Por que o Major Vitor Hugo, o mais votado para vereador em Goiânia, na eleição de 6 de outubro, não está na campanha do candidato do PL a prefeito de Goiânia, Fred Rodrigues? O ex-deputado federal é a ausência mais notada e nem o ex-presidente Jair Bolsonaro — de quem é amigo, o principal em Goiás, ao lado de Ugton Batista —conseguiu convencê-lo a apoiar e defender o candidato da extrema-direita.

Major Vitor Hugo não é apenas adversário interno de Fred Rodrigues e do deputado federal Gustavo Gayer. Na verdade, são inimigos. Por isso, é provável que, no domingo, 27, o vereador recém-eleito vote no candidato do União Brasil, Sandro Mabel, ou se abstenha de votar. Em Fred Rodrigues, sabe-se, não votará. De jeito nenhum. Ele está mais interessado na vitória de seu amigo Márcio Corrêa, candidato do PL a prefeito de Anápolis.

A extrema-direita está, portanto, irremediavelmente dividida em Goiás e, portanto, em Goiânia. O que mostra a incapacidade de Fred Rodrigues em agregar forças políticas. O trânsito político dele, no próprio partido, é ruim. Ugton Batista, bolsonarista de primeira linha, apoia Sandro Mabel.

Entenda a seguir porque Fred Rodrigues, com seu mentor Gustavo Gayer — são conhecidos pelos rivais internos como Pink e Cérebro —, não toleram Major Vitor Hugo e vice-versa.

O vídeo da discórdia na extrema-direita

Um vídeo publicado há três anos no canal do YouTube de Fred Rodrigues — deputado estadual cassado — voltou a circular nas redes sociais puxado por seu viés inusitado em comparação com o momento atual. O vídeo expõe uma divisão acentuada na extrema-direita goiana e goianiense durante as eleições municipais de 2020, ocasião em que o ex-deputado federal Major Vitor Hugo (vereador mais votado do pleito deste ano, em Goiânia) “supostamente” ataca o então candidato Gustavo Gayer e pede que os eleitores “olhem a ficha policial” dele (supostamente está entre aspas porque o ex-parlamentar não menciona nominalmente o nome de Gustavo Gayer, mas deixa claro de quem está falando). Em resposta, Fred Rodrigues, no vídeo, manda Vitor Hugo “criar vergonha”, enquanto Gustavo Gayer chama o major de “oportunista”.

O vídeo na página de Fred Rodrigues, intitulado “Ciúmes ou Vaidade? Major Vitor Hugo ataca Professor Bolsonarista que disputa Prefeitura de Goiânia”, foi divulgado no dia 29 de outubro de 2020, logo após Gustavo Gayer disputar a Prefeitura de Goiânia pelo DC clamando o apoio da base bolsonarista e do então presidente Jair Bolsonaro em pessoa.

Em sua fala, Major Vitor Hugo, filiado ao PSL à época, fala em “neutralidade” nas eleições “em algumas cidades do Estado de Goiás” e expõe uma extrema-direita dividida ao dizer que “quer que a direita prospere em Goiás”, mas que não vai “apoiar qualquer charlatão que aparecer”. O então deputado tece críticas a Gustavo Gayer, sem citar o nome dele, mas trazendo à tona, conforme dito na própria descrição do vídeo de Fred Rodrigues, “especificamente eventos e uma tragédia que ocorreram na vida do Professor. Coisas que Gayer nunca escondeu e sempre falou abertamente em seus vídeos”. Gustavo Gayer era professor de inglês.

“Avalie com muito cuidado a origem desse candidato, ou desses candidatos postos. O que a família dele defendeu ao longo da história? O que ele fez? Olha o currículo dele, olha a ficha dele, policial. Será que ele bebia e dirigia bêbado? Será que ele atropelou alguém? Será que o carro capotou com ele bêbado e ele matou alguém? Será que ele foi pego com drogas, por exemplo? Será que ele está num partido que não tem influência no Congresso Nacional?”, afirma Vitor Hugo.

De fato, a mãe de Gustavo Gayer, delegada da Polícia Civil, era de esquerda e ligada à jornalista Consuelo Nasser, que era filiada ao Partido Comunista do Brasil (PC do B). E, sim, o parlamentar atropelou e matou uma pessoa, não de maneira dolosa, tudo indica.

O vídeo traz uma sequência de respostas a Major Vitor Hugo logo após a fala dele, entre elas a do influencer bolsonarista Allan dos Santos (que hoje está foragido da Justiça brasileira nos EUA, acusado de atuação em organização criminosa, crimes contra honra e incitação a crimes, além de lavagem de dinheiro), de Fred Rodrigues e do próprio Gustavo Gayer.

Fred Rodrigues afirma que ‘há conservadores em Goiânia que acham que têm o monopólio da direita”. “Cito nomes aqui: Major Vitor Hugo, o senhor tem que criar vergonha. O senhor foi eleito [deputado] por Goiânia, por movimentos conservadores de Goiânia e de Goiás, e agora o senhor virou as costas porque o senhor está atacando o Gustavo Gayer da forma mais vil e baixa possível […]”.

Já Gustavo Gayer, no vídeo, diz que Major Vitor Hugo “não conhece Goiânia’ e foi eleito “na sombra do Delegado Waldir”. “Essa lealdade dele ao Bolsonaro não é uma lealdade ideológica e política, é uma lealdade ao poder. Porque ele sabe que a única chance dele se reeleger é ele continuar como papagaio de pirata.” Major Vitor Hugo continua privando da amizade de Jair Bolsonaro. “É um dos primeiros-amigos, enquanto Gustavo Gayer é um dos últimos-amigos”, afirma um bolsonarista.

“Eu percebi que o senhor ficou muito intimidado com meu crescimento. Ao ponto de me atacar usando a minha mãe e uma tragédia da minha vida”, continua o hoje deputado federal. Gayer diz ainda, no vídeo, amar Jair Bolsonaro, mas que “a direita em Goiânia está rachada, e quem causou esse racha foi o Major Vitor Hugo”. “Inclusive, um assessor dele tentou comprar meu apoio me oferecendo a Secretaria de Educação.”

Mesmo tendo ocorrido três anos atrás, circula nos bastidores que a crise em questão ainda paira entre os envolvidos, respingando, inclusive, na atual candidatura de Fred Rodrigues. Tanto Vitor Hugo quanto Fred Rodrigues e Gustavo Gayer se filiaram, tempos depois, ao PL – assim como o próprio Bolsonaro. No entanto, a postura do vereador do PL mais bem votado de Goiânia destas eleições, Major Vitor Hugo, é vista como distante do nome de Fred e põe em dúvida o engajamento dele na candidatura dele.

O Jornal Opção procurou Major Vitor Hugo para saber se mantém, em outubro de 2024, o posicionamento em relação a Gayer e Fred — o que explicaria uma certa ausência do vereador eleito na campanha do candidato a prefeito —, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto tanto para o vereador recém-eleito quanto para Gustavo Gayer.