Interinidade de Policarpo reforça laços com Câmara e solidifica base por seu simbolismo político, avaliam aliados

06 novembro 2022 às 00h08

COMPARTILHAR
A decisão do prefeito Rogério Cruz (Republicanos) de transferir temporariamente, por uma semana, o comando do Executivo para o presidente da Câmara de Goiânia, vereador Romário Policarpo (Patriota), foi recebida como “gesto expressivo” de reforço das relações institucionais e políticas com o Poder Legislativo. O movimento ganha maior relevância quando inserido em seu contexto histórico: a interinidade de vereadores no cargo é raríssima, mesmo em situações semelhantes à de Rogério, que não tem vice-prefeito.
O atual prefeito assumiu o comando do Paço em janeiro de 2021, com a morte de Maguito Vilela (MDB), apenas 15 dias após a posse de titular e vice. Rogério, vale lembrar, foi alçado ao posto em articulação da Câmara de Goiânia e do Republicanos, que apresentaram o então vereador para o posto como representante, a um só tempo, do Legislativo e do segmento evangélico – o principal rival do emedebista era justamente um evangélico, o senador Vanderlan Cardoso (PSD).
O prefeito anterior, Iris Rezende (MDB), assim como Rogério agora, também não tinha vice. Escolhido para o posto na chapa do emedebista nas eleições municipais de 2016, o então deputado estadual Major Araújo (atualmente no PL, então no PRTB), renunciou à vaga para manter seu mandato na Assembleia Legislativa. Mesmo sem companheiro de Executivo, Iris cumpriu os quatro anos de mandato sem jamais se afastar do cargo – os presidentes da Câmara dos dois biênios, Andrey Azeredo (MDB, 2017-2018) e Romário Policarpo (Patriota, 2019-2020), não tiveram a oportunidade de assumir interinamente.
Iris também não se afastou do cargo nos outros dois mandatos anteriores de prefeito. Eleito em 2004 e reeleito em 2007, o prefeito emedebista nunca se afastou temporariamente de suas funções, e seus vices, respectivamente Valdivino de Oliveira (MDB) e Paulo Garcia (PT), não tiveram oportunidade de assumir o Paço – tampouco os quatro presidentes de Câmara do período. Iris foi inclusive criticado por seus pares por não abrir do comando do Paço mesmo no período em que esteve internado para se submeter a cirurgia.
O prefeito Paulo Garcia (PT) fez o caminho inverso: nas duas vezes em que esteve à frente do Paço Municipal, criou oportunidades para que vereadores assumissem. Em 2011, Paulo viajou ao exterior acompanhado do então presidente do Legislativo, Iram Saraiva (MDB), permitindo ao vice-presidente da Câmara, Clécio Alves (MDB), uma semana de interinidade. Na ocasião, o petista também estava sem vice: ele assumira o comando da Prefeitura com a renúncia de Iris, que, reeleito em 2007, renunciara ao cargo para disputar pela quarta vez, em 2010, o governo estadual.
Reeleito no primeiro turno em 2012, Paulo Garcia repetiu o gesto em seu segundo mandato. Em 2015, já na segunda metade de sua gestão, o petista e seu vice-prefeito, Agenor Mariano (MDB), viajaram em missões comerciais distintas para o exterior, abrindo caminho para que o presidente da Câmara, Anselmo Pereira (MDB), então no PSDB, assumisse interinamente o Paço Municipal. O tucano teve o período de interinidade mais longo, de nove dias no comando da Prefeitura.
“Dado o histórico de pouquíssimos presidentes de Câmara tiveram a oportunidade de assumir a Prefeitura na chamada era Iris, que, na prática, ainda estamos vivendo, porque Maguito se elegeu com o apoio dele em 2020, é muito relevante o gesto do prefeito Rogério Cruz de passar o comando da Prefeitura para o nosso presidente Romário Policarpo”, diz um vereador da linha de frente da sustentação do chefe do Legislativo. “Esse gesto sem dúvida alguma reforça os laços com a Câmara, reduz tensão entre os Poderes provocada pelas mudanças no secretariado e fortalece ainda mais a base do prefeito, que ficou um pouco menor como resultado do movimento eleitoral estadual, mas certamente sai mais forte e mais sólida desses episódios”, diz outro vereador do alto clero da Casa.