Bolsonaro e Caiado precisam escapar das intrigas plantadas nos jornais pelas velhas raposas

14 abril 2024 às 00h00

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Há uma habilidosa operação em curso para intrigar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil).
Há, claro, o fato de que, embora esteja buscando o apoio de Bolsonaro para a disputa da Presidência da República em 2026 — contra o PT do presidente Lula da Silva —, Ronaldo Caiado é mesmo um político independente. Sempre foi. Por isso não aceita ser encabrestado. Há identidade ideológica entre os líderes do PL e do União Brasil. Ambos são de direita, sem tergiversações. Dotados de personalidades fortes, ambos não são controláveis nem manipuláveis (sobretudo o goiano, um ás da política).
Como gestor, Ronaldo Caiado, até por sua experiência e formação acadêmica, é um gestor mais consistente do que Bolsonaro (que é mais dotado para o jogo político do que para a administração).
Apontado como o governador mais popular do país, com 86% de aprovação, Ronaldo Caiado surpreende por vários motivos. Primeiro, resolveu a questão de segurança pública em Goiás. Segundo, o Estado é um dos que mais crescem, em termos de economia, no país. Terceiro, faz um governo apontado como decente pela sociedade.
O governo eficiente de Ronaldo Caiado começa a repercutir no país — o que começa a incomodar vários políticos, entre os quais algumas cabeças coroadas do PT de Lula da Silva.
Supersafra na lavoura das intrigas plantadas
Não há a menor dúvida de que o candidato apoiado por Bolsonaro e pelo bolsonarismo será o mais competitivo. Então, por realismo e identificação ideológica — ainda que esteja um passo adiante do bolsonarismo, em termos de modernidade —, Ronaldo Caiado procura o seu apoio.

Porém, digamos que, em 2026, saiam candidatos Lula da Silva, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (que pode trocar o Republicanos pelo PL) — quiçá o nome do bolsonarismo —, e Ronaldo Caiado. O que acontecerá? A tendência é de que a disputa vá para o segundo turno — entre o petista-chefe (ou seu candidato) e o postulante da direita.
Digamos que, durante os debates, Ronaldo Caiado saia melhor, mostrando um projeto mais abrangente de recuperação do país — em termo integral, não apenas na questão da economia —, há a possibilidade de Tarcísio de Freitas (que prefere disputar a reeleição) não enfrentar o postulante do lulopetismo? É possível. Tudo é possível.
Digamos, porém, que Tarcísio de Freitas vá para o segundo turno com Lula da Silva (ou seu candidato). Vai precisar, e muito, de Ronaldo Caiado e, também, do União Brasil. Porém, se bolsonarismo hostilizar o político goiano, antes e durante a campanha, pode não obter seu apoio para o governador de São Paulo.
Portanto, é possível sugerir que, se Ronaldo Caiado precisa de Bolsonaro, o bolsonarismo precisa do governador goiano. Vale lembrar que, em 2022, Bolsonaro perdeu a disputa eleitoral por pouco mais de 2 milhões de votos (como se sabe, Goiás tem mais de 4 milhões de eleitorais. Pouco, mas útil e vital). Sobretudo, Ronaldo Caiado não é adversário do bolsonarismo, assim como o bolsonarismo não deve perceber Ronaldo como adversário. O verdadeiro rival de ambos é o PT de Lula da Silva.
O que Bolsonaro parece não ter percebido — ou, se percebe, talvez seja a razão do ciúme — é que Ronaldo Caiado está robustecendo sua musculatura político-eleitoral em termos nacionais. A questão da segurança pública — negligenciada pelo governo do PT — está despertando a atenção dos brasileiros para o governador goiano.
Cabe insistir: Bolsonaro parece apreciar intrigas, algumas delas solertemente plantadas em jornais — como se fossem reportagens seriíssimas, quando, na verdade, é puramente a velha e hábil política das raposas —, mas ao menos precisa entender que não são produzidas a partir de Goiás.
Há um antídoto contra intrigas? Sim, há. Bolsonaro e Ronaldo Caiado devem estabelecer, cada vez mais, uma interlocução direta e franca. Escapar das intrigas é uma maneira — inteligente e produtiva — de fortalecer as direitas. Porque, divididas, podem perder, mais uma vez, para Lula da Silva — daqui a dois anos e cinco meses. “Um pulinho”, como se diz em Glicério (SP). (E.F.B.)