Bolsonaro e Lula são favoritos, mas, eleitos, terão como “dobrar” o Congresso?

04 novembro 2017 às 10h39

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No caso de opção pela moderação, crescem as chances de Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles

Em 1989, na disputa pela Presidência da República, o Brasil dividiu-se entre Fernando Collor, do PRN, e Lula da Silva, do PT. Era a direita, bancada pelo empresariado e pela mídia — o Grupo Globo na linha de frente, apostando no Caçador de Marajás —, e a esquerda, que, na época, “assustava”. Depois de uma campanha sórdida, o “colorido” derrotou o petista e, em 1992, sofreu impeachment sob acusação de corrupção.
Vinte e oito anos depois, a história está se repetindo — não se sabe se como farsa ou tragédia, ou as duas coisas. O Fernando Collor da hora é o deputado federal Jair Bolsonaro e seu adversário é, mais uma vez, o indefectível Lula da Silva.
É provável que, no frigir dos ovos, o país faça opção por um candidato a presidente mais moderado — como Geraldo Alckmin, do PSDB, ou Henrique Meirelles, do PSD. Luciano Huck, apesar de agradar parte da mídia, notadamente à turma da Globo, não chega a ser “incrível”. É uma espécie de João Doria da televisão ou um Silvio Santos remoçado.
Porém, enquanto não se chega ao tempo do frigir dos ovos, o que se tem, segundo as pesquisas de intenção de votos, é uma competição entre um populista de direita, Jair Bolsonaro — um Fernando Collor sem a experiência de Fernando Collor (quando se elegeu presidente, já havia sido prefeito de Maceió e governador de Alagoas) —, e um populista de esquerda, Lula da Silva. Os dois se “puxam” e se “atraem”. São democratas, é certo, mas com matizes autoritários. Os políticos sabem que os extremos se tocam.
Sublinhe-se que, do ponto de vista dos eleitores — retirados os ideológicos, que são poucos, apesar de barulhentos —, não há qualquer interesse na discussão ideológica.
Lula da Silva vale, para a maioria dos que o apoiam, pelos programas sociais (o dito dos eleitores de Adhemar de Barros persiste “válido”: “rouba mas faz”) e pelo período de bonança (consumo farto) de seu governo. Num país no qual não há “identificação” entre políticos e povão, o petista destoa. Do ponto de vista do povão, ele é um dos “nossos”. “Gente como a gente.” É possível, até, que as pesquisas não estejam registrando com precisão o “voto” de Lula. Não há manipulação, mas o eleitor do petista, envergonhado ou constrangido, às vezes tem receio de se manifestar.
Jair Bolsonaro atrai o voto daqueles que rejeitam Lula da Silva e postulam que a ética é crucial na política. O eleitorado do deputado federal acredita na sua retidão moral. Não só. A pauta conservadora, em termos de comportamento — mais do que de receituário econômico —, agrada parte significativa dos eleitores. Os que apoiam o militar são aqueles que, tendo desistido de todos os políticos, acreditam que se trata da salvação da lavoura.
É provável que — mais do que Henrique Meirelles e Geraldo Alckmin — Lula da Silva e Jair Bolsonaro, qualquer um deles que for eleito, terá extrema dificuldade para governar, tal a (possível) resistência na Câmara dos Deputados e do Senado. Por mais que sejam diferentes, o petista e o militar têm “cheiro” de Fernando Collor e, sim, Dilma Rousseff.