Gustavo Mendanha não rejeita aliança de Daniel Vilela com Ronaldo Caiado para 2022
18 abril 2021 às 00h00
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O prefeito de Aparecida de Goiânia precisa do presidente do MDB para se fortalecer e vice-versa. No próximo ano, caminharão juntos
Num discurso célebre, Abraham Lincoln, o presidente que reuniu a ferro e fogo o Sul ao Norte dos Estados Unidos — na guerra mais letal do século 19 —, disse que uma casa dividida não se sustenta de pé. A “casa” do MDB perdeu, em quatro meses, duas de seus principais pilastras-referências — Maguito Vilela e Léo Mendanha, ambos mortos devido a complicações derivadas da Covid-19. A casa balançou, mas não caiu. Porque há duas pilastras novas e sólidas. De um lado, o prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, de 38 anos. Do outro lado, o presidente do MDB, Daniel Vilela, de 37 anos. Os dois são o presente e o futuro do MDB (Iris Rezende, que fará 88 anos daqui a alguns meses, não tem mais tempo para ser líder, em termos de disputas eleitorais. Ele já faz parte, de maneira positiva, da história de Goiás. Quem apostar que tem futuro político vai soçobrar junto).
Entretanto, sem Daniel Vilela, a casa de Gustavo Mendanha cai. Porque não há outra pilastra para substitui-lo. Sem Gustavo Mendanha, a casa de Daniel Vilela cai. Porque não há outra pilastra para substitui-lo. A casa do MDB é sustentada, no momento, pelos dois jovens. E um é a referência do outro.
Quem só pensa em “estrutura” — dinheiro e cargos —imagina, de imediato, que Gustavo Mendanha é mais forte do que Daniel Vilela. De fato, em termos de estrutura pessoal, é mesmo. Aparecida de Goiânia é uma potência econômica. Trata-se de uma das cidades que mais arrecadam ICMS e tem o segundo maior eleitorado de Goiás — perdendo tão-somente para Goiânia. Mas, pelo menos por enquanto, o que acontece em Aparecida não reverbera em todo o Estado. Tanto que Gustavo Mendanha, segundo uma pesquisa recente, não é conhecido no Entorno de Brasília, no Nordeste, no Sudoeste e no Norte de Goiás. Ainda é um político de Aparecida que está, por assim dizer, chegando em Goiânia. Detalhe: se deixar a Prefeitura de Aparecida, e seu vice, assumindo, compor com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, a força emedebista será aina mais reduzida.
A imprensa em geral não acompanha o que se faz no Estado — exceto o que ocorre em Goiânia e cercanias. Por isso poucos repórteres registraram que, na disputa eleitoral de 2020, Daniel Vilela remontou o MDB em todo o Estado à sua imagem e semelhança. Mesmo onde não ganhou, rearticulou uma estrutura nova, com políticos que podem ter futuro, como Márcio Luis da Silva, em Porangatu, Márcio Corrêa, em Anápolis, e Pedro Gonçalves, em Goianésia. Ajudou Humberto Machado e Aleomar de Oliveira Rezende a se elegerem em Jataí e Mineiros — dois dos mais importantes municípios da região mais rica do Estado, o Sudoeste. O MDB, portanto, está sob controle — absoluto — de Daniel Vilela, e não de Gustavo Mendanha (que não elegeu nenhum prefeito, exceto a si, e só tem controle do diretório de Aparecida) e de Iris Rezende (não dirige nenhum diretório e não contribuiu para a eleição de nenhum prefeito).
Postas as questões, é preciso fazer a pergunta: o que quer Daniel Vilela para 2022? Não quer ficar sem mandato e pretende continuar no comando do MDB. Para tanto, vai trabalhar para eleger de dois a três deputados federais (não elegeu nenhum em 2018, sublinhe-se). O emedebista gostaria de disputar o governo do Estado. É um fato. É um desejo. Mas ele é realista. Portanto, sabe que será muito difícil ganhar a eleição de um governador tão bem avaliado quanto Ronaldo Caiado, do partido Democratas.
