Com Iris ou Maguito, o MDB tem chance de manter o poder em Goiânia

15 março 2020 às 00h00

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No momento, o único político que ameaça o reinado do emedebismo é o senador Vanderlan Cardoso
Política e eleições são momentos, circunstâncias. Se o prefeito de uma cidade estiver bem tende a ser reeleito ou a fazer o sucessor — segundo pesquisa do sociólogo Alberto Carlos Almeida, autor do livro “A Cabeça do Eleitor”. No momento, o prefeito de Goiânia, Iris Rezende Machado, do MDB, vai bem. Paga os funcionários públicos e os fornecedores em dia. A cidade, no geral, está limpa. E há obras, muitas obras, sendo inauguradas e a inaugurar. As eleições serão disputadas daqui a seis meses e 19 dias — em 4 de outubro — e o gestor municipal poderá ter um cartel de obras concluídas ainda maior. O eleitor tende a pensar assim: se o administrador está fazendo, se está trabalhando, por que não dá mais uma chance para ele? Ouve-se nas ruas e entre motoristas da Uber sempre a mesma coisa: “Iris não deixa a peteca cair”. Quer dizer: na média, é um “bom prefeito”. “Ele funciona”, dizem. “A cidade não vive em crise”, ponderam.

Hoje, portanto, Iris Rezende — que, por sinal, não usa gíria —, é o “cara”. Praticamente, hors concours. As pesquisas, que estão sendo feitas a rodo, mas não são divulgadas — porque os políticos preferem não registrá-las (e, assim, não podem ser divulgadas) —, indicam que o emedebista é o favorito. Ele está só — absolutamente só — na disputa. Com possibilidade de ganhar no primeiro turno? Talvez. O problema é a quantidade de candidatos — o que dificulta a vitória já na primeira etapa. Os partidos estão lançando candidatos por vários motivos. Primeiro, para marcar posição e serem considerados pelos eleitores. Segundo, porque os candidatos, no geral, se tornam mais conhecidos na capital — cidade que tem quase 1 milhão de eleitores — e, por isso, estarão mais cacifados para as eleições de deputado estadual e federal em 2022. Terceiro, os candidatos a prefeito, fortes ou não, podem favorecer a chapas de candidatos a vereador. Como se sabe, não há mais coligação proporcional e todos os partidos deverão lançar chapas completas e fechadas de candidatos a vereador. Se não tiverem um cabeça de chapa — o candidato a prefeito — podem chegar mais fracos à disputa.
Há uma circunstância em que Iris Rezende não aparece “só” — líder isolado. Quando o senador Vanderlan Cardoso é inserido nas pesquisas, há uma mudança repentina no humor dos eleitores. O líder do PSD tende a aparecer em segundo lugar — mas praticamente num empate técnico. Pode até não ganhar do prefeito, mas é, no momento, o postulante, se postulante for, que dará mais trabalho ao decano emedebista. O eleitor parece apontá-lo como o rival — até o único rival — do experimentado gestor municipal. Pesquisas qualitativas sugerem que não tem a ver com o fato de ser evangélico — Iris Rezende também é, embora não seja um militante da religião —, e sim com o fato de que é considerado administrador experiente. Tanto por ter sido prefeito de Senador Canedo — por quase oito anos — quanto pelo fato de ser um empresário bem-sucedido. O fato de ter vencido na iniciativa privada, antes de militar na política, é um ponto a seu favor — sugerem os eleitores.

Por que, se Vanderlan Cardoso é bem avaliado em Goiânia, ainda aparece atrás de Iris Rezende? A explicação correta talvez seja o fato de que, ao contrário do senador, o prefeito já tem um cartel de benefícios — muitos benefícios — aos goianienses. Se o líder do PSD ainda é uma incógnita, o líder do MDB já uma certeza. Ele “não deixa a peteca cair” — sublinhe-se. O que os eleitores goianienses mais temem é que, falando em nome do moderno, um político jovem não tenha, na prática, condições técnicas (além de maturidade) de gerir uma prefeitura como a de Goiânia — cujo orçamento é gigante. Poucas empresas brasileiras — e não só goianas — têm um orçamento como o da capital de Goiás. A cidade é uma espécie de Estado dentro do Estado de Goiás, como a capital de São Paulo, a cidade de São Paulo, é também um Estado dentro do Estado.

