Depois de a dupla protagonizar o “momento saia justa” na entrega da Comenda Anhanguera – a maior honraria que concede o Estado de Goiás –, ficou no ar a pergunta: as eleições de 2024 podem ter um outro encontro entre Adriana Accorsi (PT) e Gustavo Gayer (PL), desta vez nas urnas do 2º turno?

Gayer já está praticamente definido como o nome bolsonarista na disputa municipal de Goiânia. Tem apoio direto do líder da extrema direita, o ex-presidente Jair Bolsonaro, também seu correligionário e alguém com quem toma sorvete e caldo de cana e que está cada vez mais frequentador das rodas goianienses.

Na votação para a Câmara dos Deputados, o professor youtuber só não foi o recordista porque houve outro fenômeno eleitoral: a apresentadora de TV Silvye Alves (UB), candidata que o governador Ronaldo Caiado tomou para si como sua pupila. Em tempo: a deputada se tornou desafeto de Gustavo Gayer, após ser exposta por ele em seu voto favorável à MP dos Ministérios, que proporcionou a reforma do primeiro escalão do governo federal.

Grande parte dos votos de Gayer foi obtida na Grande Goiânia. Tem ele, portanto, um eleitorado cativo na capital. Mas que o deputado não se engane, porém: disputas majoritárias são “outro jogo”. Exemplos de fenômenos eleitorais para o Congresso que não se deram bem nas eleições para governos são vários. Dois deles foram o ex-senador Demóstenes Torres, em 2006, e o ex-deputado federal Delegado Waldir, em 2016. Ambos eram populares, mas não a ponto de ter uma base estruturada para alcançar, da forma devida, uma metrópole como Goiânia (caso de Waldir) ou uma campanha para 246 municípios (caso de Demóstenes).

Gayer possui a vantagem de ter apoio de Bolsonaro em um Estado bolsonarista. Mas a capital é menos “agro” do que o interior goiano, apesar de a direita ainda assim ser hegemônica. Outro fator a pesar na balança é que a campanha de fato só se iniciará daqui a um ano e, até lá, o prestígio do ex-presidente vai ter mudado de patamar, para mais ou para menos.

Já Adriana Accorsi tem um fator pesando ao mesmo tempo a favor e contra: se topar ser a candidata do PT, será a terceira eleição seguida concorrendo à Prefeitura de Goiânia. Caso não ganhe, a fama de “perdedora” vira uma nódoa; por outro lado, é também um dado que seu nome é disparadamente o mais lembrado na centro-esquerda, justamente pelas candidaturas precedentes, além do fato de a persona da deputada ser associada ao pai, Darci Accorsi, e ser assimilável como alguém de bom trato, nada radical.

Outra questão importante a se ressaltar para uma eventual candidatura da delegada ao Executivo goianiense estará numa conjuntura nacional favorável. Em um governo Lula “bem das pernas”, com os índices macroeconômicos positivos, as eleições municipais serão diretamente afetadas pelo cenário. Em Goiás, isso ocorrerá notadamente onde o PT tem mais estrutura e força, que são as grandes cidades.

Na prática, entretanto, a teoria é outra. Um segundo turno em Goiânia que tenha o duelo entre a esquerdista moderada como Adriana, e um radical da direita, porém, é improvável. Por dois outros atores políticos: o prefeito Rogério Cruz (Republicanos), que necessariamente terá destaque no processo, seja como candidato à reeleição ou como apoiador de um terceiro postulante; e o governador Ronaldo Caiado (UB), cuja “bênção” significa também, além do peso da máquina, o aporte de toda a base governista em um escolhido. A questão é que o “abençoado”, por questão ideológica, não deve ser nem Adriana nem Gayer.

Um dos dois, porém, se estiver em cenário favorável, tem, sim, chance de ir ao segundo turno – Adriana Accorsi mais do que Gustavo Gayer.