Formalmente, o tucano não pode apoiar Lula no primeiro turno. Então pôs Eliton no PSB, um pé do PSDB, para apoiar o petista

O colunista de um jornal de Goiânia parece acreditar que o ex-governador José Eliton, por ter se filiado ao PSB, opera sem orientação do ex-governador Marconi Perillo (PSDB). Trata-se de um engano de interpretação, de uma perspectiva equivocada, que não examina o jogo político para além de declarações (o jornalismo está se transformando, por vezes, em mera datilografia, ou seja, a transcrição de falas, sem que se perceba o jogo dos bastidores, dos fatos que não aparecem à superfície).

Na verdade, Perillo é o chefe político de Eliton, estando ele no PSB ou em outro partido. São irmãos siameses inseparáveis. Como se sabe, Eliton é um político de direita —tendo pertencido ao PFL-Democratas — e o PSB é um partido de centro-esquerda. Mesmo assim, convencido por Perillo, decidiu se filiar ao partido conduzido em Goiás pelo deputado federal Elias Vaz, de esquerda.

José Eliton e Marconi Perillo: os dois estão jogando com Lula da Silva; um, diretamente; o outro, indiretamente | Foto: Reprodução

De acordo com aliados, Perillo gostaria de operar duas chapas em Goiás, com a finalidade de tentar impedir uma vitória do governador Ronaldo Caiado, do União Brasil, já no primeiro turno. Uma chapa com o PT de Rubens Otoni e Adriana Accorsi, numa composição com o PSB de Elias Vaz e Eliton, e outra chapa com Gustavo Mendanha, o pré-candidato do Patriota a governador. Porém, na segunda hipótese, há uma montanha no meio do caminho: o presidente do Patriota, o empresário e marqueteiro Jorcelino Braga. Na sexta-feira, 15, o Jornal Opção enviou o seguinte questionamento: “Voltou a conversa de que Mendanha fechará uma aliança com Marconi Perillo no primeiro turno. O que tem de fato e de fake nesta história recorrente?” Braga respondeu, e rapidamente: “Este assunto é totalmente fake”.

Qual é o problema de Perillo com o PT? Nenhum. Ou melhor, há um problema, mas não é com o petismo, e sim com João Doria, o pré-candidato do PSDB a presidente. Aliados do ex-governador de São Paulo alardeiam que, quando Perillo estava “desprotegido”, ele conseguiu um emprego de consultor na CSN, empresa dirigida por Benjamin Steinbruch, com retirada mensal de 100 mil a 150 mil reais (haveria “cláusula de sucesso”, daí as diferenças dos números). Mesmo assim, o tucano goiano não tem entusiasmo algum pelo tucano de São Paulo. Pelo contrário, nos últimos meses, tem conversado mais com Lula da Silva do que com Doria.

Marconi Perillo e Lula da Silva: cada vez mais próximos | Reprodução

No fundo, Perillo quer apoiar Lula da Silva no primeiro turno. Entretanto, com Doria na jogada, formalmente tem de ficar com o pré-candidato do partido a presidente. Na prática, a realidade tende ser outra: o tucano paulista será “cristianizado” pelo político goiano, que apoiará Lula da Silva, ainda que informalmente. A “colocação” de Eliton no PSB foi um recado para o petista-chefe de que já o está apoiando para o primeiro turno, e não indiretamente. Ou seja, Eliton “é” Marconi. Quem acredita em autonomia de Eliton certamente também crê que o Curupira, ante a crise política do Estado, vai ser candidato a governador do Rio de Janeiro.

Resta a pergunta: Perillo pode ser candidato a governador com o apoio de Lula da Silva? O petista-chefe avalia que uma chapa com Perillo para governador fica mais encorpada e garante apoio à sua candidatura a presidente em todo o Estado. Mas o tucano goiano quer realmente disputar o governo? De fato, ele aprecia mais o Executivo, governar, do que atuação em Brasília, seja no Senado, seja na Câmara dos Deputados. Porém, como sua rejeição ainda é alta — portanto, é um limitador para voos mais amplos, isto é, para a disputa do governo ou do Senado —, há inclusive a possibilidade de o tucano-chefe disputar mandato de deputado federal, o que agradaria tanto Helio de Sousa e Lêda Borges, que, sem um puxador de voto para “carregá-los”, correm o risco de não se elegerem para deputado federal.

Perillo ainda não definiu seu projeto, e só o fará entre junho e julho, porque quer verificar sua rejeição. Se cair um pouco mais — no momento, é um problema intransponível —, pode aventurar-se numa disputa majoritária (governo ou Senado). Se não, por ser um político racionalista, de rara frieza, pode se contentar com a possiblidade de ser um puxador de votos para si e para Helio de Sousa e Lêda Borges.