Guerra de Bolsonaro contra Moro tem a ver com Carlos Bolsonaro e fake news, diz jornal
24 abril 2020 às 01h10
COMPARTILHAR
A “Veja” sugere que as pedras no caminho são Adélio Bispo e investigação sobre políticos e amigos
Os repórteres Thiago Bronzatto, da revista “Veja”, e Vicente Nunes, do “Correio Braziliense”, apresentam versões diferentes a respeito da crise que envolve o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Justiça, Sergio Moro, e o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo.
Versão apresentada pela revista “Veja”
Bolsonaro estaria insatisfeito com Maurício Valeixo desde o ano passado. Ao ser informado de que a Polícia Federal estaria investigando Hélio Lopes (Hélio Negão), deputado federal e seu amigo, o presidente teria tentado “cortar” a cabeça do diretor-geral. Esbarrou, na época, em Sergio Moro.
Também em 2019, Bolsonaro não aprovou a operação da Polícia Federal contra o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo no Senado. A PF cumpriu mandados de busca e apreensão em gabinetes do Congresso — devidamente autorizada pela Justiça, que avalizou a legalidade da operação. Deputados e senadores manifestaram sua irritação diretamente ao presidente e ao ministro.
Em 2018, Adélio Bispo de Oliveira esfaqueou Bolsonaro. O presidente acredita — ou diz acreditar — que houve uma grande conspiração e que Adélio Bispo foi apenas o “agente” do crime. Falta prender o “mandante” do atentado. A Polícia Federal fez uma investigação criteriosa e apurou que o esfaqueador agiu mesmo sozinho e não recebeu ordens de ninguém. Bolsonaro parece acreditar que a PF não se aprofundou o suficiente na investigação. Noutras palavras, não seria “confiável”.
“Veja” registra também que aliados de Bolsonaro trabalham pela queda tanto de Maurício Valeixo quanto de Sergio Moro. O ex-deputado federal e coronel aposentado Alfredo Fraga, amigo de Bolsonaro, trabalhou a indicação de Anderson Torres, secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, para o comando da PF. Mas esbarrou em Sergio Moro. Consta que Alberto Fraga gostaria de assumir o Ministério da Segurança Pública — que seria separada do Ministério da Justiça. O que, se feito, enfraqueceria o ex-magistrado.
Os filhos de Jair Bolsonaro trabalharam pela indicação de Alexandre Ramagem para comandar a PF. Ele é diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e foi da equipe de segurança de Bolsonaro durante a campanha de 2018.
Bolsonaro chegou a dizer que o “problema” da PF deveria ser resolvido no início de 2020. No momento, quando decidiu resolvê-lo, encontrou Sergio Moro pela frente. O ministro sugeriu que, se Maurício Valeixo for afastado, sairá junto. “O Globo” publicou que o próprio diretor-geral quer sair, mas não “empurrado”.
Versão apresentada pelo jornal “Correio Braziliense”
A versão mais corrosiva da crise é apresentada por Vicente Nunes. “A equipe que investiga as fake news contra o Supremo Tribunal Federal chegou ao Gabinete do Ódio, comandando pelo vereador Carlos Bolsonaro, o 02”.
O “Correio Braziliense” sublinha que “policiais que trabalham na operação garantem que o filho do presidente é o mentor de todos os ataques que foram disparados contra o Supremo e contra o Congresso. Há um processo aberto pelo STF para investigar esse movimento de notícias falsas”. A suspeita, de fato, é grande, mas, até agora, não há provas cabais da participação direta de Carlos Bolsonaro no esquema.
Vicente Nunes frisa que a equipe da Polícia Federal que investiga fake news “é a mesma que deverá tocar o inquérito que apurará os responsáveis pelas manifestações pró-ditadura, nas quais Bolsonaro foi a grande estrela”.
O “Correio Braziliense” sugere que há suspeita de que Carlos Bolsonaro “também esteja por trás do movimento que defende o fechamento do STF e do Congresso e a volta do AI-5”. O deputado federal Eduardo Bolsonaro, irmão de Carlos Bolsonaro, defendeu, há pouco tempo, a edição de um novo AI-5.
“Entre escolher ficar com um ministro pelo qual já não tem tanto apreço e proteger o filho, o presidente optará pela segunda opção”, afiança Vicente Nunes.
O jornalista do “Correio” postula que os agentes da PF “estão amontoados de provas contra os ataques ao Supremo e à democracia”. O material pode começar a vazar. Parece que há pessoas assustadas no entorno de Bolsonaro.