Esquerda não percebe que precisa desidratar mais Caiado do que Zé Eliton. Daniel joga bem

30 agosto 2018 às 23h23

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Garantia de segundo turno exige tanto Daniel Vilela quanto José Eliton mais encorpados. Realpolitik sugere que o alvo é o senador do DEM

As críticas de Ronaldo Caiado (DEM), Daniel Vilela (MDB), Kátia Maria (PT) e Wesley Garcia (PSOL) ao governador de Goiás, José Eliton (PSDB), são legítimas. O papel das oposições é mesmo a de fazer a crítica de quem está no governo e é candidato à reeleição. Os quatro postulantes da oposição precisam dizer aos eleitores os motivos pelos quais pretendem substituir o gestor tucano. A ressalta é que não se faz política, sobretudo durante a campanha eleitoral, a partir de uma única tática.
No debate da Televisão Brasil Central — os problemas eventuais, como o desmaio do coordenador, o competente Enzo de Lisita, não empalidecem o fato de que foi de excelente qualidade —, ficou caracterizado, ao menos em parte, que a crítica de Kátia Maria e Wesley Garcia, sobretudo, ao ser direcionada mais a José Eliton sugere que não funciona. Não se está dizendo que as críticas não deveriam ser feitas — porque não seria justo com os candidatos —, e sim que, do ponto de vista tático, pode ser um tiro pela culatra. (É preciso ressaltar, por uma questão de justiça, que, como o debate acabou antes do programado, não se pode garantir que tanto Kátia Maria quanto Wesley Garcia não fariam o enfrentamento com o senador Ronaldo Caiado.)
Ao propor que o alvo principal é José Eliton, porque está no governo, Kátia Maria e Wesley Garcia colaboram para fortalecer o candidato que está liderando, Ronaldo Caiado. Se querem que ocorra segundo turno, sobretudo se querem que o senador do DEM não chegue ao segundo turno com a musculatura mais encorpada, é preciso definir qual é o alvo prioritário do primeiro turno. O alvo crucial é Ronaldo Caiado ou José Eliton? Se o presidente do partido Democratas tem 38% das intenções de voto — no momento, o número representa certa estabilidade e força eleitoral —, enquanto José Eliton, assim como Kátia Maria, Wesley Garcia e Daniel Vilela, tem menos de 15%, o alvo, do ponto de vista político-eleitoral, deveria ser o senador. É Ronaldo Caiado que precisa ser desidratado — não José Eliton ou Daniel Vilela, por exemplo.
De Kátia Maria — por sinal, muito bem no debate, com uma fala precisa e cortante —, é preciso ressaltar que, de alguma maneira, está fazendo mais o jogo do PT nacional. Sua prioridade é muito mais o projeto nacional do Partido dos Trabalhadores. O objetivo dos petistas é tentar recuperar a Presidência da República — com Lula da Silva ou Fernando Haddad — e não qualquer algum projeto regional (os projetos regionais são subordinados ao projeto nacional). Por isso, ao criticar José Eliton, Kátia Maria está criticando o candidato do PSDB nacional, Geraldo Alckmin. É uma tática determinada de fora. Mas que, indiretamente, acaba fortalecendo o DEM — adversário ferrenho do PT nacional e localmente.
Wesley Garcia estaria fazendo a crítica para marcar posição e fortalecer seu partido em Goiás? Pode ser. Não se pode frisar que está equivocado. Mas a esquerda, mesmo a radical, tem, do ponto de vista tático e estratégico, de definir quais são seus adversários históricos — no sentido de progressistas versus conservadores.
Daniel Vilela, atento mais ao aspecto local do que a nacional, fez críticas contundentes a Ronaldo Caiado. Porque entendeu que, para impedir uma vitória de Ronaldo Caiado no primeiro turno — ou que vá excessivamente encorpado para o segundo turno —, precisa desidratá-lo agora. É o jogo da verdadeira realpolitik — que pensa no primeiro e, desde já, no segundo turno. Porque tentar enfraquecer José Eliton é o mesmo que fortalecer Ronaldo Caiado. Por sinal, o governador tem sido um dos mais propositivos nos debates.
José Eliton e Daniel Vilela tendem a crescer nas pesquisas de intenção de voto e um deles deve ir para o segundo turno — possivelmente contra Ronaldo Caiado. Mas quem quiser apostar em segundo turno precisa revisar o próprio jogo…