Há quem propunha que, para romper o sistema chamado carlessismo, é preciso unir as oposições. Eduardo Gomes tem um pé na oposição mas é aliado de Mauro Carlesse

As eleições para governador serão disputadas daqui a um ano e três meses. Parece muito, mas não é. Como dizem os políticos, é um “pulinho”.

No Tocantins, com o quadro inteiramente aberto — não há, até o momento, um candidato “natural”, daqueles tidos como incontornáveis —, há cinco políticos com chances de disputar o pleito e, igualmente, ganhá-lo, citados, a seguir, em ordem alfabética: Ataídes Oliveira (nascido em Estrela do Norte-GO, de 61 anos), Eduardo Gomes (nascido em Sergipe, de 55 anos), Irajá Silvestre Filho (nascido em Goiânia, de 38 anos), Ronaldo Dimas (nascido em Frutal-MG, de 60 anos) e Wanderlei Barbosa (nascido em Porto Nacional, de 57 anos).

Pode-se sugerir que, embora dois postulantes tenham 60 e 61 anos, Ronaldo Dimas e Ataídes Oliveira, pleiteiam o governo políticos ainda relativamente jovens.

No momento, todos os citados estão jogando, colocando seus nomes para a disputa — uns mais, outros menos (Irajá Abreu). Os times ainda não entraram em campo. Estão, na verdade, contratando “jogadores” — os possíveis candidatos a deputado estadual e federal — para, em seguida, entrarem no “gramado”. Só que quem não começar a se mexer agora, reforçando o time, com atacantes, meio-campo e zagueiros de primeira linha, corre o risco de ser goleado em outubro de 2022. Aliás, aqueles que deixarem para articular em 2022, acreditando não se sabe em que, poderão não ser candidatos. A campanha eleitoral é curta, então é preciso fortalecer o nome, torná-lo mais conhecido e consolidado, já na pré-campanha — que, a rigor, já começou.

Se não há nomes “definidíssimos” — há pelo menos dois políticos mais bem-posicionados: Ataídes Oliveira e Wanderlei Barbosa.

Ataídes Oliveira

Ataídes Oliveira, ex-senador, é a figura mais emblemática do Pros no Tocantins. É o político mais crítico do “sistema” conhecido como carlessismo — ou seja, para os aliados, tudo; para os adversários, a lei e a perseguição. Se eleito, certamente abrirá a “caixa-preta” do governo de Mauro Carlesse, do PSL.

Como não controla nenhuma estrutura de poder — não pode, exemplo, sair distribuindo “recursos” para os aliados e para os quase-aliados —, Ataídes Oliveira teve uma ideia notável. Ele publicou um livro, sugerindo como a atuação de um vereador pode ser mais eficaz para seu mandato e para o município que representa, e está distribuindo exemplares em todo o Estado. Aonde chega, o ex-senador é bem-recebido e chama a atenção; curiosamente, não apenas dos vereadores.

O desafio de Ataídes Oliveira é se constituir como principal nome de oposição ao “reinado” de Mauro Carlesse. Os eleitores precisam perceber no ex-senador o elemento que pode acabar com o sistema coronelístico — cercado de privilégios para os apaniguados — se for eleito para o governo em 2022. Coragem para desafiar o coro dos contentes, o ex-senador tem de sobra. Falta-lhe, porém, formatar uma frente política para enfrentar o carlessismo, que, como se disse, é um sistema sem limites. Não é à toa que o governador do Tocantins está sendo convocado para depor na CPI da Covid-500 mil. Sabe-se que as máscaras mais caras do país foram adquiridas por Mauro Carlesse. Apesar das desculpas de praxe, é preciso admitir um fato: houve superfaturamento na compra das máscaras. Não dá para justificar, com as melhores desculpas possíveis, que uma máscara que custa 4 reais tenha sido adquirida por quase 40 reais. Há algo de podre, e não é no Reino da Dinamarca.

Wanderlei Barbosa

Outro nome mais ou menos definido é o do vice-governador Wanderlei Barbosa.

Se Carlesse deixar o governo no dia 4 de abril de 2022, Barbosa assumirá o governo e, aí sim, se tornará candidato natural à reeleição. Porque, com a estrutura de poder nas mãos — podendo “agradar” prefeitos, candidatos a deputado e lideranças políticas —, acabará por ser um postulante consistente.

