Gilmar Calasans Lima, diabético e hipertenso, teve uma parada cardiorrespiratória. Ele se automedicou

O presidente Jair Bolsonaro parece acreditar nos poderes milagrosos da hidroxicloroquina. A palavra cloroquina frequenta sua boca assim como AI-5 e ditadura frequenta a de alguns de seus aliados. Já o médico Gilmar Calasans Lima não se deu bem ao tomar hidroxicloroquina e, ao mesmo tempo, azitromicina. O profissional da saúde morreu, em Ilhéus, cidade da Bahia, aos 55 anos.

Numa sexta-feira, 10 de abril, Gilmar Calasans Lima começou a sentir dores de cabeça. Eram os primeiros sintomas da Covid-19. Na quinta-feira, 16, foi internado no Hospital Regional Costa do Cacau, em Ilhéus, município com mais de 160 mil habitantes. Ele trabalhava nesta unidade hospitalar. Depois da testagem, os médicos o liberaram e indicaram que fizesse a quarentena em sua casa. Ele recebeu o resultado do teste — positivo — no sábado, 18. Havia sido infectado pelo coronavírus.

Gilmar Calasans Lima: morte aos 55 anos | Foto: Facebook

Gilmar Calasans decidiu usar hidroxicloroquina e azitromicina. Nenhum médico que o assistiu lhe fez tal recomendação. Por ser médico, avaliou que estava se protegendo, garantindo a sua sobrevivência. Parentes informam que, inicialmente, o médico até melhorou — a febre e a falta de ar chegaram a ceder.

Na segunda-feira, 20, Gilmar Calasans voltou a passar mal. A família o internou e os médicos, ao perceber que sofrera uma parada cardiorrespiratória, tentaram reanimá-lo por 45 minuto. Mas sem resultados positivos. O repórter de João Pedro Pitombo, da “Folha de S. Paulo” (edição de terça-feira, 21), informa que o médico era hipertenso e diabético. Talvez um exame detalhado possa precisar a conexão entre o uso dos dois medicamentos e a parada cardiorrespiratória. Não há menção a isto, mas a possibilidade de uma tromboembolia tende a não ser remota.

O secretário da Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, sublinha que a utilização da hidroxicloroquina, somada à azitromicina, deve ser precedida “de avaliação cardiológica e realização de eletrocardiograma”. “É sabido que a cloroquina e a hidroxicloroquina podem levar a arritmias cardíacas graves potencialmente fatais”, frisa o médico.

Gilmar Calasans, segundo a “Folha”, “foi a 45º vítima da Covid-19 e o primeiro profissional de saúde a morrer da doença na Bahia”.

A Secretaria da Saúde autorizou que o SUS faça tratamento com hidroxicloroquina e azitromicina nos pacientes, mas, verificando antes, seu histórico e procedendo a exames e avaliação cardiológica. E, mais, só para pacientes que já estejam internados. Por ser médico, e na ânsia de se salvar, Gilmar Calasans medicou-se por conta própria, sem levar em conta seus problemas de saúde.