Eduardo Gomes e Ronaldo Dimas podem se aliar para enfrentar candidato de Carlesse no Tocantins?

02 maio 2021 às 00h01

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Mas deputado acredita em “traição” de Eduardo Gomes e postula que o senador pode ser candidato de Mauro Carlesse e Wanderlei Barbosa

O quadro político do Tocantins está se complicando. O governador Mauro Carlesse, agora filiado ao PSL — muda mais de partido do que modelo em desfile de roupas —, deve renunciar ao mandato em abril de 2022, daqui a meros 11 meses, “um pulinho”, dizem os políticos locais.
Carlesse diz publicamente que será candidato a senador, mas ninguém acredita, nem ele, que terá tutano para enfrentar uma peso-pesado da política como a senadora Kátia Abreu (partido Progressistas), que é vista como uma mulher de fibra (acabou de contribuir para derrubar o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo). O governador estaria mandando sua equipe e jornalistas de sua confiança absoluta — “um exército”, afirma um deputado — espalharem a notícia de que Kátia Abreu será candidata a deputada federal, abrindo espaço para ele disputar mandato de senador. Entretanto, nos bastidores, já admite que deverá disputar mandato de deputado federal.

Sobretudo, Carlesse não pode ficar sem mandato. “Se Ronaldo Dimas for eleito governador, certamente fará uma devassa nas contas do governo do Estado. Tenho a impressão de que, em um ano, Carlesse se tornará o segundo Marcelo Miranda da política do Tocantins”, postula um deputado. “Carlesse precisa de mandato para ter força política, mas principalmente imunidade parlamentar”, acrescenta o parlamentar. “Políticos, quando deixam o comando do governo do Tocantins, são bombardeados por investigações. Não creio que será diferente em 2023, especialmente se Ronaldo Dimas for eleito governador.”
Em tese, Carlesse quer bancar o senador Eduardo Gomes, do MDB, para governador. E, de fato, Eduardo Gomes tem vontade de ser governador. Mas teria “apalavrado” com o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas que o apoiará para governador.

Ronaldo Dimas está percorrendo o Estado e dialogando com prefeitos e lideranças políticas. “Recentemente, me contou um prefeito, Ronaldo Dimas passou por sua cidade e os dois conversaram cordialmente. Três horas depois, um auxiliar de Carlesse ligou para o prefeito e sugeriu que, se continuasse recebendo o postulante oposicionista, poderia ser boicotado pelo governo. A pergunta de 1 milhão de dólares é: Eduardo Gomes vai trair Ronaldo Dimas ou Carlesse? Espécie de mentor de Carlesse, Eduardo Gomes é uma raposa política, tanto que tem forte presença em Brasília [a revista “Época” desta semana sugere que está perdendo força junto a Bolsonaro] e suas lealdades são sempre provisórias, pois seus interesses pessoais estão acima de amizades e questões ideológicas e partidárias”, sublinha o deputado.
O Jornal Opção, com base no que ouviu do deputado (o nome é mantido no anonimato para evitar perseguição ao político e, sobretudo, aos seus familiares), perguntou a dois outros políticos, um de Palmas e um de Porto Nacional: “No frigir dos ovos, o que vai realmente vai acontecer na política do Tocantins em termos de disputa para o governo?”
Sem que tivessem se comunicado, os dois políticos disseram praticamente a mesma coisa: os apoios no Tocantins dependem de pesquisas de intenção de voto. “Se Ronaldo Dimas estiver muito bem, não resta a menor dúvida: Eduardo Gomes o apoiará. Se estiver mal, o senador sairá candidato”, afirma o político de Palmas.

“Se Ronaldo Dimas aparecer bem nas pesquisas, de maneira consistente, com forte presença em cidades grandes, como Palmas, Araguaína e Gurupi, a tendência é ser bancado por Eduardo Gomes. Mas, se piscar em termos de popularidade, Eduardo Gomes será candidato”, afirma o político de Porto Nacional.
Há, porém, uma pedra no caminho de todos: o vice-governador, Wanderlei Barbosa de Castro (PTB), de 57 anos, deve assumir o governo do Tocantins daqui a 11 meses, em 5 de abril de 2022. Ao assumir o governo, passa a ter força para disputar a reeleição. Se Eduardo Gomes se definir por Ronaldo Dimas, a tendência é que Carlesse “banque” a candidatura de Wanderlei, como seu padrinho político. Frise-se que, sem o apoio de Wanderlei, se este se tornar governador, Carlesse não tem a mínima chance de ser eleito para o Senado e terá dificuldade para se eleger inclusive para deputado federal. Carlesse é o tipo de político que, para disputas que exigem muitos votos, precisa do apoio de estruturas gigantes, porque não é um político carismático — é até meio “bronco” e “politicamente incorreto”. Portanto, deve acabar apoiando Wanderlei para governador.
Então, Carlesse e Eduardo Gomes — espécie de mentor do primeiro — podem militar em campos opostos em 2022? Os políticos de Porto Nacional e Palmas avaliam que “sim”. Mas o deputado postula que é possível uma outra interpretação: “Se Ronaldo Dimas for eleito com o apoio de Eduardo Gomes, é provável que o senador consiga evitar uma devassa nas contas de Carlesse”. O deputado também sugere que tem ouvido falar num “pacto secreto” — na verdade, não mais secreto — entre Carlesse e Eduardo Gomes. Os dois, no momento oportuno, selariam uma aliança contra Ronaldo Dimas, e com Eduardo Gomes como candidato a governador.
“No Tocantins, sabe-se, tudo pode acontecer — inclusive nada”, frisa o parlamentar. “O fato é que, neste momento, todo mundo está articulando e é verdade que Eduardo Gomes sonha com a possibilidade de ser governador do Tocantins. Se necessário, vai atropelar Ronaldo Dimas. Se obtiver o apoio de Carlesse e de Wanderlei, não vai hesitar em trair Ronaldo, mesmo se estiver fazendo ‘juras de amor eterno’ ao aliado.”
O deputado acrescenta outra informação”: “Carlesse não aprecia o vice, mas o tolera, até porque vai precisar dele para a disputa de 2022”.