Vanderlan Cardoso quer mesmo disputar? Comenta-se que sim. Ele estaria avaliando que não perde nada se disputar. Como tem vocação executiva, e só tem 57 anos, acredita que, se fizer uma grande gestão na capital, se cacifa para a disputa do governo adiante — em 2026, por exemplo. O PSD, seu partido, já tem um pré-candidato a prefeito, o deputado federal Francisco Júnior. A rigor, está definido. Mas a aposta do partido é a seguinte: se ganhar apenas com Vanderlan Cardoso, o candidato será o senador. Se houver possibilidade de vencer com Francisco Júnior, aí o senador embarca na sua campanha — preservando-se para a disputa do governo de Goiás em 2022, quiçá com o apoio do MDB de Daniel Vilela (que iria a senador). O principal “general eleitoral” do PSD em Goiânia é Vanderlan Cardoso. Para si ou para Francisco Júnior.

Há um complicador para as oposições. O ex-governador e ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Maguito Vilela é uma espécie de reserva de luxo do MDB. Nas pesquisas, quando o nome de Iris Rezende é retirado, o emedebista aparece muito bem. Seu único adversário também é Vanderlan Cardoso (é preciso ressalvar que se está falando de um momento em que as candidaturas não estão postas de maneira ampla, definitivas, e por isso os eleitores têm dificuldade de avaliar os pré-candidatos — até porque nem conhecem a maioria deles. Na campanha, conhecendo os postulantes e suas ideias, podem mudar de posição).

Há duas versões predominantes. Primeira: Iris Rezende será candidato, porque quer terminar as obras e fechar a gestão com chave de ouro — o que só poderá ocorrer entre 2021 e 2024. Ou seja, num segundo mandato. Segunda: o prefeito bancará Maguito Vilela. Talvez seja relevante anotar que o governador Ronaldo Caiado, do DEM, não apoiará uma candidatura de Maguito Vilela, porque, em política, não se fortalece o adversário. Em 2022, o ex-deputado Daniel Vilela poderá disputar mandato de governador — contra Ronaldo Caiado — ou de senador, numa composição com Vanderlan Cardoso, que iria a governador, contra o presidente do partido Democratas. Há quem aposte que o quadro pode ser modificado e não descarte uma composição do vilelismo com Ronaldo Caiado. Firulas verbais? Talvez. É importante reter que Ronaldo Caiado quer apoiar a candidatura de Iris Rezende, inclusive com a possibilidade de lançar o seu vice. Não deixa ser sintomático que Iris Rezende tenha convocado para compor seu secretariado o ex-deputado estadual Samuel Belchior. Desde algum tempo, o jovem político é uma “ponte” entre Iris Rezende e Ronaldo Caiado. Na campanha de 2018, atuou como um dos principais coordenadores da campanha do líder do Democratas para governador. Maguito Vilela, por sinal, não indicou ninguém para o secretariado de Iris Rezende.

No momento, Goiânia é uma cidade “do” MDB — com Iris Rezende ou com Maguito Vilela. Pode deixar de ser com Vanderlan Cardoso? O eleitor está sugerindo que sim. Mas o capital do emedebismo é sólido na capital — com líderes consagrados e respeitados. Uma chapa com Iris Rezende para prefeito e com Maguito Vilela na sua vice tende a ser forte, com possibilidade de ganhar no primeiro turno? Não é impossível, sobretudo se Vanderlan Cardoso sair do páreo. A tendência é que um candidato emedebista — Iris Rezende ou Maguito Vilela — estará no segundo turno.

O quadro, insista-se, não está definido, até porque os candidatos ainda não foram lançados e a maioria não é conhecida. Estão no páreo, por exemplo, o deputado federal Francisco Júnior, do PSD, o deputado federal Elias Vaz, do PSB, a vereadora Dra. Cristina Lopes, do PL, a deputada estadual Adriana Accorsi, do PT, o deputado estadual Talles Barreto, do PSDB, o deputado estadual Major Araújo, o jornalista Nilson Gomes, do DEM, o deputado estadual Virmondes Cruvinel, do Cidadania. São nomes respeitáveis e, com uma boa campanha, podem convencer os eleitores de que são “melhores” para gerir Goiânia do que Iris Rezende, Maguito Vilela e Vanderlan Cardoso. É um truísmo: não se ganha eleição por antecipação. A eleição só é decidida na campanha, quando os eleitores começam, de fato, a avaliar todos os candidatos. Os favoritos de hoje podem não ser os escolhidos nas urnas.
