Os eleitores, se optarem pela omissão, por um motivo ou outro, depois não poderão reclamar dos prefeitos e vereadores eleitos em suas cidades

Toda eleição é a mesma cantilena: o eleitor está desanimado, o eleitor não quer votar — só vota por obrigação. Agora, por causa da pandemia e pelo fato de que o brasileiro parecia acreditar que a corrupção acabaria — na verdade, pode ser reduzida (assim como a impunidade), mas não vai acabar —, o eleitor parece ainda mais desanimado. Por isso, espera-se uma abstenção maior do que em eleições anteriores.

O que fazer? Incentivar a decepção do eleitor? Não. O que se deve sugerir ao eleitor que não há nenhuma possibilidade de se construir uma sociedade e indivíduos perfeitos. Falhas sempre existirão. Quando se tentou construir a sociedade ideal, com homens ideais, o fracasso foi retumbante — gerando sociedades autoritárias e indivíduos amedrontados. Não há nada melhor do que o aparente caos da democracia.

Eleitor se preparando para votar / Foto: Valdenir Rezende

Por mais que o eleitor se mostre decepcionado, dada a corrupção continuar — tanto que querem devastar a Operação Lava Jato —, os avanços são imensos. O “jeitinho” dos ricos cedeu, em parte, e o país se tornou mais institucional. A lei tem sido cumprida e está se tornando, de fato, para todos. Poderosos, como ex-presidentes da República e grandes empresários, acusados de furto ao Erário, foram levados às barras da Justiça e, em alguns casos, condenados e presos. Antes, integrantes venais das elites do país nem mesmo passavam nas portas das penitenciárias. Agora, eventualmente, têm de passar algum tempo por lá.

Se não há seres perfeitos, os puros da aldeia — vale lembrar o dito “se quer pureza não vá ao convento” —, o que o eleitor deve fazer? Não se tem a receita. Mas um caminho possível é avaliar bem os candidatos e escolher os melhores, aqueles que, apesar de tudo, têm um legado. Os políticos não são todos iguais. Há os que se esmeram em roubar o Erário e há os que trabalham o dinheiro do Erário para gerar benefícios para seus representados. Alguém duvida que a criação do Sistema Único de Saúde é um grande legado? O SUS é, por si, uma ação do Estado do Bem-Estar Social. Todos são atendidos, indistintamente, e sem remunerar diretamente o sistema (o financiamento se dá via pagamento de impostos, ou seja, indiretamente). A Bolsa Família é outra iniciativa de valor, assim como o Fundeb (que o PT aperfeiçoou a partir do Fundef do governo de Fernando Henrique Cardoso). Há políticas de Estado que beneficiam a sociedade e que, sim, foram criadas por políticos.

Portanto, nem tudo está perdido. O Jornal Opção postula que há candidatos melhores, mais experimentados na lida do setor público. Costuma-se dizer: “Feche os olhos e vote no menos ruim”. Mas nem sempre é assim. Na eleição de Goiânia deste ano, entre os experimentados, e os ditos novatos, alguns nem tão novatos, há postulantes de alta qualidade, de história limpa.

Portanto, daqui a 49 dias — um mês e 19 dias —, que o leitor vote com a consciência de que estará escolhendo aqueles que vão governar suas cidades nos próximos quatro anos. De alguma forma, votando ou deixando de votar, o eleitor é responsável pela vitória do candidato “a”, “b” ou “c”. Lembrando que os candidatos são os homens e mulheres possíveis do nosso tempo. Não há outros. Eles são, se olharmos bem, o nosso espelho.

Lembre-se: a omissão pode custar caro… As cidades podem ter quatro anos de desenvolvimento ou quatro anos de retrocesso.