Aliança de Eliton com o PT é jogo de Marconi para enganar João Doria
17 abril 2022 às 00h01
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Formalmente, o tucano não pode apoiar Lula no primeiro turno. Então pôs Eliton no PSB, um pé do PSDB, para apoiar o petista
O colunista de um jornal de Goiânia parece acreditar que o ex-governador José Eliton, por ter se filiado ao PSB, opera sem orientação do ex-governador Marconi Perillo (PSDB). Trata-se de um engano de interpretação, de uma perspectiva equivocada, que não examina o jogo político para além de declarações (o jornalismo está se transformando, por vezes, em mera datilografia, ou seja, a transcrição de falas, sem que se perceba o jogo dos bastidores, dos fatos que não aparecem à superfície).
Na verdade, Perillo é o chefe político de Eliton, estando ele no PSB ou em outro partido. São irmãos siameses inseparáveis. Como se sabe, Eliton é um político de direita —tendo pertencido ao PFL-Democratas — e o PSB é um partido de centro-esquerda. Mesmo assim, convencido por Perillo, decidiu se filiar ao partido conduzido em Goiás pelo deputado federal Elias Vaz, de esquerda.
De acordo com aliados, Perillo gostaria de operar duas chapas em Goiás, com a finalidade de tentar impedir uma vitória do governador Ronaldo Caiado, do União Brasil, já no primeiro turno. Uma chapa com o PT de Rubens Otoni e Adriana Accorsi, numa composição com o PSB de Elias Vaz e Eliton, e outra chapa com Gustavo Mendanha, o pré-candidato do Patriota a governador. Porém, na segunda hipótese, há uma montanha no meio do caminho: o presidente do Patriota, o empresário e marqueteiro Jorcelino Braga. Na sexta-feira, 15, o Jornal Opção enviou o seguinte questionamento: “Voltou a conversa de que Mendanha fechará uma aliança com Marconi Perillo no primeiro turno. O que tem de fato e de fake nesta história recorrente?” Braga respondeu, e rapidamente: “Este assunto é totalmente fake”.
Qual é o problema de Perillo com o PT? Nenhum. Ou melhor, há um problema, mas não é com o petismo, e sim com João Doria, o pré-candidato do PSDB a presidente. Aliados do ex-governador de São Paulo alardeiam que, quando Perillo estava “desprotegido”, ele conseguiu um emprego de consultor na CSN, empresa dirigida por Benjamin Steinbruch, com retirada mensal de 100 mil a 150 mil reais (haveria “cláusula de sucesso”, daí as diferenças dos números). Mesmo assim, o tucano goiano não tem entusiasmo algum pelo tucano de São Paulo. Pelo contrário, nos últimos meses, tem conversado mais com Lula da Silva do que com Doria.
No fundo, Perillo quer apoiar Lula da Silva no primeiro turno. Entretanto, com Doria na jogada, formalmente tem de ficar com o pré-candidato do partido a presidente. Na prática, a realidade tende ser outra: o tucano paulista será “cristianizado” pelo político goiano, que apoiará Lula da Silva, ainda que informalmente. A “colocação” de Eliton no PSB foi um recado para o petista-chefe de que já o está apoiando para o primeiro turno, e não indiretamente. Ou seja, Eliton “é” Marconi. Quem acredita em autonomia de Eliton certamente também crê que o Curupira, ante a crise política do Estado, vai ser candidato a governador do Rio de Janeiro.
Resta a pergunta: Perillo pode ser candidato a governador com o apoio de Lula da Silva? O petista-chefe avalia que uma chapa com Perillo para governador fica mais encorpada e garante apoio à sua candidatura a presidente em todo o Estado. Mas o tucano goiano quer realmente disputar o governo? De fato, ele aprecia mais o Executivo, governar, do que atuação em Brasília, seja no Senado, seja na Câmara dos Deputados. Porém, como sua rejeição ainda é alta — portanto, é um limitador para voos mais amplos, isto é, para a disputa do governo ou do Senado —, há inclusive a possibilidade de o tucano-chefe disputar mandato de deputado federal, o que agradaria tanto Helio de Sousa e Lêda Borges, que, sem um puxador de voto para “carregá-los”, correm o risco de não se elegerem para deputado federal.
Perillo ainda não definiu seu projeto, e só o fará entre junho e julho, porque quer verificar sua rejeição. Se cair um pouco mais — no momento, é um problema intransponível —, pode aventurar-se numa disputa majoritária (governo ou Senado). Se não, por ser um político racionalista, de rara frieza, pode se contentar com a possiblidade de ser um puxador de votos para si e para Helio de Sousa e Lêda Borges.