O observador atento da política sabe por qual motivo o candidato a senador pelo PSDB, Marconi Perillo, começa a concentrar energia na Grande Goiânia, notadamente a capital e em Senador Canedo.

Os jornais dão a notícia, mas às vezes não explicam seus bastidores. Ocorre que Perillo, uma raposa felpuda das mais astutas, sabe que sua rejeição na Grande Goiânia é gigante e pode contribuir para uma derrota eleitoral.

Apenas quatro cidades da Grande Goiânia — Aparecida (329.587), Trindade (88.014), Senador Canedo (81.208) e Goiânia (1.014.456) — concentram 1.513.264 eleitores de Goiás (4 milhões de eleitores). Ou seja, mais de um terço dos eleitores do Estado estão radicados em tais municípios. Mais: a região é uma caixa de ressonância para o Estado. Tudo que repercute aí chega a todo o Estado, influenciando as demais cidades.

Atento às pesquisas, Perillo sabe que não está bem na Grande Goiânia — daí ter se voltado para a região.

Porém, hábil que é, Perillo sabe mais do que dizem seus seguidores — às vezes, mais aduladores. O tucano sabe que a eleição para o Senado não está decidida. O quadro está inteiramente aberto.

Por que realmente Perillo aparece em primeiro lugar? Pesquisadores experimentados sugerem que, considerando sua rejeição — acima de 30% (e tende a ser ampliada, dadas as críticas dos adversários) —, a liderança pode ser “inercial”. O que isto quer dizer?

Marconi Perillo lidera mas pode despencar? | Foto: Arquivo/ Edilson Rodrigues/Agência Senado

Simples: a liderança de Perillo, no momento, pode resultar não de sua força política, e sim do fato de ser o mais conhecido. Noutras palavras, é muito provável que os demais candidatos — Delegado Waldir (já é um pouco mais avaliado), do União Brasil, João Campos, do Republicanos, Alexandre Baldy, do pP, Vilmar Rocha, do PSD, Denise Carvalho, do PC do B — ainda não estejam sendo avaliados de maneira ampla. Os eleitores estão definindo seus candidatos a presidente, governador e deputado federal e deputado estadual. A partir de agora, com o conhecimento de quais são os candidatos, começarão a definir em quem irão votar para senador.

Se a liderança de Perillo é inercial, se isto for comprovado, sobretudo a partir do dia 20 de setembro, o quadro político-eleitoral poderá ser outro, muito diferente, quando se contar os votos.

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Delegado Waldir e Alexandre Baldy: disputa pode ser entre os dois | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

A tendência — insista-se: tendência — é que, sob ataque maciço dos adversários, que se tornarão mais conhecidos, Perillo comece a cair. O fantasma de 2018, quando ele ficou em quinto lugar, permanece assustando-o, daí sua presença na Grande Goiânia, nos últimos dias.

Pesquisadores sugerem que, como o quadro para o Senado ainda não está definido, há a possibilidade de uma reviravolta nas primeiras colocações. Há quem avalie que Perillo não ficará em quinto lugar como em 2018 (perdeu para Vanderlan Cardoso, Jorge Kajuru, os eleitos, e Lúcia Vânia e Wilder Morais), e sim em terceiro lugar, atrás do deputado federal Delegado Waldir Soares e do ex-ministro Alexandre Baldy.

Uma das teses é: a força do governador Ronaldo Caiado — as pesquisas de intenção de voto sugerem que será reeleito no primeiro turno — vai puxar tanto Delegado Waldir quanto Alexandre Baldy para cima, o que contribuirá, possivelmente, para a desidratação de Perillo.

Outra tese: a popularidade do Delegado Waldir, que o coloca em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, começa a ameaçar, eleitoralmente, Perillo. A diferença entre eles — ainda que, no momento, estável — é pequena. Uma queda factível de três pontos percentuais do postulante tucano pode impactar o quadro, puxando o candidato do União Brasil para cima. Aliados do candidato do PSDB têm dito, nos bastidores, que, na reta final, temem um crescimento vertiginoso de Delegado Waldir — o que poderá provocar uma debacle tucana tal como ocorreu em 2018.

Uma terceira tese: Alexandre Baldy está constituindo uma força eleitoral — um verdadeiro exército — em todo o Estado. Quando tais forças estiverem todas em campo, pedindo votos para o ex-ministro, pode ocorrer uma mudança no quadro. A campanha mais profissional de todas é a do postulante do partido Progressistas. Por isso, pesquisadores profissionais sugerem que a disputa para senador, a partir de 20 de setembro, poderá se dar entre Delegado Waldir e Alexandre Baldy.

O risco do teto de 24%: Perillo estaria preocupado

Perillo, que nada tem de bobo, percebeu cedo que alguma coisa está ocorrendo no subterrâneo da política. Ele entendeu que 24% representam um teto — e dos mais perigosos, porque sua frente, para o segundo colocado, é pequena. Por mais que ele trabalhe, com uma campanha aparentemente cara — seu segundo suplente, Marcos Ermírio de Morais (é pura maledicência chamá-lo de “trem-pagador”), é dono de uma fortuna de 1,2 bilhão de reais e o primeiro suplente, Jalles Fontoura, declarou bens no valor de 166 milhões de reais —, não sai de 24%. Vale lembrar que se trata de um político que foi governador de Goiás quatro vezes, além de deputado estadual, deputado federal e senador. Ou seja, de todos os candidatos, é o que mais tem experiência política. Então, sua liderança pode ser mais frágil do que parece à primeira vista.

Não se está sugerindo que Perillo é “fraco” e que não tem chance de ser eleito senador. Claro que é possível que seja eleito. O que está se postulando é que há chance de reviravolta, ante o “teto” do candidato tutano. Note-se que se o candidato do PSDB cair três pontos, o quadro eleitoral muda, de repente, de configuração. E, se ele cair para o segundo lugar, pode ser que, em seguida, caia para o terceiro lugar — numa desidratação político-eleitoral impressionante. Aliados do tucano dizem que ele é está “preocupado” e “incomodado” — tanto que estaria orientando aliados, inclusive na imprensa, a “atacar” Delegado Waldir e Alexandre Baldy.