Ainda não é possível extrair, digamos, “conclusões” a respeito da disputa eleitoral de 2026 — que serão realizadas daqui a um ano, dez meses e alguns dias. Qualquer comentário é mais especulativo do que factual.

Entretanto, como os políticos estão “jogando” (ou simulando que estão jogando), ainda à beira do gramado, é preciso seguir suas pegadas e comentá-las.

Numa entrevista à revista “Veja”, Jair Bolsonaro, do PL, disse que será candidato a presidente da República em 2026. Será? Não se sabe.

Na verdade, acatando as leis do país, Jair Bolsonaro está inelegível; portanto, não pode ser candidato na próxima disputa eleitoral.

Jair Bolsonaro, político de direita, está buscando inspiração num político de esquerda, o presidente Lula da Silva, do PT.

Em 2018, Lula da Silva disse, o tempo todo, que seria candidato a presidente, contra qualquer expectativa racional. Então, como estava inelegível, teve de apoiar o economista Fernando Haddad para presidente.

Jair Bolsonaro e Lula da Silva: o segundo é candidato e o primeiro será cabo eleitoral | Fotos: Divulgação

Lula da Silva “segurou” o jogo até quando pôde, apresentando-se como candidato, com o objetivo de transferir voto para Fernando Haddad.

Deu certo, mas só em parte. Fernando Haddad foi bem votado, mas perdeu para Jair Bolsonaro.

Agora, seguindo Lula da Silva, Jair Bolsonaro está dizendo que será candidato — quando não será. Ele planeja, tal como o petista-chefe, transferir voto para o seu candidato, em cima da hora.

Na eleição municipal de 2024, Jair Bolsonaro quase não conseguiu transferir voto — por exemplo, no Rio de Janeiro e em Goiânia. Porém, para a disputa presidencial, pode ser diferente. O candidato será outro, mas será como se fosse o ex-presidente. É o verdadeiro “jogo” do ex-presidente.

Lula da Silva é candidatíssimo à reeleição

Mestre da política, Lula Silva sugere que poderá não ser candidato. Papo furadíssimo. Será candidato. Até porque o PT — aliás, a esquerda — não tem um substituto à altura.

Na verdade, e taticamente está certo, Lula da Silva tenta apenas “segurar” um pouco o processo eleitoral. O petista-chefe sabe que necessita fazer um bom governo, por isso precisa, digamos assim, “despolitizar” os palanques que as direitas estão montando e as esquerdas ainda não querem (e não devem) montar.

O que Lula da Silva, uma raposa, não quer repetir é o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que perdeu com sua pupila, Kamala Harris, do Partido Democrata. O governo de Biden não é ruim, mas o custo de vida elevado jogou os eleitores nas mãos de Donald Trump, o presidente eleito na terça-feira, 5.

Lula da Silva não faz um governo ruim, mas prevalece a sensação de que o país está estagnado. A economia, mesmo crescendo (surpreendendo os homens do mercado) e gerando empregos, não produz a sensação, às pessoas, de que suas vidas estão melhorando no dia a dia.

A publicidade do governo Lula da Silva é tão ruim que não consegue explicar o que se está fazendo de positivo em termos de economia e no social.

Jogo de Bolsonaro é mais familiar do que partidário

Com seu olhar agudo para a realidade, porque é um realista absoluto, Lula da Silva está de olho numa questão: em 2018 e 2022, o PT enfrentou uma direita razoavelmente unida.

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Jair e os filhos, Flávio, Eduardo e Carlos: a oligarquia Bolsonaro | Foto: Divulgação

Porém, para a disputa de 2026, não se terá uma direita, e sim direitas.

No momento, a direita mais forte é a bolsonarista. Mas, como o bolsonarismo ainda não tem candidato a presidente — e não será Jair Bolsonaro —, há uma espécie de vazio no seu grupo.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, será candidato a presidente? Tudo indica que não. E é provável que nem mesmo Jair Bolsonaro queira que ele dispute. Porque seu pupilo, se for eleito presidente, praticamente o “apagará” da história atual, ao ocupar seu espaço.

Se eleito presidente, Tarcísio de Freitas pode representar a morte política de Jair Bolsonaro. Até porque, se eleito em 2026, deverá disputar a reeleição em 2030. Então, Jair Bolsonaro só poderia voltar a disputar a Presidência em 2034, com 79 anos.

Então, o que fará Jair Bolsonaro? Não se sabe. Talvez nem ele saiba. Talvez banque um filho, como o senador Flávio Bolsonaro ou o deputado federal Eduardo Bolsonaro, ou então sua mulher, Michelle Bolsonaro, todos do PL.

Jair Bolsonaro poderá apoiar os governadores Romeu Zema, de Minas Gerais, ou Ratinho Júnior, do Paraná? Muito difícil.

Caiado e Marçal podem marchar juntos?

Por que, de todos os pré-candidatos, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil, é o que mais incomoda Jair Bolsonaro?

Porque, de todos, Ronaldo Caiado é o mais independente, é filiado a um grande partido e articula livremente pelo país afora, sem a necessidade do apadrinhamento do ex-presidente.

Pode-se sugerir, portanto, que Jair Bolsonaro teme Ronaldo Caiado, sobretudo porque o líder goiano pertence à direita ilustrada, avessa a putschs. A civilização do político do Centro-Oeste parece incomodar a barbárie que envolve e cerca o líder do PL.

Jair Bolsonaro aprecia cercar-se de pessoas controláveis. Não é o caso de Ronaldo Caiado.

Por ser realista, nada dado a ilusões políticas, Ronaldo Caiado sabe que não será fácil enfrentar Lula da Silva, à esquerda, e o candidato do bolsonarismo, à direita. O que fazer?

Aí entra Pablo Marçal, goiano que milita politicamente em São Paulo, tendo disputado a prefeitura da capital recentemente, obtendo uma excelente votação, apesar de ter ficado em terceiro lugar. Superou, por exemplo, Tabata Amaral, do PSB.

São Paulo é o Estado mais rico e o que tem mais eleitores do Brasil. Por isso, uma aliança com um político de lá será positiva para Ronaldo Caiado.

Mas, numa aliança entre Ronaldo Caiado e Pablo Marçal, quem seria o candidato a presidente da República?

Ronaldo Caiado, por ter mais estatura política e experiência administrativa — na educação, Goiás é o primeiro colocado no Ideb; na segurança, o crime organizado foi contido no Estado —, tende a ser o candidato a presidente. Por ter recém-entrado no jogo político, Pablo Marçal poderia ser o vice. Para uma disputa presidencial, que cobra consistência dos candidatos, não basta popularidade (que pode derreter de uma hora para outra).

Na vice, Pablo Marçal levaria uma parte dos eleitores do bolsonarismo para a campanha de Ronaldo Caiado. É bem provável que a popularidade de Pablo Marçal pode ajudar mais Ronaldo Caiado do que a ele mesmo.

Já Ronaldo Caiado poderia absorver o voto dos eleitores de direita que não são radicalizados e de centro. O centro está em busca de um candidato que, não sendo de esquerda e de direita radical, seja moderado e contribua para o crescimento da economia do país.

Então, o jogo ainda “não” começou, porque os times ainda não estão devidamente escalados. Mas os jogadores já estão de camisa, calção e meião. Só falta calçar as chuteiras e pisar no gramado. Mas todos já entenderam que é preciso se expor agora. Quem deixar para se apresentar em 2026 não se tornará amplamente conhecido num país continental como o Brasil, com seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados. (Euler de França Belém)