Se tem um aspecto em que a direita é muito mais avançada do que a esquerda no Brasil é no uso dos recursos sociais.

Desde a fundação do Movimento Brasil Livre (MBL), em 2014, os progressistas – pelo menos os que têm mandato – vêm levando um baile dos chamados “conservadores” (as aspas são porque conservadores tradicionais do meio político os consideram reacionários e, em alguns casos, até extremistas).

A eleição de Jair Bolsonaro por um partido nanico, o PSL, em 2018 foi o maior exemplo do potencial que as mídias digitais tem para eleger ou derrubar um nome.

Mesmo quatro anos depois, com o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva favorito, o PT e seus aliados pareciam continuar perdidos com a facilidade de articulação da rede bolsonarista.

Até que apareceu o deputado André Janones (Avante-MG) e tomou a frente das estratégias do grupo. Ele fez o papel de “palhaço de rodeio”: ao postar uma série de polêmicas nas redes sociais, atraiu para si a fúria das hostes digitais da direita e, como um para-raios, tirou o foco deles em relação à campanha de Lula.

Em Goiás, um dos nomes de destaque da nova geração de políticos da esquerda em Goiás é o policial rodoviário federal Fabrício Rosa, que, de forma planejada ou não, tem se posicionado como uma liderança digital do segmento.

Hoje ele é primeiro suplente de deputado estadual pelo PT – ficou a poucas dezenas de votos de ser o quarto da bancada petista na Assembleia, por conta do quociente eleitoral –, mas já tem a experiência de três eleições anteriores (duas para vereador e uma para o Senado) pelo PSOL.

Apesar de não ser um youtuber ou algo assim, Fabrício está acima da média no campo progressista no que diz respeito a mobilizar pessoas pelas redes sociais. Foi o que fez na última semana, em reação à demissão de uma professora de um colégio particular de Aparecida de Goiânia pelo uso de uma camiseta com a imagem de uma arte de Hélio Oiticica, ainda da década de 60.

Fabrício puxou a criação de um grupo para enfrentar os que estavam fazendo patrulha ideológica em cima não só do trabalho de professores, mas até das vestimentas, como foi o caso.

O deputado federal Gustavo Gayer (PL), “mentor intelectual” do assédio que resultou na dispensa da professora pela unidade de ensino, interpretou a reação como uma ameaça a sua família, pelo fato de no grupo alguém ter sugerido uma manifestação em frente à residência do parlamentar. Gayer chegou a registrar queixa em uma delegacia contra Fabrício Rosa.

Pensando mais amplamente, o “conservador” Gayer mordeu a isca: ao denunciar o petista, ele causou uma polarização que, politicamente, dá visibilidade ao rival. Isso porque Fabrício Rosa “denunciou a denúncia”: fez um vídeo na porta da delegacia em que foi depor e aproveitou o ensejo para apresentar outras passagens não muito favoráveis ao oponente, como o vídeo que o agora deputado federal atacando profissionais da saúde, em plena pandemia.

No fim da semana, o grupo de esquerda liderado por Fabrício Rosa fez uma manifestação – presencial – nas imediações do colégio. Mais um ponto para ele: transpor a barreira do virtual para o presencial tem sido outro calcanhar de Aquiles dos progressistas.

Diz-se à boca pequena em Brasília que Flávio Dino, o ministro da Justiça, é a “exceção digital” no governo analógico que Lula comanda. O mesmo vale para a esquerda em Goiás, que continua muito atrás no uso dos recursos tecnológicos. Talvez os últimos acontecimentos com Fabrício Rosa precipitem o aprendizado de algumas lições.

Fica a pergunta que não quer calar: se Fabrício é o Janones goiano, Gayer seria Carluxo?