Caiado vai reformatar base para enfrentar Daniel Vilela e Vanderlan Cardoso em 2022

07 junho 2020 às 00h03

COMPARTILHAR
Ao reforçar sua base em Goiânia, Aparecida, Anápolis, Senador Canedo e Trindade, o governador sugere que tende a enfrentar os dois políticos e Jânio Darrot
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do partido Democratas, é um articulador político dos mais atentos. Como é muito focado na administração pública, poucos percebem suas articulações no interior, conversando com líderes locais e movimentando as peças do xadrez político.
Veja-se cinco cidades, como Anápolis, e, da Grande Goiânia, Aparecida de Goiânia, Senador Canedo, Trindade e Goiânia. A grande massa do eleitorado de Goiás está basicamente nestas cidades — incluindo, depois, Luziânia, Águas Lindas e Rio Verde. Ronaldo Caiado movimenta-se, direta ou indiretamente, em todas.
Goiânia: quase 1 milhão de eleitores
Em Goiânia, torce pela candidatura do aliado Iris Rezende, ainda que o prefeito esteja dizendo que, desta vez, não deve disputar. Se disputar, Ronaldo Caiado será o primeiro a subir no seu palanque — se houver palanque (por causa da pandemia do novo coronavírus). No entanto, como não tem certeza que o emedebista vai disputar — tem-se falado que o candidato será o ex-governador Maguito Vilela —, o governador não está paralisado. Ele articula em duas frentes. Primeiro, gostaria de lançar o popularíssimo deputado federal Zacharias Calil, de quem é amigo e aliado, para prefeito. Há pesquisas que sugerem que o democrata é altamente competitivo na capital e que pode surpreender até políticos experimentados — como Maguito Vilela, Vanderlan Cardoso e o próprio Iris Rezende. A pedra no caminho é que o médico tem dito que não pretende disputar, pois prefere se preparar para disputar mandato de senador em 2022. Segundo, na ausência de Zacharias Calil, pode bancar o empresário Wilder Morais, do PSC.
O que Ronaldo Caiado realmente quer? Quer manter e ampliar sua base política em Goiânia. Se ganhar, por exemplo com Zacharias Calil, criaria uma expectativa positiva, porque dificilmente governadores contribuem para eleger o prefeito da capital. Porém, mesmo se não ganhar, quer manter sua base aglutinada na principal cidade do Estado para a disputa de 2022.
O governador trabalha para que o vilelismo — Maguito e seu filho, Daniel Vilela — não reine na capital. Ao mesmo tempo, trabalha para não permitir o fortalecimento do PSD do senador Vanderlan Cardoso, outro político que pretende disputar o governo do Estado em 2022.
Anápolis: mais de 230 mil eleitores
Em Anápolis, Ronaldo Caiado banca o prefeito Roberto Naves (PP), que está em ascensão e pode surpreender Antônio Gomide — que, posicionando-se como “favorito”, pouco articula na cidade. O governador, até por ser do município, terá um peso decisivo no pleito local. O fato de o petista se apresentar como “adversário” e, até, “inimigo” do governador Ronaldo Caiado pode pesar contra ele na campanha. O prefeito também não aprecia o presidente Jair Messias Bolsonaro, que é forte na cidade. A imagem que Antônio Gomide passa é de que é adversário de todo mundo, e isto, certamente, o eleitor vai considerar na hora de decidir seu voto. Os dois próximos anos serão muito difíceis para o país e, também, para Anápolis. Quem conquistar mais apoio, como Roberto Naves, que terá o apoio na campanha tanto de Ronaldo Caiado quanto de Bolsonaro, pode ter mais condições de administrar. Anápolis, sem o apoio dos governos estadual e federal, tende a parar.
Por que o jogo em Anápolis é importante? Por dois motivos. Primeiro, trata-se da terceira cidade com mais eleitores de Goiás. Segundo, o governismo, ganhando o perdendo, ocupará o espaço político do PSDB na cidade. Hoje, o tucanato é um zero à esquerda no município.
Trindade: Jânio Darrot deve ser candidato a governador
Em Trindade, os médicos Doutor Antônio, do DEM, e George Morais, do PDT, representam a base de Caiado. Como não há segundo turno na cidade, a tendência é que o governador tente costurar uma aliança entre os dois. Porque o candidato (ou candidatos) bancado pelo prefeito Jânio Darrot (PSDB) pode até começar não largando bem, mas a tendência é que, durante a corrida e na reta final, vá para as cabeças, com chance de ganhar. Por isso, o governador tende a fazer um esforço para garantir uma candidatura única de sua base em Trindade. Comenta-se que George Morais, por ter problemas com a Justiça, pode não ser candidato. Aí o Doutor Antônio seria o postulante. Mas George Morais tem dito aos aliados que seus problemas judiciais foram superados e que poderá, sim, disputar a prefeitura. Se puder, talvez acabe se firmando como o candidato da base governista. A ressalva é que aliados do Doutor Antônio frisam que ele é, ao menos no momento, o favorito.
Por que jogar pesado em Trindade? Porque o candidato a governador pelo PSDB tende a sair do município. Deve ser o prefeito Jânio Darrot, presidente do partido.
Senador Canedo: base de Vanderlan Cardoso
Em Senador Canedo, Vanderlan Cardoso vai bancar Fernando Peloso para prefeito. A base do governador deve ir para a disputa com dois candidatos: o prefeito Divino Lemes (Podemos), apontado como favorito — seria o rei das campanhas —, e Reinaldo Alves dos Santos (DEM), presidente da Câmara Municipal. Como se sabe, Vanderlan Cardoso pretende disputar o governo em 2022, postando-se, desde já, como um dos principais adversários de Ronaldo Caiado. O governador, portanto, está jogando, com firmeza, na base do senador.
Aparecida de Goiânia: base dos Vilelas e mais de 300 mil eleitores
Aparecida de Goiânia é um problema para o governismo. Porque o prefeito Gustavo Mendanha, do MDB vilelista, está muito bem avaliado. Brincam, na cidade, que ganhará por W. O., quer dizer, mesmo que apareça outro candidato, a tendência é que Mendanha obtenha uma votação avassaladora.
Mesmo assim, Ronaldo Caiado articula um candidato para o município — o deputado federal Glaustin da Fokus (PSC). O parlamentar pode até não ser eleito, dado o favoritismo de Gustavo Mendanha, mas colocará o peso de um político com mandato federal na campanha. Mais: o governador estará dizendo, ao eleitorado, que tem um nome no município. Aparecida tem o segundo maior eleitorado de Goiás, ficando atrás apenas de Goiânia, e Caiado não ficará fora da cidade. Por isso, a decisão de bancar Glaustin da Fokus, que, embora pareça, não é nenhuma galinha morta. Ele tem forte apoio, por exemplo, entre os evangélicos, notadamente na Assembleia de Deus.
Ao próprio Glaustin da Fokus interessa disputar. Primeiro, porque coloca os “pés” numa cidade com um eleitorado gigante. Segundo, cresce no conceito de Ronaldo Caiado, pela coragem de disputar. Terceiro, se tornará mais conhecido do eleitorado na Grande Goiânia. Em política, dizia o experimentado Tancredo Neves, só perde quem não disputa.