Bolsonaro busca apoio de Arthur Lira, réu na Operação Lava Jato por corrução passiva
23 abril 2020 às 10h33
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O presidente parece “condenar” tão-somente investigados pela Lava Jato que tem ligação com o PT e o DEM
O presidente Jair Bolsonaro acabou de inventar o “lavajatista do bem” — o deputado Arthur Lira. Por certo, os “lavajistas do mal” pertencem ao PT, MDB, DEM. Os do PP, se apoiarem o governo, são “corruptos bonzinhos”. Portanto, devem ser “perdoados”.
Bolsonaro decidiu bancar Arthur Lira para presidente da Câmara dos Deputados — com o objetivo de tentar derrotar o presidente Rodrigo Maia, do DEM. A Lava Jato fisgou um esquema milionário envolvendo a Petrobrás, que alguns tacharam, em tempos idos, de “Petropetista” e “Corruptobrás”. O Clube do Bilhão, composto de empreiteiros atentos, articulou um cartel para arrancar bilhões da rainha do petróleo. A Petrobrás era pública no papel e privada na prática.
Robson Bonin, editor da coluna “Radar”, da revista “Veja”, registra: “Uma das “agências” de distribuição da propina paga pelas empreiteiras, revelou ‘Veja’ em maio de 2014, funcionava no escritório do doleiro Alberto Youssef. Quando prendeu o operador e passou a seguir a trilha de suas operações, a Polícia Federal descobriu nos registros da portaria do prédio onde o doleiro operava os pagamentos uma lista de políticos ilustres, a maioria do PP”.
Alberto Youssef era o operador financeiro do PP. Sua delação premiada é reveladora de um esquema poderoso. Mas agora Bolsonaro, que ataca políticos corruptos, aproximou-se do centrão. Não se importando se alguns de seus membros foram investigados e denunciados pela Lava Jato. Vídeo divulgado pela “Veja” mostra Arthur Lira no prédio onde Alberto Yousseff operava as negociatas. Segundo a revista, “réu na Lava-Jato por corrupção passiva, Lira nega conhecer Youssef e afirma ter ido ao prédio onde fica seu escritório em 2010, quando ainda não era parlamentar, para uma outra reunião”.
Bolsonaro, depois de ser um negacionista da ciência, estaria se tornando um negacionista da corrupção, sobretudo se aliados estão envolvidos?
Acossado pela Justiça e pela ex-mulher
A ex-mulher de Arthur Lira, Jullyene Lins, contou à “Veja” (numa reportagem anterior) que, desde que era deputado estadual, ele recebia dinheiro em malotes. “Ele fez muitos rolos. Começou na Assembleia Legislativa. Nessa época, o dinheiro chegava lá em casa em malotes. De onde vem essa certeza? Eu contava, eu conferia, eu lacrava. Eu distribuía para vereadores quando era na campanha. Ele mandava: ‘Faça tantos envelopes de tanto, de tal valor’. Chegava malote com R$ 30 mil, R$ 500 mil e até R$ 1 milhão. Notas de 50 e de 100”, relata.
Jullyene Lins afirma que Arthur Lira adquiria imóveis e carros e fazia aplicações financeira. “Depois, no governo do PT, já como deputado federal, ele conseguia muitas verbas do Ministério da Saúde para Alagoas e ficava com uma porcentagem. Tudo começou com desvios na Assembleia Legislativa, passou pela Lava Jato e não parou até hoje”, sustenta.