Resta saber qual vai ser o comportamento de Carlesse. Para disputar mandato de deputado (o mais certo) ou senador (o mais incerto), o governador, estando na planície, vai precisar da estrutura de poder enfeixada nas mãos de Barbosa. Daí terá de apoiá-lo.

Há um drummond no meio do caminho: o principal aliado político de Carlesse não é, porém, Barbosa, e sim o senador Eduardo Gomes (MDB).

Se Eduardo Gomes “trair” o pré-candidato a governador pelo Podemos, Ronaldo Dimas, e postular o governo, não há a menor dúvida de que terá o apoio de Carlesse. Mas há outra pedra no caminho.

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Ronaldo Dimas e Eduardo Gomes

Se Eduardo Gomes disputar o governo, a tendência é que Ronaldo Dimas seja candidato a senador — o que, por certo, vai contrariar Carlesse. O que o governador planeja — sim, planeja — é outra chapa: Eduardo Gomes para governador, Ronaldo Dimas (de quem não gosta) para vice e ele próprio, Carlesse, para senador. Claro, são quimeras, mas não se faz política sem algum grau de fantasia e delírio.

O Jornal Opção acompanha, diariamente, as redes sociais dos principais políticos do Tocantins. A conclusão, das anotações das duas últimas semanas, é que Ronaldo Dimas está em campo, não para disputar a vice ou uma vaga no Senado. Ele articula, ouvindo prefeitos, vereadores (inclusive a presidente da Câmara Municipal de Palmas), segmentos organizados da sociedade, para disputar o governo. O jornal recebe dezenas de e-mails e mensagens oriundas do Tocantins — a maioria pedindo anonimato da fonte e informando que se teme perseguição do governo de Carlesse, que trata os adversários como “inimigos” — e há o consenso de que Ronaldo Dimas é um político tão “competente” quanto “decente” e que, por isso, representaria uma renovação dos métodos políticos e administrativos do Tocantins (o mesmo se diz de Ataídes Oliveira).

Ainda que ligado a Eduardo Gomes, Ronaldo Dimas não pertence ao sistema forjado pelo carlessismo. Quanto a este sistema, é um outsider — assim como Ataídes Oliveira. Já Eduardo Gomes é um membro proativo do carlessismo. Há até quem acredite que é o chefe (capo) político de Carlesse.

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Irajá Abreu

Irajá Silvestre Filho, conhecido apenas por Irajá (ou Irajá Abreu), é senador e, pela idade, possivelmente representa o futuro político do Tocantins. Como seu mandato vai até 2026, se disputar mandato de governador em 2022, nada perderá — continuará em Brasília por mais quatro anos.

Por que Irajá se lançaria candidato a governador? Porque sua mãe, a senadora Kátia Abreu — uma força da natureza — deve ser candidata à reeleição. Sem um candidato a governador, inclusive para atrair candidatos a deputado estadual e federal, a postulação da senadora ficará mais frágil. Com uma chapa completa, ela terá mais força. Este é o motivo pelo qual Irajá pode ser candidato ao governo. No momento, porém, ele tem dito a aliados que o projeto não passa por sua cabeça. Mas também não está fora de seu horizonte político.

Comenta-se também que o ex-deputado federal Laurez Moreira pode disputar mandato de governador. Duas fontes, porém, discordam e sugerem que está colocando seu nome para se cacifar para deputado federal e, mesmo, deputado estadual. “Falta-lhe estrutura política”, sugere um deputado.

O parlamentar diz que as disputas político-eleitorais no Tocantins são guerras de estrutura. “Ganha aquele que consegue fazer sua estrutura funcionar de maneira total, jogando sem limites. Candidato sem estrutura política, mesmo que tenha estrutura financeira, tem imensa dificuldade de se eleger governador no Tocantins. Veja o Carlesse: é um político limitado, seu português é um verdadeiro patuá, mas é um hábil montador de estrutura política. Por isso ganha eleição.”

Finalmente, segundo um ex-deputado, ainda influente, “o melhor caminho para derrotar o carlessismo é unir as oposições e lançar um candidato único. Há um mandonismo político no Tocantins que só pode ser barrado com a união das forças do e de bem. Mas veja só: Eduardo Gomes, que poderia ser um nome da oposição — inclusive tem o apreço do deputado federal Vicentinho Júnior —, é carlessista. A situação é mais complicada do que parece. O carlessismo está infiltrado nos, digamos, ‘poros’ da política e da sociedade do Tocantins, que se tornou uma República do Favor, do clientelismo”.