Daniel Vilela mostrou força política ao obter o apoio de 27 dos 28 prefeitos do MDB para uma aliança com o governador de Goiás na disputa de 2022

A grande notícia política da semana passada foi a reunião dos 27 prefeitos do MDB para hipotecar apoio a uma possível aliança com o governador Ronaldo Caiado, do partido Democratas. O partido, na verdade, tem 28 prefeitos. Um dos mais ligados ao presidente do MDB, o de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, não compareceu. A um aliado de Daniel Vilela, o gestor do segundo município com mais eleitores de Goiás, disse que não foi convidado. “Talvez não tenha sido convidado, se realmente não foi, porque tem dado declarações de que é contra a aliança”, afirma um emedebista.

A ausência de Mendanha, embora tenha sido considerada estranha — porque Daniel Vilela o considera como um aliado-irmão —, não desmerece o principal: a maioria dos emedebistas de Goiás quer uma aliança com Ronaldo Caiado, tal como ocorreu em 2014, quando o hoje governador apoiou Iris Rezende, um ícone do MDB, para governador. O partido definiu que seu principal adversário no Estado não é o líder do DEM, mas aqueles que se reúnem em torno de Marconi Perillo — que, durante 20 anos, massacrou os emedebistas, pressionando prefeitos do partido a aderirem, senão não receberiam recursos. “Quem do MDB hoje compõe com Marconi Perillo sofre do que os psicólogos e psiquiatras costumam chamar de Síndrome de Estocolmo”, afirma um deputado emedebista.

Os prefeitos do MDB defendem a tese de que Daniel Vilela, no caso de composição, deve ser o vice de Ronaldo Caiado na disputa de 2022. Será possível? A base do governo avalia que sim, mas não se pode desconsiderar que há resistência de políticos como os prefeitos de Catalão, Adib Elias (Podemos), e de Rio Verde, Paulo do Vale (Democratas), e do ex-prefeito de Goianésia Renato de Castro. A maioria dos deputados da base governista prefere o presidente da Assembleia Legislativa, Lissauer Vieira (PSB), na vice. O governador também o aprecia, porque se revelou um articulador político de grande habilidade e, por isso, contribuiu para ampliar a governabilidade. “Lissauer sozinho é quase um partido político na Assembleia”, admite um secretário do governo estadual. Um dos drummonds no caminho de Lissauer Vieira é que não tem um partido forte a alavancá-lo — com tempo de televisão e recursos do Fundo Eleitoral. Ele tende a trocar o PSB por outro partido, mas chegará como tenente, não como general, na nova legenda.

Ronaldo Caiado, governador de Goiás, e Daniel Vilela, presidente do MDB: novos rumos para a política do Estado | Foto: Reprodução

Daniel Vilela quer ser vice? É provável (na vice, poderá articular uma chapa forte para deputado federal. A cúpula nacional tem cobrado que o presidente do MDB envie parlamentares para Brasília). Há quem avalie que pode ser candidato a senador. Mas, para o Senado, há outros nomes postulando — Henrique Meirelles, do PSD, Alexandre Baldy, do Progressistas, e João Campos, do Republicanos. Talvez seja possível sugerir que o Republicanos está praticamente fechado com Ronaldo Caiado. O prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, e o deputado estadual Jefferson Rodrigues — que deve ser candidato a deputado federal — estão cada vez mais ligados ao governador. João Campos também mantém interlocução positiva com o gestor estadual. Há quem fale, inclusive, que vai indicar um aliado para uma importante secretaria do governo. Há quem aposte que Baldy, político de proa, pode aceitar, depois de conversas intensas, a suplência de um Meirelles. Não é o que ele diz, claro. O ex-ministro frisa que será candidato a senador — na chapa que o aceitar (seus aliados afirmam que tem mais serviços prestados a Goiás do que Meirelles). Ele tem o controle absoluto dos 36 prefeitos do partido? Talvez não tenha. É uma das pedras no seu caminho. Uma adesão sua a um adversário de Ronaldo Caiado pode resultar num esvaziamento do Progressistas.

Ao se aproximar do governador Ronaldo Caiado, o MDB não exigiu cargos. Comportou-se de maneira republicana — o que teria agradado Ronaldo Caiado. De qualquer modo, quando a aliança estiver formalizada, o MDB certamente terá de uma a duas secretarias. Fala-se, até, que, feita a composição, a reforma da equipe do governador finalmente sairá do papel.

Os articuladores políticos da base governista sugerem que, com a aliança com o MDB — que está instalado nos 246 municípios de Goiás, com força em grandes cidades, como Jataí (prefeito Humberto Machado) e Mineiros (prefeito Aleomar Rezende), dois dos municípios mais ricos do Sudoeste goiano —, a tendência é que Ronaldo Caiado seja reeleito no primeiro turno.

Acredita-se que Mendanha, aos poucos, vai reacoplar-se ao MDB de Daniel Vilela — dada a aliança histórica entre eles. Porém, se Mendanha optar por seguir Marconi Perillo, disputando o governo pelo PSDB — ele teria sido rejeitado pelo PSD e pelo Republicanos —, ou pelo PSL do deputado federal Delegado Waldir Soares, e se Daniel Vilela estiver na vice de Ronaldo Caiado, o prefeito perderá parte de seu discurso. O que se pode cristalizar é a tese de que, primeiro, “traiu” quem sempre o apoiou, Daniel Vilela, e, segundo, que pretende “restaurar” a imagem de um adversário histórico do emedebismo, Marconi Perillo. Mendanha poderá entrar “elefante” e sair “formiga” da disputa eleitoral.

A rigor, Mendanha está numa encruzilhada: ou ajuda Daniel Vilela — e, sim, ele tem peso político — ou então ajuda um “ex-adversário”, Marconi Perillo.