Mas deputado acredita em “traição” de Eduardo Gomes e postula que o senador pode ser candidato de Mauro Carlesse e Wanderlei Barbosa

Eduardo Gomes: o senador vai “trair” o governador Mauro Carlesse ou o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas? Eis a questão | Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

O quadro político do Tocantins está se complicando. O governador Mauro Carlesse, agora filiado ao PSL — muda mais de partido do que modelo em desfile de roupas —, deve renunciar ao mandato em abril de 2022, daqui a meros 11 meses, “um pulinho”, dizem os políticos locais.

Carlesse diz publicamente que será candidato a senador, mas ninguém acredita, nem ele, que terá tutano para enfrentar uma peso-pesado da política como a senadora Kátia Abreu (partido Progressistas), que é vista como uma mulher de fibra (acabou de contribuir para derrubar o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo). O governador estaria mandando sua equipe e jornalistas de sua confiança absoluta — “um exército”, afirma um deputado — espalharem a notícia de que Kátia Abreu será candidata a deputada federal, abrindo espaço para ele disputar mandato de senador. Entretanto, nos bastidores, já admite que deverá disputar mandato de deputado federal.

Mauro Carlesse: o governador renuncia daqui a 11 meses e, na planície, perderá força e deverá ser candidato a, no máximo, deputado federal | Foto: Josy Karla

Sobretudo, Carlesse não pode ficar sem mandato. “Se Ronaldo Dimas for eleito governador, certamente fará uma devassa nas contas do governo do Estado. Tenho a impressão de que, em um ano, Carlesse se tornará o segundo Marcelo Miranda da política do Tocantins”, postula um deputado. “Carlesse precisa de mandato para ter força política, mas principalmente imunidade parlamentar”, acrescenta o parlamentar. “Políticos, quando deixam o comando do governo do Tocantins, são bombardeados por investigações. Não creio que será diferente em 2023, especialmente se Ronaldo Dimas for eleito governador.”

Em tese, Carlesse quer bancar o senador Eduardo Gomes, do MDB, para governador. E, de fato, Eduardo Gomes tem vontade de ser governador. Mas teria “apalavrado” com o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas que o apoiará para governador.

Wanderlei Barbosa de Castro, vice-governador, e Mauro Carlesse, governador do Tocantins: aliados até quando? | Foto: Reprodução

Ronaldo Dimas está percorrendo o Estado e dialogando com prefeitos e lideranças políticas. “Recentemente, me contou um prefeito, Ronaldo Dimas passou por sua cidade e os dois conversaram cordialmente. Três horas depois, um auxiliar de Carlesse ligou para o prefeito e sugeriu que, se continuasse recebendo o postulante oposicionista, poderia ser boicotado pelo governo. A pergunta de 1 milhão de dólares é: Eduardo Gomes vai trair Ronaldo Dimas ou Carlesse? Espécie de mentor de Carlesse, Eduardo Gomes é uma raposa política, tanto que tem forte presença em Brasília [a revista “Época” desta semana sugere que está perdendo força junto a Bolsonaro] e suas lealdades são sempre provisórias, pois seus interesses pessoais estão acima de amizades e questões ideológicas e partidárias”, sublinha o deputado.

O Jornal Opção, com base no que ouviu do deputado (o nome é mantido no anonimato para evitar perseguição ao político e, sobretudo, aos seus familiares), perguntou a dois outros políticos, um de Palmas e um de Porto Nacional: “No frigir dos ovos, o que vai realmente vai acontecer na política do Tocantins em termos de disputa para o governo?”

Sem que tivessem se comunicado, os dois políticos disseram praticamente a mesma coisa: os apoios no Tocantins dependem de pesquisas de intenção de voto. “Se Ronaldo Dimas estiver muito bem, não resta a menor dúvida: Eduardo Gomes o apoiará. Se estiver mal, o senador sairá candidato”, afirma o político de Palmas.

Ronaldo Dimas, ex-prefeito de Araguaína por dois mandato e engenheiro:  pré-candidato forte, mas pode perder energia se for traído pelo senador Eduardo Gomes | Foto: Reprodução

“Se Ronaldo Dimas aparecer bem nas pesquisas, de maneira consistente, com forte presença em cidades grandes, como Palmas, Araguaína e Gurupi, a tendência é ser bancado por Eduardo Gomes. Mas, se piscar em termos de popularidade, Eduardo Gomes será candidato”, afirma o político de Porto Nacional.

Há, porém, uma pedra no caminho de todos: o vice-governador, Wanderlei Barbosa de Castro (PTB), de 57 anos, deve assumir o governo do Tocantins daqui a 11 meses, em 5 de abril de 2022. Ao assumir o governo, passa a ter força para disputar a reeleição. Se Eduardo Gomes se definir por Ronaldo Dimas, a tendência é que Carlesse “banque” a candidatura de Wanderlei, como seu padrinho político. Frise-se que, sem o apoio de Wanderlei, se este se tornar governador, Carlesse não tem a mínima chance de ser eleito para o Senado e terá dificuldade para se eleger inclusive para deputado federal. Carlesse é o tipo de político que, para disputas que exigem muitos votos, precisa do apoio de estruturas gigantes, porque não é um político carismático — é até meio “bronco” e “politicamente incorreto”. Portanto, deve acabar apoiando Wanderlei para governador.

Então, Carlesse e Eduardo Gomes — espécie de mentor do primeiro — podem militar em campos opostos em 2022? Os políticos de Porto Nacional e Palmas avaliam que “sim”. Mas o deputado postula que é possível uma outra interpretação: “Se Ronaldo Dimas for eleito com o apoio de Eduardo Gomes, é provável que o senador consiga evitar uma devassa nas contas de Carlesse”. O deputado também sugere que tem ouvido falar num “pacto secreto” — na verdade, não mais secreto — entre Carlesse e Eduardo Gomes. Os dois, no momento oportuno, selariam uma aliança contra Ronaldo Dimas, e com Eduardo Gomes como candidato a governador.

“No Tocantins, sabe-se, tudo pode acontecer — inclusive nada”, frisa o parlamentar. “O fato é que, neste momento, todo mundo está articulando e é verdade que Eduardo Gomes sonha com a possibilidade de ser governador do Tocantins. Se necessário, vai atropelar Ronaldo Dimas. Se obtiver o apoio de Carlesse e de Wanderlei, não vai hesitar em trair Ronaldo, mesmo se estiver fazendo ‘juras de amor eterno’ ao aliado.”

O deputado acrescenta outra informação”: “Carlesse não aprecia o vice, mas o tolera, até porque vai precisar dele para a disputa de 2022”.