Entenda por que Roberto Naves superou Antônio Gomide já no primeiro turno

01 novembro 2020 às 00h00

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Por que Anápolis se cercará de inimigos para bancar Gomide se pode se cercar de amigos ao bancar Roberto Naves? Pesquisa Serpes é a resposta dos eleitores
O candidato a prefeito de Anápolis pelo PT, Antônio Gomide, não é ditador, mas parece ter vocação. Não tem o hábito de articular e de agregar. Parece acreditar que não precisa de outros políticos e que tudo gira em torno de si. Poderia, por exemplo, ter conquistado Márcio Corrêa, do MDB, para vice — o que reforçaria a musculatura da chapa. Optou por chapa pura, por considerar que, sendo um político inexperiente e pelo fato de o MDB ter um desgaste imenso na sociedade local, o jovem empresário e dentista não acrescentaria. Arrependeu-se? Não. Gomide avalia que não precisa de ninguém para vencer pleitos. Ele “lidera” o partido do “Eu Sozinho Me Basto”.

Tancredo Neves dizia que não se faz política sozinho e que é preciso compor, sempre. Também sugeria que não se faz política com os “escolhidos”, mas com todos. A política é a representação da média da sociedade, no que tem de bom e no que tem de ruim. Gomide, pelo contrário, avalia que basta a si próprio (o grupinho que o acompanha é obediente, não o contesta). Tanto que move uma guerra contra o irmão, o deputado federal Rubens Otoni. Mais diplomático, o parlamentar federal tenta se aproximar, articular para o irmão, mas quase sempre é rechaçado. Quando percebeu que Rubens Otoni iria apoiar Kátia Maria para presidente estadual do PT, de imediato, Gomide se postou contra e lançou sua candidatura. Ao perder, saiu atirando. Ao renunciar à candidatura a prefeito, há algum tempo, os motivos eram dois: a birra com Rubens Otoni, para deixá-lo na mão em Anápolis — sugerindo que só ele ganharia a prefeitura e que a Professora Geli, agora sua vice, era frágil eleitoralmente, e de fato era —, e problemas de saúde.
Portanto, como se vê, Gomide não agrega nem no PT. Quanto mais fora. Ele parece acreditar que os demais políticos, como o emedebista Márcio Corrêa, têm a obrigação de bancá-lo. Ele nem precisa agradecer. Os que o apoiam é que devem agradecê-lo. Veja-se o caso de Márcio Corrêa: o petismo avalia que, no segundo turno, apoiará Gomide como se fosse um cordeirinho. Se apoiar, provará que é.
Político de matiz intolerante, o que prova o conflito contra o próprio irmão — de maneira maledicente, adversários mais renhidos chamam os dois de Caim e Abel (não se explicitando quem é Caim) —, agora Gomide está tentando usar a Justiça para perseguir o padre Genésio Lamunier Ramos, da Igreja Católica.
O padre Genésio disse que já apoiou o PT e não apreciou o fato de que Gomide tenha deixado o mandato de prefeito para disputar outro cargo. Como vive numa democracia, o religioso da Igreja Católica pensou que estava tudo bem, que a crítica não era proibida. Pois, descontente com a manifestação do padre — respeitado e admirado na cidade —, Gomide decidiu processá-lo. As palavras “liberdade de expressão”, tudo indica, não figuram no dicionário do petista. Possivelmente, seu dicionário começa com a letra “i” — de intolerância.
Líderes evangélicos de Anápolis decidiram apoiar a candidatura do prefeito Roberto Naves, do partido Progressistas, por alguns motivos. Primeiro, Roberto Naves não é contra religiosos — sejam evangélicos, sejam católicos — e não move processo contra nenhum deles. Segundo, não professa o ateísmo, ao contrário de vários petistas, alguns deles de Anápolis. O prefeito é cristão. Terceiro, o líder do PP agrega e quer Anápolis para todos, não para um partido, como o PT. A Prefeitura de Anápolis não pode se tornar, mais uma vez, uma espécie de filial do Diretório do PT. É o que se diz na cidade.
Gomide tem outro problema delicado, de foro íntimo, portanto não é motivo de ampla discussão. Porém, como se trata de um homem público, o petista precisa apresentar explicações à sociedade sobre seu real estado de saúde. O que ele realmente tem? Por que precisa ir para São Paulo com relativa frequência? Na hipótese de ser eleito, terá condições físicas de gerir uma prefeitura complexa e moderna como a de Anápolis? Como se sabe, inicialmente, Gomide renunciou a ser candidato, alegando que tinha problemas de saúde, aparentemente insanáveis. De repente, voltou à tona e se apresentou como candidato. Mas está mesmo recuperado? Insista-se: o que, de fato, tem o petista? Os anapolinos merecem saber o que está acontecendo. Se for eleito, e não conseguir governar, a Professora Geli teria de assumir. Ela estaria preparada?

Há outro aspecto que prejudica Antônio Gomide. O ex-prefeito parece tratar o presidente Jair Bolsonaro, sem partido, e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do partido Democratas, não como adversários, e sim como “inimigos”. Se eleito, vai governar com quem? A tendência é que fique isolado. Já o prefeito Roberto Naves conta com o apoio de Bolsonaro, de Ronaldo Caiado e de vários deputados estaduais e federais. Num país com a economia em crise, apoios estratégicos fazem a diferença. Por que Anápolis se cercará de inimigos para bancar Gomide se pode se cercar de amigos ao bancar Roberto Naves?
No momento, e nem é preciso examinar as pesquisas — as reviravoltas em Anápolis são frequentes, surpreendentes pesquisadores e marqueteiros, mas não os eleitores —, assiste-se a ascensão de Roberto Naves e o descenso de Antônio Gomide. Os motivos são vários, alguns deles apontados acima. Mas o central é que a população está avaliando a gestão de Roberto Naves como eficiente (o setor de saúde, que ninguém conseguia melhorar, o prefeito melhorou, e muito). A cidade quer um gestor, e um gestor que tenha apoios amplos. Tanto que pesquisa recente do instituto Real Time Big Data/TV Record mostra que o prefeito tem uma aprovação de 72% da população de Anápolis. A última pesquisa do instituto Serpes, divulgada pelo jornal “O Popular”, já mostra Roberto Naves em primeiro lugar, com Gomide em segundo lugar. A ascensão do líder do partido Progressistas — a 15 dias das eleições — tende a ser incontornável.
Os profetas do “já ganhou”, como Gomide, que fiquem atentos: Roberto Naves está chegando, não para empatar, sim para passar. Aliás, o que já comprova a pesquisa do Serpes. Ele está se tornando o Lewis Hamilton da política de Goiás, quer dizer, o primeiro. Enquanto Gomide está “trabalhando” para se tornar Valtteri Bottas, o segundo. Em política, como se sabe, o segundo equivale a ser, digamos, Sebastian Vettel.
Roberto Naves superou Gomide já no primeiro turno. A expectativa de poder está em suas mãos. Parece que se trata de um inconsciente coletivo que só aos poucos começa a ser captado pelas pesquisas de intenção de voto.