O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil, é um político incomum. Quando estão pensando no trivial, ele está pensando no essencial.

Em 2022, quando convidou Daniel Vilela, do MDB, para sua vice, com bastante antecedência — o que impediu, inclusive, uma guerra fratricida nas suas hostes —, muita gente categorizada de sua base política reclamou. Dizia: como iria à reeleição, muito bem avaliado, não precisaria dos emedebistas.

Daniel Vilela e Ronaldo Caiado: operando para a disputa de 2026 | Foto: Divulgação

Porém, o estrategista que há em Ronaldo Caiado falou mais alto e, por isso, colocou Daniel Vilela como vice. Evitar riscos desnecessários é uma característica crucial dos políticos atentos aos humores da sociedade, dos eleitores.

Ao atrair Daniel Vilela para o seu lado, de cara, Ronaldo Caiado esvaziou as oposições. O jovem político simbolizava também a renovação e o partido mais consolidado no Estado, dada sua longeva história. Além disso, é filho de Maguito Vilela, um dos políticos mais populares de Goiás, que foi governador, senador e prefeito de Aparecida de Goiânia.

Ante o resultado eleitoral, uma vitória no primeiro turno, é possível concluir que Ronaldo Caiado, ao puxar Daniel Vilela para sua base, tinha razão — e parte de sua base estava equivocada.

Ronaldo Caiado e Gustavo Mendanha | Foto: Reprodução

Ronaldo Caiado não decide baseado em mágoas e arestas. Decide com base na razão, na inteligência política e bom senso. Por isso, terminada a disputa de 2022, longe de cultivar raiva ou ódio de Gustavo Mendanha, que o criticara com certa acidez na campanha, optou por aproximá-lo da base governista.

O motivo da aproximação é fortalecer a candidatura de Daniel Vilela em 2026, daqui a dois anos e seis meses (daqui a dois anos, no início de abril de 2026, o emedebista assume o governo). Uma chapa com Daniel Vilela, Gustavo Mendanha (vice ou Senado) e Gracinha Caiado (Senado) é, sem dúvida, muito forte.

A história política de Mendanha conta pontos: foi prefeito de Aparecida de Goiânia por dois mandatos — pelo MDB — e foi candidato a governador. Além disso, é filho de um ícone político de Aparecida, Léo Mendanha. De novo, como se vê, a questão da família e a questão partidária.

Em Goiânia, para o pleito de 6 de outubro deste ano, daqui a seis meses, quem Ronaldo Caiado poderá apoiar: Ana Paula Rezende, Gustavo Gayer, Jânio Darrot ou Pedro Sales? Ainda não dá para saber. Mas o governador, sabendo da importância de Goiânia para o pleito de 2026, vai operar para tentar eleger um prefeito de sua base política.

Veja-se o caso específico de Ana Paula Rezende: pode ser que a candidata da base governista? É possível. Por qual motivo? Certamente porque Ronaldo Caiado percebe na filha de Iris Rezende, o maior ícone da história do MDB em Goiás, a possibilidade de eleger o prefeito — no caso, a prefeita — de Goiânia.

De novo, se percebe duas coisas: o legado familiar e o legado partidário. Iris Rezende foi prefeito de Goiânia por quatro mandatos — todos muito bem avaliados. Goste-se ou não do emedebista, mas ele era, de fato, um gestor altamente qualificado. Ana Paula Rezende, além de ser um nome novo, se absorver o legado do pai, na campanha, pode acabar sendo eleita. Talvez Ronaldo Caiado aposte na jovem advogada pelo que se disse nesta nota. Talvez — eis a palavra, o mot juste, de que falava Flaubert. (E.F.B.)