Entenda por que o velho, Wanderlei, se tornou novo e o novo, Dimas, se tornou velho no Tocantins
25 setembro 2022 às 00h02
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Pode-se sugerir que aconteceu um terremoto na política do Tocantins? É possível. O candidato do PL a governador, Ronaldo Dimas, era visto como hors-concours. O terno de posse estava quase pronto. Porém, de repente, o jogo mudou e o azarão, o governador Wanderlei Barbosa de Castro, de 58 anos, do Republicanos, se tornou favorito e já teria comprado o terno da posse — não se sabe se Ermenegildo Zegna, Armani ou Ricardo Almeida.
O que realmente aconteceu? Um pesquisador disse ao Jornal Opção que governador só perde quando é muito ruim. Até governador regular tem chance de vencer o pleito.
Quando Mauro Carlesse foi afastado, sob uma chuva de acusações graves, Wanderlei Barbosa assumiu o governo. Não havia muitas expectativas positivas em torno dele. Porque era um político comum — tipo o personagem Leopoldo Bloom, do romance Ulysses, de James Joyce.
Porém, aos poucos, Wanderlei Barbosa deslanchou como gestor e como político.
Como gestor, começou a terminar as obras deixadas por Mauro Carlesse, “segurou” os escândalos (acabou com a fama de “Corruptins” instalada em governos anteriores, e não apenas no de Mauro Carlesse) e deu aumento para os funcionários. Não faz uma administração extraordinária, mas, como dizem os tocantinenses, “não deixou a peteca cair”. Fez o arroz com feijão, salada e bife, mas bem-feito. O que os eleitores concluíram? Que não vale a pena trocar quem está indo bem, ou relativamente bem.
Wanderlei Barbosa, que era uma incógnita, passou a ser uma referência de gestão equilibrada e, sim, vista como realizadora (restaurou estradas, por exemplo). No fundo, os eleitores não querem gestores pirotécnicos. Votam, isto sim, em quem faz o básico e não gera o caos (a corrupção aparentemente havia transformado o governo de Carlesse num sistema caótico).
No aspecto político, Wanderlei Barbosa deu um verdadeiro nó na articulação que estava sendo montada por Ronaldo Dimas. A deputada federal Professora Dorinha Seabra, do União Brasil, estava praticamente fechada com o candidato do PL, mas acabou rompendo e se tornou candidata a senadora na chapa do governador. Por nunca ter se envolvido em escândalos, e ser um nome forte e referencial da Educação — tanto no Tocantins quanto no país —, Dorinha ajudou a desequilibrar o jogo pró-Wanderlei Barbosa. O vice do governador, Laurez Moreira, com prestígio na região de Gurupi, também estava articulando com o grupo de Ronaldo Dimas.
Até o fato de Wanderlei Barbosa ter nascido no Tocantins, na cidade de Porto Nacional, merece aprovação dos eleitores — desconfiados que estão de “estrangeiros” como Mauro Carlesse. O governador é visto como “gente como a gente”
Então, com duas tacadas — certeiras, de gênio político —, Wanderlei Barbosa tanto desmontou a chapa de Ronaldo Dimas quanto construiu a sua própria.
Sem Professora Dorinha — que deve ser eleita senadora, derrotando a veterana senadora Kátia Abreu, do pP — e sem Laurez Moreira, restou a Ronaldo Dimas compor com a velha guarda da política do Tocantins. Ou seja, o ex-prefeito de Araguaína, que se apresentava como renovação — como o político que iria “limpar” a política do Tocantins —, rendeu-se a aliados como Marcelo Miranda, Freire Júnior (seu vice), ambos do MDB, e o ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha, do PSB. Os três são políticos que têm desgaste e não representam nenhuma renovação política nem administrativa. Pelo contrário, são mais do mesmo. E, na campanha, se tornaram um fardo para Ronaldo Dimas — que, este sim, é um símbolo de renovação. Entretanto, pode-se postular que Ronaldo Dimas começou como “novo” e está terminando a campanha como “velho” — o que é lamentável, porque se trata de um político de valor, decente.
O grande padrinho da campanha de Ronaldo Dimas, o senador Eduardo Gomes, não se revelou o “general” eleitoral que se esperava. Ele fez, por assim dizer, “forfait”. Há quem avalie que o líder do PL, um político hábil, já está de olho na disputa de 2026 — quando o embate para o governo deve ser entre ele e Professora Dorinha.
Já Professora Dorinha, uma política acima da média, “renovou” a aliança de Wanderlei Barbosa. Então, durante a campanha, o governador, que havia sido aliado de Mauro Carlesse, ganhou uma aliada que “remoçou” sua imagem.