Dilma Rousseff e Gilberto Kassab: aliança para reduzir força do PMDB e criar uma nova força política no Congresso Nacional. Jogada de mestre | Fotos: ABr e Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
Dilma Rousseff e Gilberto Kassab: aliança para reduzir força do PMDB e criar uma nova força política no Congresso Nacional. Jogada de mestre | Fotos: ABr e Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Com sua ampla estrutura no Congresso Nacional, o PMDB transformou a República em refém e, por isso, nem precisa eleger presidente da República. Da Câmara dos Deputados e do Senado, o partido, muito bem articulado, governa o País como se fosse um primeiro-ministro. Pode-se sugerir, até, que há uma espécie de parlamentarismo às avessas. A presidente Dilma Rousseff, do PT, é poderosa, tem a caneta, porém, para mover o governo, precisa, cada vez mais, da elite orgânica do peemedebismo.

O PT fez um pacto faustiano com as elites políticas tradicionais. Para ter o controle do poder central, o governo petista, de Lula da Silva a Dilma Rousseff, cede parte dos anéis — como a Petrobrás — e, às vezes, perde parte dos dedos. Ninguém, nem Goethe e Thomas Mann, com “Fausto” e “Doutor Fausto”, sabe exatamente como terminam os pactos faustianos. Dadas as crises do mensalão e do petrolão, corrupções criadas para sustentar alianças políticas mas que se tornaram sistêmicas, percebe-se que o pacto faustiano tende, a médio ou a longo prazo, a implodir o PT.

Ao perceber que se tornou uma prisioneira do “cerco” patrocinado pelo PMDB — é a controladora manietada pelo supostamente controlado —, a presidente Dilma Rousseff, que não é uma néscia, está procurando uma alternativa. Lula da Silva, ao contrário, avalia que, fora da aliança com o PMDB, não há salvação. A petista-chefe acredita que há.

Nos últimos meses, Dilma Rousseff tem conversado, com frequência, com o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. Sobre o que dialogam, com tanta intimidade, não se sabe com precisão. Consta que se tornaram amigos, talvez motivados pelo fato de que são solteiros e solitários. Mas um assunto tem sido discutido com assiduidade pela presidente e o ex-prefeito de São Paulo. Trata-se da recriação do Partido Liberal.

Por que o PL, partido que tem no goiano Cleovan Siqueira seu messias, interessa tanto à presidente e ao líder do PSD?

A história é longa e complexa, mas vamos sintetizá-la. Dilma Rousseff, com o apoio de Kassab, planeja um par e um concorrente para o PMDB no Congresso Nacional. “Outro” PMDB. Ab­surdo? Parece, mas não é.

O PSD elegeu em 2014 a quarta maior bancada, com 37 deputados federais (ficou menor). Assim, não é páreo para o PMDB, que tem quase o dobro de parlamentares. Pois é aí que entra o PL.

Criado com o beneplácito da presidente, e aberta a “janela”, o PL pode atrair parlamentares descontentes de outros partidos, inclusive do PMDB, e mais tarde poderá se fundir com o PSD. Assim o PSD — que poderia se tornar PSDL — se tornaria um dos maiores partidos do Congresso, atrás somente do PMDB. Ou até empatado. Acredita-se que a fusão PSD-PL atrairia mais de 20 parlamentares. A bancada do PSD chegaria quase a 60.

Resta saber se a jogada vai funcionar. Se der certo, Dilma Rousseff terá nas mãos uma arma, somada ao PT, para negociar, de maneira mais republicana, com o PMDB.