Se perder pela segunda vez, em 2022, Daniel Vilela não ficará apenas quatro anos fora do poder, e sim oito anos, quase uma década. O que, cada vez mais, dificultará seu projeto de se tornar governador de Goiás. O jovem emedebista talvez não queira se comportar como políticos do PT, que disputam mandato de governador só para “marcar posição”.
Se é assim, o que fazer? As relações entre Daniel Vilela e Ronaldo Caiado são as mais cordiais possíveis. Eles conversam com frequência e há a disposição, de ambas as partes, por uma composição em 2022. Há resistência, entre os aliados do governador, ao nome de Daniel Vilela — que é visto, sobretudo por ex-emedebistas, como “intransigente” e “impulsivo”.
Porém, hábil articulador, Ronaldo Caiado tenta convencer os recalcitrantes que a retirada de Daniel Vilela e Gustavo Mendanha do radar das oposições tende a enfraquecê-las ainda mais. O governador está bem, mas planeja fortalecer ainda mais a sua aliança político-eleitoral — daí a conversas com Daniel Vilela.
Mas qual será o possível papel de Daniel Vilela na aliança? A chapa de 2022 não será fechada agora, pois vai depender das circunstâncias políticas do próximo ano. Mas, como Ronaldo Caiado está definido para governador, há vagas para candidatos a senador e a vice na chapa majoritária — além, claro, do primeiro suplente de senador. Qual a tendência? Há duas possibilidades: Daniel Vilela tanto pode ser candidato a vice quanto a senador na chapa do líder do Democratas. A disputa pelo Senado está congestionada e tende a ser definida pela aliança política, não exclusivamente pelo governador (já a vice deve ser definida por Ronaldo Caiado). O PSD quer emplacar a candidatura de Henrique Meirelles para senador. O Republicanos banca, para o mesmo cargo, o deputado federal João Campos. O ex-ministro Alexandre Baldy, segundo uma fonte do Democratas, é considerado carta fora do baralho, mas pode disputar a suplência de senador ou mandato de deputado federal na aliança que apoia o governador. Lincoln Tejota pode continuar como vice-governador. O presidente da Assembleia Legislativa, Lissauer Vieira, do PSB, também está no páreo para vice. Há quem aposte, porém, que vai postular mandato na Câmara do Deputados.
Se Daniel Vilela fechar uma aliança com Ronaldo Caiado, como fica a posição de Gustavo Mendanha? O prefeito tem dito a aliados que seguirá qualquer projeto definido pelo presidente do MDB.
Se Daniel Vilela for candidato a governador, Gustavo Mendanha tem sugerido que será o primeiro a ajudá-lo a montar seu palanque e a acompanhá-lo nas visitas às cidades do interior. Entretanto, se o presidente do MDB optar por ser vice, ou candidato a senador, na chapa de Ronaldo Caiado, o que fará o prefeito?
A resposta é a mesma: Gustavo Mendanha vai acompanhá-lo por todo o Estado. Ao contrário do que espalham alguns, como um prefeito (conhecido como “o novo Tião Caroço da futrica política”), o prefeito de Aparecida de Goiânia não tem qualquer rejeição ao governador Ronaldo Caiado. Tanto que, por certo período, mantiveram uma interlocução positiva.
Daniel Vilela e Gustavo Mendanha dependem um do outro. Sobretudo, dependem de interpretar o quadro político com o máximo de realismo. Eles sabem, como os eleitores, que, se Ronaldo Caiado for reeleito, deixará o governo, em 2026, para disputar mandato de senador. Seu vice assumirá e se tornará candidato natural ao governo. Ressalte-se que 2026 está muito distante e que o senador Vanderlan Cardoso, do PSD, também será um forte candidato ao governo neste ano, possivelmente.