Entre 11 de março e 26 de abril, 83.062 pessoas morreram por todas as causas. O normal seria o falecimento de 52.338. Houve 59% de falecimento superior ao esperado

Celeste Gomes del Salto

Especial para o Jornal Opção, de Madri

O número oficial de mortos na Espanha amplia-se quando alguns Estados do país admitem que, desde o início da pandemia, não contabilizaram mais 8.000 pessoas falecidas fora dos hospitais.

Enterros: mortes por Covid-19 | Foto: Reprodução

Segundo as últimas notícias publicadas pela imprensa espanhola, primeiro houve erros na atualização diária dos dados. Depois, nas diferentes formas de contabilização de pacientes hospitalizados nas unidades de terapia intensiva (UTI). E agora, novamente, os diferentes critérios das comunidades autônomas (Estados), ao registrar as mortes por Covid-19.

Pelo menos cinco regiões da Espanha — entre elas Madri, Catalunha, Castilha e Leão, Galicia e Navarra — não incluem, nos dados oficiais enviados ao Ministério da Saúde, o número de mortes que ocorreram fora dos hospitais; por exemplo nas casas de repouso, casas particulares ou nas ruas. Mesmo se tratando de resultados positivos comprovados mediante a prova do PRC (reação em cadeia da polimerase), ou com teste rápido de anticorpos.

Segundo os dados, o número oficial de falecimento por Covid-19 não cobre o excesso de óbitos registrados durante a pandemia. Entre 11 de março e 26 de abril, houve mais de 30.000 mortes acima dos falecimentos habituais nessas datas. Nesse período, uma média de 23.000 mortes são atribuídas à Covid-19. Há, portanto, um excesso de mais de oito mil mortes que em outros anos não se haviam produzido e que não foram atribuídas à Covid-19.

Especificamente, a diferença é de 8.151 mortes entre 11 de março e 26 de abril. O dia 11 de março é o primeiro dia em que se observou que o aumento fora comum de mortes registradas nos registros civis não coincide com as estatísticas de mortes divulgadas pelo Ministério da Saúde. De momento, o 16 de abril é a última data em que as mortes oficiais do Covid-19 não coincidem com o excesso de mortalidade.

Essa diferença certamente aumentará, pois os registros dos últimos dias estão com correção pendente devido ao atraso na notificação. Além disso, essas notificações não cobrem todos os registros, somente os informados. Ou seja, 92%. Se mantém a média de que uma em três mortes não está sendo atribuída à pandemia, os óbitos não assignados ao Covid-19 subirão a 10.000.

Essa dissimilaridade ocorre porque o Ministério da Saúde só reconhece nas suas estatísticas os atestados de óbitos confirmados pelo falecimento por Covid-19. Portanto, ficaram fora das estatísticas o falecimento de todas aquelas pessoas com causas compatíveis à Covid-19 e que nunca foi comprovado que faleceram pela Covid-19, pois não foram realizados nelas o teste de comprovação. Ou seja, a maioria das mortes produzidas nas residências ou nos asilos não está sendo contabilizada.

Na Espanha, entre 11 de março e 26 de abril de 2020, 83.062 pessoas morreram por todas as causas. O normal seria o falecimento de 52.338. Portanto, segundo dados do Sistema de Monitoramento Diário da Mortalidade (MoMo), do Instituto de Saúde Carlos III (ISCIII), houve 59% de falecimento superior ao esperado.

CC.AA.       Excesso       Excesso (%)          Covid-19     Covid-19?

Espanha      27.799            67                        19.648           8.151