missa de sétimo dia” — quando o “finado” começa a ser esquecido.